Artigo repara dois
erros históricos repetidos a exaustão pelos pesquisadores potiguares: o tio é o
pai e ‘player’ não participa da primeira conquista oficial do clube alvirrubro
da capital
José Vanilson Julião
Ao contrário do que é alardeado o jogador Nilo Murtinho Braga (3/4/1903
– 5/2/75) é filho e não sobrinho do capitão de Corveta Emanuel Gomes Braga,
comandante da Capitania dos Portos em Natal entre 17/4/1915 e 2/10/1918.
Após sair do Rio Grande do Norte e de transferência em transferência o
oficial da Marinha de Guerra chega a comandante da flotilha do Amazonas
(1925).
Um dos sucessores na capitania é Antonio
Augusto Monteiro Chaves (1921 a 1922), outra figurinha
carimbada na história do futebol potiguar.
Gomes Braga está na lista dos 90
comandantes da Força de Submarinos até hoje, cujo posto ocupou como capitão de
mar e guerra, sendo o 17º no cargo (22/1/27 – 17/2/28).
A mãe, Madalena, era filha do senador por três mandatos e ministro da
Fazenda (1898/1902), o engenheiro civil Joaquim Duarte Murtinho (Cuiabá/MT,
7/12/1848 – 18/11/1911). Que, por sua vez, era filho do coronel-médico do
Exército, o baiano José Murtinho.
O único tio paterno, o engenheiro agrônomo Frederico Murtinho Braga,
esteve em Belém do Pará no primeiro qüinqüênio dos anos 20, portanto bem depois
que o irmão deixou o RN. Foi lá que conheceu a esposa, mãe da atriz Rosa Maria
Pereira Murtinho (24/10/35).
Pelo
período que o genitor permanece no Estado é certo que Nilo participa do
primeiro jogo oficial entre o América e o ABC (15/9/1918), com vitória
alvirrubra (3 x 0) e gols de Arnaldo, dele e Pinheiro (contra).
A
partida valeu pelo primeiro campeonato citadino, pelo qual o elenco americano ainda
perdeu para o Centro Esportivo Natalense (0 x 3).
A
competição, encerrada prematuramente devido à epidemia mundial da gripe
espanhola (Influenza), era liderada pelo CEN – que raros pesquisadores o
reconhecem como campeão de fato e de direito – tinha esta formação base: Nicolau, J. Carneiro, Souza, Albuquerque,
Agripino, Ricardo, Oliveira, Gentil, Sérgio, Leite e Nobre.
A depender
desta controversa situação o centenário da primeira competição oficial deveria
ter sido lembrado ano passado, ao lado dos cem anos da Federação, fundada dois
meses antes do campeonato inacabado.
Mas é
real a comemoração atual pelos registros, preto no branco, que o clube América
pode comemorar o centenário do primeiro título ganho em campo. Com esta
formação: Oscar
Siqueira, Benfica, Canela de Ferro, Aguinaldo, Lopes, Ricardo, Aminadab, Gallo,
Nilo (Chico), Lauro e Lustosa.
Jogaram ainda: Barroca, Petró, Arari de Brito, Alberto
Nesi, Mário, Juca e Américo. O time fora campeão antecipado, sendo notícia na coluna “Vida Social” do jornal
“A República”, fundado 30 anos antes pelo médico e político macaíbense Pedro
Velho de Albuquerque Maranhão, que chega ao poder com a queda da Monarquia.
Os resultados do team campeão
em 1919: 3 – 0
ABC (domingo, 22/6), 0 – 0 CEN (domingo, 6/7), 1 – 0 CEN (domingo, 27/7) e 0 –
2 ABC (domingo, 10/8). Na preliminar os
rubros perderam de 1 a 2 (segundos quadros). Ganha a Taça Ítala Roselli. No
mesmo ano é campeão do primeiro torneio início.
Ele começa a carreira como amador no “Curupaity” – alusão a conhecida
batalha na Guerra do Paraguai – em 1915, um clube sem filiação, conforme
declara o player para boletim interno d’O
Glorioso. Aos 16 está no infantil do Fluminense (1916), o vencedor do
certame.
No final de 1918 está no clube de coração. Estréia no Botafogo em
7/12/1919 (2 x 0 Bangu). Após
desentendimentos transfere-se para o Sport Club Brasil (Série A da 2ª Divisão
Carioca) para não enfrentar O Glorioso
(1922).
Retorna no ano seguinte e permanece até agosto. Foi o jogador que mais
fez gols pelo Botafogo na competição estadual. Entre 14/8 e dezembro novamente
atua pelo Brasil.
Com a saída do tio materno Oldemar Amaral Murtinho do Botafogo ingressa
mais uma vez no Tricolor. Fica por três anos. No período foi campeão e
artilheiro do Carioca (1924).
Retorna ao Botafogo (1927). Marca 30 dos 67 gols da equipe no Carioca,
sendo artilheiro pela segunda vez. Nesse mesmo torneio fez quatro dos nove gols
na goleado de 9 a 2 sobre o Flamengo (a maior em entre os dois times).
Foi campeão carioca em 1930 e de 1932 a 1935. Na campanha do tetra fez
69 nos quatro torneios, sendo o artilheiro do clube (33/34) e da competição de
1933 (19 gols).
Pela Seleção vai a primeira Copa do Mundo no
Uruguai (1930). Joga na
estréia: 1 a 2 Iugoslávia. No segundo fica fora: 4 x 0 Bolívia, não sendo
suficiente para ir à semifinal.
Os iugoslavos haviam vencido os bolivianos três
dias antes pelo mesmo placar. O Brasil evita ficar em último na chave. Entre 23 e 31, pelo Brasil,
atua 19 vezes (11 vitórias, seis derrotas e dois empates) e marca em 15 oportunidades.
Com a Seleção Carioca é campeão brasileiro cinco vezes. Encerra a
carreira em 16/5/1938 (Botafogo 2 x 2 Olaria). Antes do Futebol e Regatas (42)
pelo Botafogo contabiliza 190 gols em 201 jogos, sendo o quinto maior
artilheiro do clube. 360 gols na carreira.
No currículo ainda constam os títulos: Torneio Interestadual: 1931
(Botafogo) e Copa Rio Branco 1931 (Brasil).
O Jornal publica sobre a estréia do
atacante Nilo na equipe principal do Botafogo a 4 de Abril de 1920, no Torneio Início
do Campeonato Carioca, disputado no estádio do Fluminense.
Começa a gostar do clube porque
acompanha o tio aos jogos da Rua São Clemente, onde o clube realizava os jogos
no campeonato (1912). Nilo estreou-se no alvinegro no terceiro quadro, no Carioca
de 1919, com vitória de 1x0 sobre o Flamengo, em General Severiano.
Nilo realizou 176 jogos e assinalou 184 gols,
sendo o maior artilheiro do Botafogo até a saída e o sexto maior artilheiro. Detém
o recorde de média de gols por jogo (0,91) e o recorde de média de gols numa
temporada ao assinalar 42 gols em 28 jogos em 1927, à média de 1,5.
De qualquer forma a imprensa passou batido em outro centenário. Na
primeira semana de janeiro/17 larga a Taça Campeonato, torneio não oficial patrocinado pelo jornal A Imprensa, do coronel Francisco, pai do escritor Luís da Câmara
Cascudo. A organização cabe a Cícero
Aranha e José Potiguar Pinheiro.
O torneio tem conflito com a festa dos Santos Reis (6/1). Registros
indicariam decisão com o ABC, ganha pelos americanos. Na primeira partida zero
a zero com o eleven do Humaitá, no campo da igreja nova (Praça Pio X), atual
catedral metropolitana.
A
essa altura do campeonato pode-se contabilizar, até então, o total de dez
partidas no que viria a ser o Clássico Rei. Inicialmente o América, que começa
azul e branco, na primeira partida logo após a fundação (14/7/15), vence a
garotada do Ateneu (22 x 0), no ground
da praça Pedro Velho, no bairro de Petrópolis.
Napoleão Soares, um dos fundadores, marca 11 gols. O futuro presidente da Republica, o potiguar João Fernandes Campos
Café Filho, foi substituído no sexto gol. Atua emprestado pelo Cruz
Vermelha e depois joga pelo Alecrim. Em 1920 chega a secretário
do Santa Cruz do Recife, capital pernambucana.
Contra a equipe do colégio surgido no Século XIX, antes do Pedro II, no Rio, uma das 25 maiores do mundial e quinta
goleada brasileira. A maior: Botafogo 24 x 0 Mangueira (campeonato carioca –
30/5/1909). Seguida de Grêmio 23 x 0 Nacional/Porto Alegre (25/8/1912), Centro
Sportivo Alagoano 22 x 0 Maceió (28/1/45) e Ulbra 21 x 0 Shallom (campeonato
rondoniense – 14/5/2006).
América 1 – 4 ABC (26/9) na Vila Cincinato, atua Colégio
Anísio Teixeira. Árbitro: Júlio Meira e Sá. Gols: Mousinho (2), Mandú, Baluá e
Neco. América: Oscar Siqueira, Lélio, Gato,
Carvalho, Galo, Antônio, Barros, Carlos Siqueira, Neco, Garcia e Pipio. ABC: Avelino (Lili), Batalha, Borges, Cabral (Tarugo),
Paraguay, Freire, Bigois, Moacyr, Mandu, Nóbrega e Mousinho.
O alvinegro atua com o segundo quadro
(reservas: Baluá, Elissozio e Bill). O rubro com o primeiro (reservas:
Revoredo, Lopes e Tupi). Juízes de linha Manoel Gomes e Aguinaldo Fernandes; de
gol Sérgio Severo e Arari Brito.
Fontes
Adoro Cinema
Dabase
Datafogo
Futebol 80
Futebol e Cia
Geni
Marinha
Mundo Botafogo
Submarino