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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Ricardo Boechat começa em jornal criado por potiguar

Diário de Noticias que muita gente citou, de norte ao sul, como o jornal no qual Ricardo Boechat começa a carreira, e ninguém lembrou – exceto este blog -, foi fundado pelo potiguar Orlando, irmão do jurista potiguar Heraclio Vilar Ribeiro Dantas.
A extinta mídia impressa carioca surge em 12/6/30 e circula até a década de 1970, sendo o quarto ou quinto com esse nome no Rio, além de outro em Salvador (pertencente ao condomínio Associado) e um em Porto Alegre, controlado por grupo local.
O primeiro, fundado por Clímaco dos Reis, circula em 2/8/1870, com tiragem de 6 mil exemplares e quatro páginas. Propunha “índole inofensiva” em relação às disputas políticas da corte.
O concorrente, pertencente a S. S. Paes Viana, é lançado em 21/3/1868. Republicano e civilista. Nele escreve Rui Barbosa (redator-chefe em 7/3/1889), dia em que circula com duas edições 1362, e desapareceu em 20/11, quatro dias após a proclamação da República.
Há registros de um DN 20 anos após a queda do Império, na campanha de Rui Barbosa em oposição a Hermes da Fonseca, este eleito presidente em 1/3/1910.
O jornal de Orlando Dantas apóia Getúlio Dorneles Vargas, ex-ministro da Fazenda do presidente Washington Luís, na Revolução Liberal (30) e adiante se alinha com o movimento pela assembléia constituinte que desembocaria na insurreição paulista de 1932.
No Estado Novo (37 – 45) rejeita os favores do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do ditador gaúcho. Freqüentam a redação Otávio Mangabeira, Adauto Lúcio Cardoso e Eduardo Gomes.
Colaboradores: Mário de Andrade, Augusto Frederico Schmidt, Álvaro Moreira, Alceu Amoroso Lima, Luís da Câmara Cascudo, Afonso Arinos de Melo Franco, Josué de Castro, Sérgio Buarque de Holanda e Graciliano Ramos...
Nos anos 1950 o Diário confrontar-se com O Globo em debate sobre histórias em quadrinhos. A empresa de Roberto Marinho editava o Gibi e o Globo Juvenil com tiras importadas dos Estados Unidos. Dantas contesta o valor educativo dessas histórias.
A morte de Orlando (1953) não afeta logo a linha do jornal, que faz oposição ao governo do médico mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira e à construção de Brasília. Era o diário de maior circulação do Rio.
A viúva, Ondina Portela, escreve coluna sobre música com o pseudônimo “D'Or” e apelidaram-na de “marechala”. As decisões importantes passam pelo filho João.
Em 1957 João Dantas comprou o acervo de O Mundo, jornal dirigido por Geraldo Rocha e ligado a Juan Domingo Perón, presidente da Argentina deposto em 1955 e no exílio em Madri (Espanha).
Máquinas, uma revista em cores, Mundo Ilustrado, e um prédio de sete andares, na Rua do Riachuelo, 114 (a sede anterior era na Rua da Constituição, 11).
No ano seguinte o risco assumido foi ideológico e político: promoveu estudo sobre “a Revolução Brasileira”. O documento, publicado em 15 de junho, teve grande repercussão. Propunha reforma agrária, nacionalização de indústrias de base e das empresas de rádio e televisão e um programa de educação em massa.
Essa proposta foi apresentada ao candidato Jânio da Silva Quadros, com quem se encontrou em Bled, na Iugoslávia (hoje Eslovênia). Visitam a China, Japão, Índia, Paquistão, Irã, Egito, Israel e Líbano.
À France Press, em Pequim, como porta-voz de Jânio, Dantas defende o reconhecimento do regime de Mao Tsé Tung e o restabelecimento de relações com a Rússia.
O apoio tardio ao golpe de 1964 dá espaço ao discurso de Carlos Lacerda, a essa altura na oposição e caminhando para se recompor com Juscelino Kubitschek e João Goulart na construção de uma pretendida “frente ampla”.
O jornal, afogado por dívidas com a previdência social e bancos oficiais, é vendido por 500 mil dólares ao grupo TAA, do empresário pernambucano Fernando Rodrigues, representado pelo deputado Ricardo Fiúza, indicado pelo Ministro da Fazenda, Delfim Netto.
Esteve sob intervenção do governo (1970/73) com alguma descontinuidade de circulação. O último número, 14.747, circula em 10/11/76, desfigurado, com a manchete com release: “Ferroviário recebe novembro com aumento do Plano”.

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