José Vanilson Julião
Muito antes pretendia escrever um artigo sobre a goleada – América
22 x 0 Atheneu (1915) – e resolvi fazê-lo agora por ter mencionado o elástico
placar na reportagem do esticado escore Botafogo 24 x 0 Mangueira, quando
revelo a participação inédita como jogador na segunda equipe carioca de um dos
irmãos potiguares Raul e Mário Barreto de Albuquerque Maranhão.
A inclusão no subtítulo do artigo entre os cariocas do resultado
envolvendo o centenário clube natalense e os garotos do também centenário
colégio de estudantes teve como foco situar que é o sétimo na ordem como um dos
recordistas nacionais. E esse detalhe causou espanto e chacota do meu amigo
jornalista Francisco Eneas Peixoto, torcedor do ABC e do Botafogo.
Esclareço que não tenho, pelo menos no momento, nenhum dado da
desconhecida e talvez inexistente súmula ou ficha técnica do jogo, mas devo
dizer que li sobre o assunto, mesmo superficialmente, em fontes respeitáveis e
gabaritadas, os livros dos jornalistas José Procópio Filgueira Neto e Everaldo
Lopes Cardosos, lançados separadamente no espaço de mais de uma década.
Porém posso afirmar, categoricamente, que existe uma primeira fonte
secundária também fidedigna. E que talvez seja o primeiro registro, preto no
branco, tinta no papel, na imprensa norte-rio-grandense. Se Peixoto deixar de
lado a preguiça pode consultar a edição 267 de "O Poti" (domingo, 17
de julho de 1955).
Um ano depois de ser lançado com circulação diária (semanal no final dos
anos 50) o jornalista e editor da página esportiva, Alexandre de Amorim Garcia,
o "Alex", escreve na polêmica coluna "Dizem por aí..." tema
da confraternização comemorativa aos 40 anos do América Futebol clube (14 de
julho de 1915).
- O acontecimento, diria o cronista social, deu margem para algumas
reminiscências saborosas, as quais, na palavra do mestre Cascudo ganharam
aquela tonalidade saborosa que só mesmo ele pode dar vida e colorido numa
história, como bem ficou bem patenteado na sessão solene de quinta-feira
última..., assim abre o comentário Alexandre Garcia.
"Corriam os primeiros meses de fundação, a rapaziada contagiada com
o esporte bretão, que há pouco fora introduzido no Brasil, quando os
alvirrubros foram desafiados pelo Atheneu. Os alunos do venerando
estabelecimento agora crismado de Instituto de Educação, contaminados pela
mania do futebol ainda não eram muito desenvolvidos no manejo da pelota, o
América, mais senhor do jogo, não teve dúvida em descarregar 22 x 0 em cima dos
pobres rapazes do Ateneu.
Na defesa dos sete palmos arco estudantil estava um rapaz franzino de
nome João. Quando o América completou a dúzia colegiais mais exaltados exigiram
a retirada do referido arqueiro. E um novo goleiro de nome Pita foi colocado na
meta do Ateneu para dar jeito a situação... Embora deixasse passar mais dez
tentos. Quando com ar mais desconsolado do mundo o João chegou-se à roda de
torcedores do Ateneu, diz furibundo na cara:
- Você não serve para nada, nem para o futebol!...
Acontece que este João de quem estamos falando, não é mais nem menos do
que, sua excelência o senhor João Café Filho, Presidente da República.
NOTA DO REDATOR: Napoleão Soares
Ferreira: 11 gols (assunto para outra reportagem). Em outra fonte João
Fernandes Campos Café Filho, emprestado pelo Cruz Vermelha, é substituído (sexto
gol) por Joaquim Lustosa Pitta.
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