terça-feira, 12 de setembro de 2023

A goleada americana no time dos estudantes da capital potiguar (I)


José Vanilson Julião

Muito antes pretendia escrever um artigo sobre a goleada – América 22 x 0 Atheneu (1915) – e resolvi fazê-lo agora por ter mencionado o elástico placar na reportagem do esticado escore Botafogo 24 x 0 Mangueira, quando revelo a participação inédita como jogador na segunda equipe carioca de um dos irmãos potiguares Raul e Mário Barreto de Albuquerque Maranhão.

A inclusão no subtítulo do artigo entre os cariocas do resultado envolvendo o centenário clube natalense e os garotos do também centenário colégio de estudantes teve como foco situar que é o sétimo na ordem como um dos recordistas nacionais. E esse detalhe causou espanto e chacota do meu amigo jornalista Francisco Eneas Peixoto, torcedor do ABC e do Botafogo.

Esclareço que não tenho, pelo menos no momento, nenhum dado da desconhecida e talvez inexistente súmula ou ficha técnica do jogo, mas devo dizer que li sobre o assunto, mesmo superficialmente, em fontes respeitáveis e gabaritadas, os livros dos jornalistas José Procópio Filgueira Neto e Everaldo Lopes Cardosos, lançados separadamente no espaço de mais de uma década.

Porém posso afirmar, categoricamente, que existe uma primeira fonte secundária também fidedigna. E que talvez seja o primeiro registro, preto no branco, tinta no papel, na imprensa norte-rio-grandense. Se Peixoto deixar de lado a preguiça pode consultar a edição 267 de "O Poti" (domingo, 17 de julho de 1955).

Um ano depois de ser lançado com circulação diária (semanal no final dos anos 50) o jornalista e editor da página esportiva, Alexandre de Amorim Garcia, o "Alex", escreve na polêmica coluna "Dizem por aí..." tema da confraternização comemorativa aos 40 anos do América Futebol clube (14 de julho de 1915).

- O acontecimento, diria o cronista social, deu margem para algumas reminiscências saborosas, as quais, na palavra do mestre Cascudo ganharam aquela tonalidade saborosa que só mesmo ele pode dar vida e colorido numa história, como bem ficou bem patenteado na sessão solene de quinta-feira última..., assim abre o comentário Alexandre Garcia.

"Corriam os primeiros meses de fundação, a rapaziada contagiada com o esporte bretão, que há pouco fora introduzido no Brasil, quando os alvirrubros foram desafiados pelo Atheneu. Os alunos do venerando estabelecimento agora crismado de Instituto de Educação, contaminados pela mania do futebol ainda não eram muito desenvolvidos no manejo da pelota, o América, mais senhor do jogo, não teve dúvida em descarregar 22 x 0 em cima dos pobres rapazes do Ateneu.

Na defesa dos sete palmos arco estudantil estava um rapaz franzino de nome João. Quando o América completou a dúzia colegiais mais exaltados exigiram a retirada do referido arqueiro. E um novo goleiro de nome Pita foi colocado na meta do Ateneu para dar jeito a situação... Embora deixasse passar mais dez tentos. Quando com ar mais desconsolado do mundo o João chegou-se à roda de torcedores do Ateneu, diz furibundo na cara:

- Você não serve para nada, nem para o futebol!...

Acontece que este João de quem estamos falando, não é mais nem menos do que, sua excelência o senhor João Café Filho, Presidente da República.

 

NOTA DO REDATOR: Napoleão Soares Ferreira: 11 gols (assunto para outra reportagem). Em outra fonte João Fernandes Campos Café Filho, emprestado pelo Cruz Vermelha, é substituído (sexto gol) por Joaquim Lustosa Pitta.

 

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