domingo, 29 de outubro de 2023

"Acta Diurna" cascudiana sobre a família Wanderley

A clássica foto de Câmara Cascudo na casa da avenida que leva o nome dele/Álbum de Família

VIAGEM COM O WANDERLEY

Luís da Câmara Cascudo

O fundador da família Wanderley no Rio Grande do Norte não usava o nome Wanderley e sim Pimentel.

Chamava-se JOÃO DE SOUZA PIMENTEL, e viera de Pernambuco, já casado com dona Josefa Lins de Mendonça.

Já casado ou solteiro, casando na Vila Nova da Princesa? Não há, até aqui, certeza.

Na NOBILIARQUIA PERNAMBUCANA, de Borges da Fonseca, verifica-se que os Wanderley estavam muito misturados e aliados aos SOUZA PIMENTEIS, LINS, e mais gente fina, de brasão e prosápia, senhores de engenhos e participando da governança das vilas da capitania.

Esse João de Souza Pimentel é o pai de João Pio Lins Pimentel, já usando o LINS materno, e Gonçalo Lins Wanderley, já usando o WANDERLEY.

João Pio Lins Pimentel foi tenente-coronel da Guarda Nacional, fazendeiro, lavrador abastado e primeiro Presidente da Câmara Municipal de Santana do Matos, de 1837 a 1840.

Em 13 de setembro de 1838, ingressando na Loja maçônica SIGILO NATALENSE, dizia-se MAIOR DE 40 ANOS, casado, proprietário e residente na VILA DO ASSU e não VILA DA PRINCESA, em honra da Princesa Carlota Joaquina.

Nascera antes de 1790 e devia ser o primogênito porque se chamava pelo mesmo nome do pai. Nada mais sei sobre o Tenente Coronel João Pio Lins Pimentel, com quem casou-se e se deixou descendência.

GONÇALO LINS WANDERLEY, seu mano, casou com dona Francisca Xavier de Macedo, filha de Francisco Xavier de Macedo e dona Teresa de Jesus, filha, esta, de Carlos de Azevedo Leite e d. Rosa Maria da Conceição. Gonçalo Lins Wanderley era altivo e sabia manejar na palavra.

Presidente da Câmara Municipal da Vila da Princesa em fevereiro de 1822, deu uma resposta bravia ao GOVERNO TEMPORÁRIO que se instalara em Natal pela força das carabinas da Companhia de Linha.

Gonçalo declarou não reconhecer a competência do Governo, dizendo-o ILEGÍTIMO, CRIMINOSO E REBELDE...

Esse mesmo Gonçalo Lins Wanderley tinha fama de excelente cavaleiro e jogador não de carta mas de espada. Ignoro o nome de todos os seus dignos filhinhos.

Dois, deixaram fama e renome, Manuel e João Carlos.

Manuel Lins Wanderley, 1804-1877, casou com d. Maria Francisca da Trindade e não sei quem teve a honra de ser sogro dele.

Sei que abençoou dezessete filhos. Um deles é o doutor LUÍS CARLOS LINS WANDERLEY, 1831-1890, primeiro norte-rio-grandense doutor em medicina, deputado provincial e presidindo a administração da sua Província, poeta, professor, jornalista, teatrólogo, orador, político, clínico profissional. Faleceu em sua casa que se erguia onde está o prédio da Prefeitura Municipal.

João Carlos Wanderley, 1811-1899, casou com dona Claudina Leite do Pinho, filha do Tenente Coronel Antônio José Leite do Pinho e d. Bernarda Antônio Rodrigues.

Teve também dezessete filhos. Uma das filhas, Francisca Carolina, casou a 25 de julho de 1858, com seu primo o dr. Luís Carlos Lins Wanderley. Luís Carlos, enviuvando, casou com uma cunhada, d. Maria Amélia Wanderley, em 1877.

Luís Carlos e sua mulher, d. Maria Amélia, morreram no mesmo dia, 10 de fevereiro de 1890, em Natal.

Os filhos do dr. Luís Carlos deram muita vida e glória às letras da Província e do Estado e a herança cultural continua harmoniosa no espírito dos netos e bisnetos.

Nas festas comemorativas do MILÊNIO DA CIDADE DO NATAL, em 25 de dezembro do ano de 1899, um Wanderley publicara um poema n'A República", que circulara, impávida e solene, e outro Wanderley fará um discurso, contando a história da terra que é quase a história da gente ilustre dos Wanderley.

 

Nota da Redação:

Novamente o blog transcreve texto do escritor Câmara Cascudo.

Agora com abordagem mais detalhada sobre a saga da família Wanderley.

O artigo é publicado na coluna "Acta Diurna", no jornal "A República" (26/11/1959).

A data indica publicação sete anos antes do prefácio – reproduzido em postagem anterior – para o livro "Família Wanderley: História e Genealogia", do jornalista Walter Wanderley.

O antigo comentário é incluído em "O Livro das Velhas Figuras", 1978, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Como da outra vez o intuito da reprodução, também não é inédita na rede, é reforçar ainda mais as informações anteriores.

 

FONTES

Assu na Ponta da Língua (Ivan Pinheiro Bezerra)

Fernando Caldas

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