Retrato falado de Lucas da Feira |
Jota Valdeci
Especial
Pelo falecimento do diretor de fotografia Carlos Tourinho em Natal e participação no filme "Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro" (1972), com cenas no interior potiguar, surge a curiosidade de saber sobre o termo pelo qual ficou denominado o banditismo típico do Nordeste.
É sabido que um
dos primeiros bandidos da região aparece no século XVIII (1700) com o famoso “Cabeleira”.
E por volta de
1828 com o negro Lucas Evangelista, o “Lucas da Feira” (Feira de Santana, 1807 –
1849) na Bahia.
Também algumas
fontes terciárias dizem que o termo "cangaceiro" já existia na década
seguinte.
Porém não é
encontrada na pesquisa qualquer fonte primária que ateste a indicação da
palavra do regionalismo nordestino na época.
Entre pelo menos
três versões da origem a mais plausível e de que venha de canga, o equipamento
de madeira usado em torno do pescoço do boi.
“O jugo ou canga ou
consiste num instrumento de atrelagem, imprescindível no trabalho agrícola
tradicional, utilizado para unir uma junta de bois a um carro ou a um arado.”
Pois assim os
bandidos ou fora-da-lei traziam as armas de fogo, geralmente de cano longo, no
ombro.
Como não existe,
acredito, data precisa sobre o aparecimento do "cangaceiro", prefiro
ficar com a fonte primária consultada e fidedigna.
O mais antigo
jornal em circulação na América Latina (desde 1825). O "Diário de
Pernambuco" indica o termo "cangaceiro" individualmente.
Aparece apenas
uma vez na década 1850 (terça-feira, 15/11/1853). Quando o vapor “Imperatriz”
aporta no Recife com “gazetas” do “Norte”: Pará, Maranhão e Ceará.
No “Cearense”
(25/10) incidentes no município de Pereiro. Envolvendo um delegado em
cumplicidade com João Cordeiro, um “cangaceiro” a quem vendera dívida de
terceiro...
Ainda uma única
vez em 1868: - Joaquim Sapateiro, distinto faquista e “cangaceiro” (aspas do
articulista) assassinou com canivetada no umbigo um pobre homem...
Nas duas décadas
seguintes nenhuma menção ao regionalismo. O que somente vem ocorrer, novamente
com raridade (duas vezes), nos anos 1890 (novembro/1896).
E dois anos
depois usado pelo jornal “A Província” como termo pejorativo contra um
“coronel” no município de Salgueiro.
Somente na
primeira década do século XX (1900) o “cangaceiro” toma corpo no “Diário”,
sendo impresso, preto no branco, 95 vezes!
Daí em diante é
outra história...
FONTES
A Província
Diário de
Pernambuco
Museus Pontes de
Lima/Porto
Cascudo, Luís da
Câmara Cascudo – "Flor dos Romances Trágicos" (1982)
Nenhum comentário:
Postar um comentário