Rivaldo de Oliveira Paula, o "Saquinho" (penúltimo agachado), um dos personagens
Apelidos no
futebol*
Kolberg Luna
Freire
Jornalista e
escritor
Escritor, cronista e jornalista K. L. Freire
Nos tempos de
hoje, a escalação de equipes de futebol mais parece com a chamada de uma turma
de colégio antes da aula de matemática. Jogador de futebol agora tem nome e
sobrenome. A seleção brasileira, que anteontem goleou a Bolívia, é um exemplo
disso. Alex Telles, Everton Ribeiro, Phillipe Coutinho, Renan Lodi, Roberto
Firmino e Thiago Silva são alguns dos pomposos nomes que estiveram em campo. No
banco, Bruno Guimarães, Gabriel Jesus e Rodrigo Caio.
Antes, era uma
raridade chamar o jogador pelo seu nome e sobrenome. Alguns exemplos mais
famosos são os casos dos dois “Santos”: Djalma e Nilton; Luiz Pereira, Dirceu
Lopes, Ademir da Guia, Vilson Taddei ou Tadeu Ricci. Raríssimo era ser chamado
pelo nome completo, como era o caso de Paulo César Carpegiani.
Não se vê mais
jogadores de futebol com apelidos como era comum no passado. Algumas dessas
alcunhas eram trazidas de casa e permaneciam em campo, como os casos de Zico,
Zito, Pelé, Didi, Vavá, Chico, Dequinha, Julinho, Toninho e outros. Também,
imperou por muito tempo os diminutivos e aumentativos a definir o tamanho do
jogador. Assim como diversos Zezinhos, Pedrinhos e Joãozinhos povoaram os
campos de todo o país, também era comum vermos os vulgos Marcão, Paulão ou
Luizão.
Evaldo de Oliveira Paula, o "Pancinha"
(irmão de "Saquinho), de camisa listrada,
"Saquinho" (de claro), e o massagista
"Macarrão", no bairro das Rocas
Em meio aos
apelidos, a família “D” do alfabeto talvez seja a mais pródiga, pois todas as
variações tiveram um representante no futebol, vejamos: Dadá, Dedé, Didi, Dodô,
Dudu.
Outro apelido
comum e que ainda resiste bravamente nos tempos atuais são os relacionados à
geografia. Quantos fulanos acresciam/acrescem ao seu nome a expressão
relacionada ao seu Estado ou cidade natal! Apodi, Itaqui, Tiago Orobó, Maricá,
Birigui, Edu Dracena, Junior Baiano, Juninho Pernambucano, Wellington Paulista,
Ronaldinho Gaúcho, Alexandre Mineiro, Marcelinho Paraíba, Thiago Potiguar, fora
os inúmeros “Cearás” que desfilaram ou desfilam nos gramados brasileiros.
A mais famosa
linha de todos os tempos do Clube Náutico Capibaripe/PE foi o quarteto
eternizado por Nado, Bita, Nino e Lala. A Portuguesa de Desportos/SP, nos anos
70, teve um ataque com Tatá, Dicá e Xaxá.
Sem dúvida, casos curiosos e relacionados a apelidos.
Direcionando os
olhos para o nosso Estado, alguns apelidos curiosos passaram por aqui. Como
esquecer de Dedé de Dora, Cascata, Pedrada, Jangada, Hélio “Show”, Jorge
“Demolidor”, Hélcio “Jacaré”, Bileu, Barata, Baíca, Saquinho, Pancinha, Biro
Biro, Lúcio “Curió”, Miro “Cara de Jaca”??? Uma viagem deve ser ir buscar a
origem de cada apelido desses.
O Alecrim chegou
a ter na mesma equipe um zagueiro viril chamado “Ticão” e um atacante conhecido
por “Tiquinho”.
Ainda lembrando
do RN, na época em que a TV Universitária (Canal 5) transmitia os jogos do
Estadual em forma de vídeo tape, o narrador era José Ary, que gostava de, se
não apelidar, mas de abreviar o nome dos jogadores. Era uma diversão assistir
os jogos ouvindo a narração trazer os nomes de “Baltaza” (Baltazar), “Sandova”
(Sandoval), “Noriva” (Norival) ou “Mara” (Marinho Apolônio), este que também
era chamado de “o Pantera”. Já quando ia
falar sobre “Dedé de Dora”, o respeito do narrador chegava ao ápice e, sabendo
que o “de Dora” fazia alusão a mãe do atleta, Ary fazia questão de chamar o
jogador de “Dedé de Dona Dora”. Já em
relação ao saudoso Arié, o narrador sempre completava com o bordão “o que não
morre em pé”.
Também não se
pode esquecer a saudosa memória de Hélio Câmara de Castro, o maior narrador
esportivo de todos os tempos do rádio potiguar e que também tinha seus
rompantes a “batizar” os jogadores. Baltazar virou o “Conde Drácula”, Noé
Soares era o “Macunaíma”, o zagueiro Odélio tornou-se o “Pastor”, Sandoval era
o “Touro Miúra”, Moura o “Príncipe Etíope” e Carioca o “Boca Negra”. Hélio
justificava dizendo que a carga de adrenalina num jogo de futebol é grande, e
ele criava esses personagens para aliviar a tensão.
Talvez a
profissionalização do futebol tenha concorrido para que os jogadores prefiram
ser conhecidos pelos seus próprios nomes de nascença, porém, isso fez perder um
pouco o lado folclórico e engraçado do futebol.
*Original
publicado no site "Grande Ponto" (11/10/2020). O autor escreveu os livros
“O tempo do futebol e um poema”, sobre o Estádio Castelo Branco/João Machado, e
a biografia “Ribamar – O Guardião da Memória do futebol potiguar” (2023)
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