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“O PLATINISMO JÁ NÃO AMEAÇA MAIS O FOOTBALL BRASILEIRO”
Com o título acima o
cronista Mário Leite Rodrigues Filho – na coluna “CRÍTICAS E SUGESTÕES” – no “Jornal
dos Sports” (domingo, 22/7/1945), se referiu pessoalmente e pela única vez com detalhes ao
domínio do futebol argentino. E para a compreensão do período eis a reprodução
do comentário da primeira página do caderno "Segunda Seção" do impresso especializado em esporte
pertencente ao autor do histórico texto.
- Compreendia-se que, há
alguns anos, houvesse quem se assusta-se as importações dos jogadores. Aliás,
as medidas restritivas, tomadas pelo Conselho Nacional de Desportos, foi uma
consequência dessas apreensões, sendo justa, pelo menos justificáveis. Grandes
clubes cariocas chegaram ao exagero de colocar em campo cinco jogadores
estrangeiros. Com facilidade se formava aqui um escrete argentino. Os clubes
cariocas, depois do fracasso da “Copa Roca”, tomaram-se de fantasia pelo
futebol argentino. Quando algum deles se via a braços com um problema de equipe
não procurava resolvê-lo com uma busca no mercado brasileiro. O entusiasmo pelo
futebol argentino retardou, é verdade, a renovação a renovação de valores do
futebol brasileiro. Jogadores que só esperam uma oportunidade para aparecer
ficavam na cerca, enquanto os craques mandavam vir craques duvidosos de Buenos
Aires.
AS IMPORTAÇÕES E RENOVAÇÕES
DE VALORES
Há um exemplo típico de
quanto esse entusiasmo pelo futebol argentino prejudicava a renovação de
valores. Quando ia enfrentar o Independiente o Flamengo ainda não tinha
renovado o contrato e discutia com o jogador Gonzalez e queria fazê-lo no dia
do encontro internacional. O Flamengo não contava, absolutamente, com a recusa
do jogador em disputar a partida sem contrato. E teve de lançar mão de um
garoto de 18 anos vindo de Niterói pelo braço de um torcedor: Zizinho. O êxito
de Zizinho encerrou a carreira de Gonzalez no Flamengo. Nem o Flamengo, porém,
nem outro grande clube qualquer, tomou o aparecimento de Zizinho como um bom
sinal. A temporada do Independiente verificou-se em 1939 (ano da Copa Roca). A
lembrança do fracasso ainda estava bem viva. E mesmo se não levasse em conta a
competição a de 40 serviria para dar exemplo aos que duvidavam do futebol
brasileiro. Ainda não tivera explicação satisfatória o fracasso e o futebol
brasileiro se expunham a novos revezes.
UMA ÉPOCA QUE JÁ PASSOU
A suspensão das atividades
internacionais, embora não justificadas, tinham o objetivo de evitar outras
derrotas. A CBD poderia promover em 1941, aqui, a disputa da “Copa Roca”. Era
uma oportunidade para reabilitação do futebol brasileiro. A CBD, porém, adiou
“sine die”, a competição das “Copas”. Em São Januário, depois da “Copa Roca” de
Buenos Aires, o escrete brasileiro perdeu para a seleção uruguaia a “Copa Rio
Branco”, que conservava desde 32. Julgou-se inoportuna o momento para novas
experiencias amargas, que só poderiam abater ainda mais o futebol brasileiro.
Somente dois anos depois é que o futebol brasileiro foi a disputa da “Copa
América” em Montevidéu. A exibição do escrete brasileiro foi amplamente
satisfatória. Era um escrete que tinha saído do Brasil sem grandes ambições.
Ali estava não só uma explicação não só do sucesso desse escrete como do
fracasso daquele outro, que entraram em campo certo de uma vitória retumbante
sobre os argentinos.
O SENTIDO DA LIMITAÇÃO DE
IMPORTAÇÕES
O que faltou aos brasileiros
em 39 foi o respeito ao adversário. E nunca, em época alguma, um escrete
brasileiro fora tão mal organizado. O campeonato carioca terminara a oito de
janeiro, a quinze de janeiro os brasileiros deveriam enfrentar os argentinos.
Ninguém se alarmou com a falta de tempo material para o treinamento da seleção.
Todos estavam convencidos de que os argentinos nada poderiam fazer, pela grande
diferença de classe entre o futebol platino e o brasileiro. Foi deste otimismo
exagerado que se caiu no extremo oposto, de só se acreditar no futebol
argentino. Tornou-se preciso que lentamente se processasse uma renovação de
valores, que o futebol brasileiro se reencontra-se a si mesmo. As limitações
impostas a importação de jogadores reconheciam o mal, apontavam o caminho a
seguir, mas é discutível que, sem eles, os clubes brasileiros fossem além do
que já tinham ido.
RESTRIÇÕES JÁ DESNECESSÁRIAS
A presença de tantos
jogadores argentinos fez um bem enorme ao futebol brasileiro, porque humanizou
os jogadores platinos, abrasileirando-os. E depois não era mais possível, com o
tempo, impedir que os novos valores brasileiros superassem os craques
importados, tomando-lhe os lugares. Hoje em dia raramente um clube brasileiro
manda buscar jogadores em Buenos Aires ou Montevidéu. E se ainda, de longe em
longe, um clube brasileiro recorre ao mercado platino, não é porque aqui faltem
elementos, é porque o mercado brasileiro está mais caro que o mercado platino.
Era o contrário do que sucedia há alguns anos: podendo comprar aqui jogadores
por um preço muito menor, os clubes brasileiros preferiam pagar mais em Buenos
Aires e Montevidéu. Uma prova de que como os tempos mudaram está em que a
próxima terminação do prazo para a inclusão, nos times brasileiros, de mais de
um jogador estrangeiro, não alarmou os clubes. Agora não há necessidade de
restrições e limitações. Os clubes brasileiros voltaram a acreditar mais no
futebol brasileiro do que no futebol platino.
CLUBE DE REGATAS FLAMENGO: Jurandir, Domingos da Guia, Perácio, Newton Canegal, Jaime, Modesto Bria, Sílvio Pirillo, Zizinho, Biguá, Vevé e Jacir |
FONTES/IMAGENS
Flamengo Alternativo
Jornal dos Sports
Lance
Terceiro Tempo
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