Imagem meramente ilustrativa com as carroças e seus burricos na Praça Augusto Severo
DIÁRIO DE NATAL (sexta-feira – 16/4/1948)
Agiu em defesa da dignidade do seu lar – Novos detalhes
das ocorrências de 3ª.
“Foi instaurado inquérito policial, pelas ocorrências
na manhã de terça-feira, na movelaria da Praça Augusto Severo, em que saiu com
escoriações no rosto o senhor Miguel Canuto de Souza, proprietário do estabelecimento,
quando procurava impedir que o senhor Raimundo Maranhão desfechasse um tiro no
carroceiro Chico Quirino.
Recompomos aqui detalhes dos antecedentes do fato, segundo
foi informada à reportagem ontem à tarde.
Raimundo Maranhão, oficial administrativo do Tesouro
do Estado, lotado na mesa de rendas do Alecrim, reside com sua família na praça
Pedro II, número 1018. Sua esposa, dona Maria da Glória, possui carros de
tração animal, para serviços de aluguel e para quem trabalhava Chico Quirino.
Alega dona Maria da Glória que Chico Quirino era dado
a maus tratos aos animais, que frequentemente retornavam dos serviços do dia
com ferimentos. E por isso fora ele despedido na manhã de segunda-feira.
Horas depois, nesse mesmo dia, volta Chico Quirino,
munido de cacete, à casa de Raimundo Maranhão, pretextando ir à procura de uma
bomba de encher pneus, que havia deixado ali. Como desconfiasse das intenções
de Quirino, Lia, filha do casal, procurou impedir-lhe a entrada. Mas Quirino
empurrou a moça e penetrou violentamente na casa, aos insultos em altos brados.
Já no quintal da casa, arrombou a porta da privada e de
lá arrancou dona Maria da Glória, a quem derrubou com violento empurrão.
Confirmam essa versão vizinhos que intervieram, atraídos pelo barulho e insultos
que em altas vozes proferia Quirino.
Do que se passava na sua casa foi avisado Raimundo
Maranhão, que no momento se achava em pleno expediente na mesa de rendas do Alecrim,
sendo igualmente comunicada a ocorrência à 3ª. Delegacia.
Quando Raimundo Maranhão chegou encontrou já Quirino
na rua, em frente à casa, mas ainda proferindo palavrões, sob as vistas de
muitos curiosos. Aí foi Quirino detido por dois soldados de Polícia e conduzido
à delegacia. Embora preso em flagrante, soubera Maranhão que Quirino fora inexplicavelmente
solto duas horas depois. E diante disso resolvera no dia seguinte procurar Chico
Quirino, para um desforço pessoal, pelas tropelias praticadas no seu lar com a
família.
O que então ocorreu, no interior da movelaria de Miguel
Canuto de Souza, é do conhecimento geral, pelas notícias publicadas anteontem.
Raimundo Maranhão desfechou um tiro em Chico Quirino que não atingiu o alvo;
Miguel Canuto, por sua vez, quando intervinha, recebeu ferimentos no rosto, em
consequência de um soco vibrado por um filho de Maranhão, tudo culminando
momentos nas imediações da movelaria, com a agressão do jovem por parte de
Quirino e alguns companheiros.”
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