sábado, 7 de setembro de 2024

O cronista esportivo e escritor José Alexandre Garcia


O jornalista Woden Coutinho Madruga dedica nota mistura de crônica e perfil ("Tribuna do Norte", 21 de agosto de 2016) – "Gol de Placa" – sobre uma carta do repórter, comentarista, cronista e escritor José Alexandre Odilon Garcia:

"...Advogado que não advogou, cronista esportivo do melhor escrete de nossa imprensa, dirigente esportivo, professor da UFRN, compositor nas horas vagas, boêmio juramentado, publicou dois livros: "Acontecências e Tipos da Confeitaria Delícia e Confeitaria Delícia II", nos quais conta histórias deliciosas tendo como personagens os mais famosos boêmios da cidade.

Zé Alexandre era uma companhia agradabilíssima em qualquer roda. Fomos companheiros de redação no "Diário de Natal" e nesta "Tribuna do Norte" e dividimos mesas diurnas e noturnas ao lado de figuras inesquecíveis desta aldeia.

Muitas vezes o itinerário começava no escritório de seu pai, agente aduaneiro (sisudo, mas muito educado), esquina da rua Câmara Cascudo (que já foi das Virgens e Coronel Bonifácio) com a Travessa José Alexandre Garcia (o nome do seu pai), mas que naquele tempo era conhecido como o beco da casa do doutor Januário Cicco, de onde vinha a voz do maestro Alcides Cicco, tenor e também irmão de opa pelos becos da Ribeira.


Ao lado ficava a loja de Firmino Moura, que mais tarde inauguraria o seu Hotel Samburá (Rua José de Alencar com a Professor Zuza, na Cidade Alta) e cujo bar se tornou um dos templos de nossa boemia. Naquelas eras a Ribeira ainda vivia seus grandes momentos.

A carta de Zé Alexandre não está datada, mas pelo seu miolo, foi datilografada em 1992 (não consigo me lembrar do mês) quando ele publicou o seu livro Gol de Placa (Memórias Esportivas), editado pela Editora Clima, com prefácio de Veríssimo de Melo.

O livro foi lançado no Kasarão, à época, outra meca da boemia natalense, onde foi graduado o poeta Alex Nascimento com o diploma de “O último a sair”. Pra falar a verdade, a carta fui encontrá-la dobrada entre as páginas do livro. Zé Alexandre nasceu em Natal no dia 5 de maio de 1925 e morreu em 3 de fevereiro de 1997.

A carta está escrita assim: “Woden: Atordoado, encontrei-me aposentado (Parkinson) em tempo recorde, pela UFRN. Fiquei oito meses em casa sem saber o que fazer. Tornei-me, então, cadeira cativa de consultórios médicos. Até que fui a um que nunca tinha visto mais gordo e ele a mim.


Morbidamente, derramei em cima de sua mesa exames, receituários e diagnósticos. Ele olhou tudo, muito calmamente, e disparou a seguinte pergunta: Quais são seus hobbies? Um tanto surpreso, contei a verdade: Ler, escrever e compor músicas. Ele, então, considerou a consulta concluída, com o seguinte conselho: “Vá para casa, leia, escreva e componha suas músicas”.

Um tanto encafifado, passei uma semana para abrir a minha gaveta BM. Esta gaveta BM (banho maria) foi um conselho que João Machado me deu para nela sacudir projetos, programas, ideias incompletas, que no devido tempo voltariam à cena.

Fiquei agradabilíssimo surpreendido com o que encontrei. Conclui estas minhas primeiras Memórias Esportivas. Voltei à velha Confeitaria Cisne e novos tipos foram relembrados. E, por último, escrevi aquele que era o sonho maior: a Intentona, vista segundo um menino de 10 anos, onde conto as peripécias minhas e da minha família durante a revolução comunista de 1935.

Mostrei-as a Murilo Melo Filho e ele teve a bondade de me escrever elogioso prefácio. Já compus quatro músicas, “lindas, lindas”! Grande abraço, Zé Alexandre”

Zé Alexandre e Djalma Maranhão

No prefácio que escreveu para o livro de José Alexandre Garcia, Verissimo de Melo conta um episódio ocorrido entre Zé Alexandre e Djalma Maranhão.  Merece transcrevê-lo:

“De 1954 até o ano de 1989, ele (Zé Alexandre) trabalhou em todos os jornais natalenses. Assinou colunas esportivas com os títulos de “Dizem por aí”, “Aqui entre nós”, “O mundo da bola”, e “Gol de placa”. Serviu à “A República”, ao “Diário de Natal”, ao “Poti”, à “Tribuna do Norte” e até em jornais menores ou mais recentes como “Jornal de Natal”, de Café Filho, dirigido na época por Djalma Maranhão ou o “Dois Pontos”, dos nossos dias.

“Houve um fato curioso entre Alex (pseudônimo de Zé Alexandre) e Djalma Maranhão que ainda hoje é relembrado. Depois de uns quinze dias em que iniciou suja coluna no “Jornal de Natal”, Djalma Maranhão manchou chama-lo e declarou:

– Alex, não estou gostando de sua crônica. Você não ataca ninguém! Não arranja uma briga! Meta o cacete nessa canalha!

“Alex, embora achando graça na advertência de Maranhão, não seguiu a sua orientação jornalística. Preferiu manter o seu comportamento moderado e imparcial, sua ética de cronista lido e respeitado por todos."

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