segunda-feira, 30 de setembro de 2024

O primeiro registro em livros dos apelidos potiguares

Noé "Macunaíma", o sósia do ator Grande Otelo, é citado no livro de Procópio

APELIDOS NO FUTEBOL


O caso não é repetição do ótimo artigo do jornalista e escritor Kolberg Luna Freire. Publicado originalmente no site “Grande Ponto” e republicado recentemente neste espaço. Mas de pura coincidência!

Trata-se de um tópico (páginas 248/249) do livro “Os Esportes em Natal” (1991), do falecido jornalista José Procópio Filgueira Neto, um torcedor discreto do América de Natal, no dizer do também desaparecido jornalista Hélio Cavalcanti, na apresentação do autor na referida obra.

Vejam o que Procópio Neto, com passagens pelo “Diário de Natal” (levado por José Alexandre de Amorim Garcia), “Jornal de Natal” (do prefeito Djalma de Albuquerque Maranhão), semanário católico “A Ordem” e “Tribuna do Norte”, escreveu sobre o assunto:

- Eram tantos que o Conselho Nacional, ao reestruturar o desporto pela Resolução 46/45 (último ano do governo do presidente Vargas), decidiu intervir, determinando que as associações esportivas evitassem divulgar apelidos dos atletas, grafando seus nomes próprios.

Segue: - De nada adiantaram os esforços. Eles, que sempre existiram, passaram a aumentar consideravelmente a medida que surgiam novos clubes e jogadores de norte a sul do país. E Natal não seria exceção. Desde os primeiros anos do futebol que existiram, existem e certamente continuarão a existir.

Ainda: - Nas décadas de 20/30 os craques eram conhecidos por apelidos. Cor de Rosa, Número Um (sic), Carqueja (nome próprio do goleiro carioca do ABC alvo de reportagens anteriores e que terá abordagem subsequentes), Pequeno, Veneno, Sisudo e assim por diante.

Para não ser repetitivo basta dizer que Procópio Neto exemplifica as origens distintas mais comuns: animais, alimentos, figuras do folclore (cita Noé Macunaíma). localidades ou comunidades de origem do atleta, os com as iniciais (PV, GP, JB, etc.) e os curiosos, como o já citado goleiro cearense “Puxa Faca”. (José Vanilson Julião)

"Popó", do Ypiranga baiano, cartaz dos anos 20/30

Apolinário Santana, o "Popó", em ação contra o recém fundado Bahia (1931)

JOSÉ VANILSON JULIÃO


O passeio histórico da série de reportagens começou proposital e oportunamente no final do primeiro quinquênio da década de 40 pelo fato de ser a época em que, oficialmente, se inicia a tentativa de se disciplinar ou diminuir o uso dos apelidos no esporte, em especial o futebol.

A determinação do Conselho Nacional de Desportos, inoportuna e sem qualquer possibilidade de acatamento formal pelos principais interessados envolvidos – jogadores, treinadores e dirigentes – acaba sem ter sucesso nas duas décadas seguintes, apesar do apoio ínfimo de algumas mídias impressas e de radialistas.

A pesquisa não detectou exatamente como começou a “pinimba” contra as alcunhas, apelidos e codinomes, porém verifica que o uso deles remonta ao menos pelos anos 20, quando o futebol já estava espalhado por todo o país.


Só para citar um exemplo fora do eixo Rio de Janeiro e São Paulo, desde então os principais centros e sedes daqueles clubes que se tornariam as maiores agremiações, o foco se concentra no segundo campeonato estadual em território nacional, o Baiano (1905), depois do Paulista (1902), antes do Carioca (1906) e três anterior ao Paraense.

O principal cartaz do auri-negro Ypiranga – time preferido dos escritores Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, do mestre da capoeira Pastinha (Vicente Ferreira), Irmã Dulce e do radialista França Teixeira (já citado nesta série) – é o atacante Apolinário Santana (1902 – 1955), o "Popó".


Diz Coriolano P. da Rocha Júnior no site do clube: - Ele começa aos 14 anos, jogando em todas as posições (até no gol). Tornou-se tão popular que ganhou o apelido de “craque do povo” e “O Terrível”. Atuou por 11 clubes de Salvador, sendo o maior craque nas décadas de 20/30, e tricampeão pelo Ypiranga (1925 e 1928/29).

"Menino ouvia falarem numa linha média, da qual diziam maravilhas: Mica, Popó e Nebulosa. O meu pai, torcer do Botafogo/BA, logo após o título de campeão do Centenário, repetia que o time representara a Bahia no primeiro campeonato nacional de seleções estaduais levando Popó, que pertencia a outro clube...

Em abril de 1997, quando comecei a pesquisar episódios da história do futebol baiano, que iriam compor a coluna dominical "Memória do Futebol" no jornal "A Tarde", percebo a dimensão do craque e senti a necessidade de reunir tudo que pudesse conseguir sobre ele..." (Aloildo Gomes Pires, autor da biografia do astro).



FONTES/IMAGENS

A Tarde

Arena Rubro-negra

Bahêa na História

Bahia Notícias

Blog do Zé Osvaldo

Campeões do Futebol

Esporte Clube Ypiranga

Futebol Bahia

Futfanatics


Globo Esporte

Jornal de Brasília

Jornal Correio

Meu Zine Bahia

Museu do Futebol

Museu da Pelada

O Globo Esportivo

Ponteiro.com

Quadro de Medalhas

 

domingo, 29 de setembro de 2024

Os emblemáticos apelidos "Cara de Jaca" e "Macunaíma"

Alecrim: Geléia (técnico), Manuelzinho, Miltinho, Orlando, Miro, Berilo de Castro, Hilo, Ferreira (preparador fisco), Caranguejo, Zezé, Galdino, Paulo Tubarão, Oziel Lago e Ferreira (Furiba)

JOSÉ VANILSON JULIÃO

Noé Soares

Como "voyeur" ocasional do excelente artigo do jornalista e escritor Kolberg Luna Freire – cedido gentilmente para compor as postagens finais da série sobre os apelidos dos futebolistas – tenho dois personagens a destacar para algumas considerações.

O primeiro é o ponta-esquerda carioca Noé Soares do Rego (1/11/1951), vindo da Portuguesa da Ilha do Governador contratado pelo ABC em 1975. Logo na chegada, pela semelhança física com o ator mineiro Grande Otelo, recebe do radialista Francisco Souza Silva, o apelido do personagem "Macunaima" (personagem original do escritor paulista Mário de Andrade), interpretado pelo artista de cinema.

O ator Grande Otelo

O "Macunaima" do futebol tem esta alcunha de presente do repórter, que também era conhecido como "Chico Telefone" nos bastidores da imprensa, eleito vereador e falecido em acidente de carro perto de Mossoró (1986), para diferenciar de outro Noé, o Silva, vindo do Ferroviário cearense na mesma época para o alvinegro.

O segundo é o falecido lateral-esquerdo potiguar Valdomiro Pereira de Melo (10/5/1934), o "Miro", bicampeão (1963/64) e campeão invicto pelo Alecrim (1968). Numa pesquisa em jornais antigos, da década de 60, aparece na imprensa tão somente com o apelido advindo da contração do nome de batismo.

O acréscimo para "Miro Cara de Jaca" começou a aparecer para valer depois que pendurou as chuteiras no começo de 1960 ou mais precisamente nos anos 70, quando passou a trabalhar como roupeiro na concentração do ABC no bairro de Morro Branco.

Sendo um personagem recorrente, duas ou três vezes, do "Cartão Amarelo" e das "Numeradas" do jornalista Everaldo Lopes Cardoso no "Diário de Natal" e no jornal semanário dominical Associado "O Poti".

Ele começou no ABC (onde permanece até 1961), passa ao Atlético e em novembro de 1963 se encontra no Alecrim para retornar em 1968, após vestir a camisa do antigo tricolor Santa Cruz de Natal, Riachuelo (vice-campeão em 1967) e Centro Sportivo Alagoano (CSA).

O “Cara de Jaca” surge por ele ter o rosto, principalmente as bochechas, salpicado de reentrâncias na pele. Talvez em decorrência de varíola. Ou de “espinhas” e “cravos”. Ou também de causa genética.

Clube Atlético Potiguar (1962): Carlinhos, Canindé, Oziel Lago de Souza, Gilvan, Chicó, Biro, Jariam, Miro, José da Rocha Bezerra (Papagaio), Osvaldo Carneiro (Piaba), Paulo Tubarão e Aloísio


FONTES/IMAGENS

Diário de Natal

O Poti

Tribuna do Norte

Blog No Ataque

Blog O Alerta

Cacá Medeiros Filho

Natal de Ontem

Gol de Placa

IMDb

O Gol

RT Blau

Súmulas Tchê

Times Campeões

 

"Moderna" versão potiguar sobre alcunhas dos jogadores

Rivaldo de Oliveira Paula, o "Saquinho" (penúltimo agachado), um dos personagens

Apelidos no futebol*

Kolberg Luna Freire

Jornalista e escritor

Escritor, cronista e jornalista K. L. Freire

Nos tempos de hoje, a escalação de equipes de futebol mais parece com a chamada de uma turma de colégio antes da aula de matemática. Jogador de futebol agora tem nome e sobrenome. A seleção brasileira, que anteontem goleou a Bolívia, é um exemplo disso. Alex Telles, Everton Ribeiro, Phillipe Coutinho, Renan Lodi, Roberto Firmino e Thiago Silva são alguns dos pomposos nomes que estiveram em campo. No banco, Bruno Guimarães, Gabriel Jesus e Rodrigo Caio.

Antes, era uma raridade chamar o jogador pelo seu nome e sobrenome. Alguns exemplos mais famosos são os casos dos dois “Santos”: Djalma e Nilton; Luiz Pereira, Dirceu Lopes, Ademir da Guia, Vilson Taddei ou Tadeu Ricci. Raríssimo era ser chamado pelo nome completo, como era o caso de Paulo César Carpegiani.    

Não se vê mais jogadores de futebol com apelidos como era comum no passado. Algumas dessas alcunhas eram trazidas de casa e permaneciam em campo, como os casos de Zico, Zito, Pelé, Didi, Vavá, Chico, Dequinha, Julinho, Toninho e outros. Também, imperou por muito tempo os diminutivos e aumentativos a definir o tamanho do jogador. Assim como diversos Zezinhos, Pedrinhos e Joãozinhos povoaram os campos de todo o país, também era comum vermos os vulgos Marcão, Paulão ou Luizão.  

Evaldo de Oliveira Paula, o "Pancinha"
(irmão de "Saquinho), de camisa listrada,
"Saquinho" (de claro), e o massagista
"Macarrão", no bairro das Rocas

Em meio aos apelidos, a família “D” do alfabeto talvez seja a mais pródiga, pois todas as variações tiveram um representante no futebol, vejamos: Dadá, Dedé, Didi, Dodô, Dudu.

Outro apelido comum e que ainda resiste bravamente nos tempos atuais são os relacionados à geografia. Quantos fulanos acresciam/acrescem ao seu nome a expressão relacionada ao seu Estado ou cidade natal! Apodi, Itaqui, Tiago Orobó, Maricá, Birigui, Edu Dracena, Junior Baiano, Juninho Pernambucano, Wellington Paulista, Ronaldinho Gaúcho, Alexandre Mineiro, Marcelinho Paraíba, Thiago Potiguar, fora os inúmeros “Cearás” que desfilaram ou desfilam nos gramados brasileiros.

A mais famosa linha de todos os tempos do Clube Náutico Capibaripe/PE foi o quarteto eternizado por Nado, Bita, Nino e Lala. A Portuguesa de Desportos/SP, nos anos 70, teve um ataque com Tatá, Dicá e Xaxá.  Sem dúvida, casos curiosos e relacionados a apelidos. 

Direcionando os olhos para o nosso Estado, alguns apelidos curiosos passaram por aqui. Como esquecer de Dedé de Dora, Cascata, Pedrada, Jangada, Hélio “Show”, Jorge “Demolidor”, Hélcio “Jacaré”, Bileu, Barata, Baíca, Saquinho, Pancinha, Biro Biro, Lúcio “Curió”, Miro “Cara de Jaca”??? Uma viagem deve ser ir buscar a origem de cada apelido desses.  

O Alecrim chegou a ter na mesma equipe um zagueiro viril chamado “Ticão” e um atacante conhecido por “Tiquinho”.   

Ainda lembrando do RN, na época em que a TV Universitária (Canal 5) transmitia os jogos do Estadual em forma de vídeo tape, o narrador era José Ary, que gostava de, se não apelidar, mas de abreviar o nome dos jogadores. Era uma diversão assistir os jogos ouvindo a narração trazer os nomes de “Baltaza” (Baltazar), “Sandova” (Sandoval), “Noriva” (Norival) ou “Mara” (Marinho Apolônio), este que também era chamado de “o Pantera”.  Já quando ia falar sobre “Dedé de Dora”, o respeito do narrador chegava ao ápice e, sabendo que o “de Dora” fazia alusão a mãe do atleta, Ary fazia questão de chamar o jogador de “Dedé de Dona Dora”.  Já em relação ao saudoso Arié, o narrador sempre completava com o bordão “o que não morre em pé”.

Também não se pode esquecer a saudosa memória de Hélio Câmara de Castro, o maior narrador esportivo de todos os tempos do rádio potiguar e que também tinha seus rompantes a “batizar” os jogadores. Baltazar virou o “Conde Drácula”, Noé Soares era o “Macunaíma”, o zagueiro Odélio tornou-se o “Pastor”, Sandoval era o “Touro Miúra”, Moura o “Príncipe Etíope” e Carioca o “Boca Negra”. Hélio justificava dizendo que a carga de adrenalina num jogo de futebol é grande, e ele criava esses personagens para aliviar a tensão. 

Talvez a profissionalização do futebol tenha concorrido para que os jogadores prefiram ser conhecidos pelos seus próprios nomes de nascença, porém, isso fez perder um pouco o lado folclórico e engraçado do futebol.

 

*Original publicado no site "Grande Ponto" (11/10/2020). O autor escreveu os livros “O tempo do futebol e um poema”, sobre o Estádio Castelo Branco/João Machado, e a biografia “Ribamar – O Guardião da Memória do futebol potiguar” (2023)

"Dicionário dos Apelidos" é a grande novidade temática

Jornalista paulista Cláudio Gioria escreveu três livros sobre futebol


A mais recente novidade sobre o tema dos apelidos no futebol vem de uma dica do jornalista e escritor potiguar Kolberg Luna Freire – autor de dois livros sobre o esporte.

Trata-se do “Dicionário dos Apelidos do Futebol Brasileiro”, da Editora UICLAP, e lançado em 13 de setembro deste ano.

Com o longo subtítulo: - As origens de mais de 800 nomes que você se acostumou a falar sem saber o motivo.

Com 212 páginas a sinopse da obra explica: - Pela primeira vez no Brasil, um livro se propõe a explicar a origem de mais de 800 apelidos de jogadores brasileiros de futebol, nomes que todos se acostumaram a repetir, mas poucos conhecem o motivo de cada um.

O autor é o jornalista paulista Cláudio Gioria (formado pela Pontifícia Universidade Católica – PUC de Campinas/SP), com MBA em Marketing Digital pela Fundação Getúlio Vargas.

Ele tem acervo particular de mais de cinco mil itens, entre livros, jornais e revistas esportivas.


É autor, também, do "Almanaque do Rio Branco – O Embaixador de Americana", e do "Almanaque El Clássico", em que conta a história completa de todos os jogos Real Madrid x Barcelona.


Informações FONTES

Acervo Histórico do Rio Branco

Globo Esporte

Hora Campinas

Jornal O Jogo

Liberal

Museu do Futebol

Rio Branco Esporte Clube

Apelidos engraçados convivem com nomes compostos

O "Pipico" convive com nomes compostos/Paullo Almeida-Folha de Pernambuco

Em seguida ao artigo do comentarista da “Placar”, que reflete a situação dos apelidos dos jogadores nos anos 90, a pesquisa encontra, também na rede, a mesma singularidade para os anos 2000.

Com uma excelente reportagem – publicada dois anos depois daquela da revista paulista – na “FOLHA DE PERNAMBUCO” (3/5/2019), assinada pelo jornalista Fernando Barros: “Apelidos perdem espaço para nomes compostos no futebol”.

E introdução: “Uma realidade que caminha na profissionalização com que o futebol é encarado hoje, mas que por outro lado tira um tanto do folclore e da graça do esporte.”

A reportagem original

... Diferente de boa parte do mundo o comum por essas bandas era que os jogadores não fossem chamados pelo sobrenome ou até mesmo pelo primeiro nome.

O lado mais lúdico da modalidade foi expresso em apelidos tão esdrúxulos quanto memoráveis, a exemplo de Pelé, Garrincha, Zico, Tostão.

Ou até alguns mais íntimos, que refletia o tratamento carinhoso dos brasileiros, como Didi, Vavá, Dadá, Kaká.

Por aqui mesmo, em Pernambuco, ainda surgem alcunhas um tanto bem humoradas, como Caça-Rato, Brasão, Carlinhos Bala, Kuki, Grafite, Pipico...

No entanto esse cenário parece ter sofrido uma mudança nos últimos anos. Cada vez mais os jogadores têm adotado o nome de nascença em suas camisas ou vêm utilizando o nome composto.

Uma realidade que caminha na profissionalização com que o futebol é encarado hoje, mas que por outro lado tira um tanto do folclore e da graça do esporte.

Antes inimaginável nos últimos anos hoje é comum ver jogadores sendo "orientados" a abandonar o apelido com o qual iniciaram suas carreiras.

"Temos um cliente do Figueirense que é lateral-esquerdo, cujo nome é Matheus Destro. Destro é o sobrenome dele. E aí fica aquela coisa: 'joga na lateral-esquerda, mas o nome é destro'.

Cheguei a conversar com ele, se ele queria ser chamado assim mesmo, porque a gente sabe como é, às vezes o torcedor pode fazer uma piada, mas ele disse que não ia mudar, porque já fazia tempo que era chamado assim e aí tem situações que a gente tem que respeitar.

É decisão do jogador, mas é algo que a gente não faz muito de imposição. Isso é muito natural, são casos que acontecem", afirma Arthur Virgílio, jornalista e fundador da AV Assessoria de Imprensa, empresa que trabalha com a divulgação de profissionais do esporte.

"No Ceará, Felipe (meia) tem o apelido de Baixola. O próprio Ceará, em ações de marketing, usava o jogador com o nome de Felipe Baixola, mas a gente passou a utilizar mais o Felipe Silva. E ele mesmo falou que gostava de ser chamado de Felipe Silva", acrescenta, sobre o atleta, conhecido pela baixa estatura (1,71m).

No entanto, segundo o próprio Arthur Virgílio, não vai ser um apelido estranho ou curioso que vai afastar o jogador de uma carreira de sucesso. "Eu não sei se pode pesar na valorização ou desvalorização do atleta.

Quando o clube contrata um jogador ele olha o macro, o desempenho do jogador dentro de campo. Não acredito que algum clube deixe de contratar um jogador em virtude da nomenclatura, do nome artístico", avalia.

A mesma opinião é compartilhada por Ytalo Pontes, empresário de jogadores. "É uma situação inusitada. Eu sou daqueles que pensa que o mais valioso é a qualidade que o jogador tem, mas existem nomes com umas particularidades interessantes.

Eu mesmo já tive que interferir numa situação dessas, com um jogador da Paraíba. O nome dele era até engraçado, é conhecido como Birungueta (meia do Nacional de Patos/PB).

E aí quando eu o mandei para a Europa as pessoas lá não sabiam o que era isso. Se era nome, se era apelido... e ficou meio como uma chacota. Aí acabou mudando (nome de batismo é João Emanuel Ferreira Souza), voltou atrás de novo, ficou Birungueta e terminou assim", conta Pontes.

De acordo com Pontes, a adoção de nomenclaturas mais "comuns" por parte dos atletas se deve em boa parte ao fato de que há muitos mais jogadores na ativa hoje em dia. "Outro dia estava falando desses nomes compostos aí, Bruno Silva, João Paulo...

Acontece porque se a gente comparar com antigamente, o Brasil devia ter 2 mil jogadores. Hoje temos 200 mil. Acho que essa derivação veio mais da quantidade, para poder especificar, diferenciar.

Antigamente, Sócrates, Rivelino, só tinham esses com esse nome. Hoje, temos vários Brunos", diz o empresário, que vê a utilização dos apelidos no futebol como uma faca de dois gumes.

"Esses casos específicos têm a parte boa, que é quando o jogador tem um bom momento, e ele tem um nome engraçado, é mais fácil de cair na graça, mas também tem coisas que às vezes atrapalha. A mesma torcida que aplaude e vibra é a mesma que vaia esse tipo de jogador".

Na visão de Rodrigo Gomes, também empresário de jogadores, é algo natural pela modernização do esporte. "Eu acho que isso acontece mesmo pela profissionalização do futebol. O futebol, nos últimos anos, mudou muito, principalmente nessa questão.

Eu, particularmente, gosto de apelido, porque diferencia o jogador. Digo a todo mundo que, se o cara se chama Rodrigo, por exemplo, quando pegar na bola dez vezes vai ser sempre Rodrigo. Já se ele usa um apelido tipo 'Galego', quando pegar a segunda vez na bola, já é diferente, chama mais atenção", aponta.

"Agora também depende do apelido né. O que eu vejo no futebol, muitos treinadores hoje, até diretores às vezes, têm preconceito com diminutivo, eu já percebi isso. Tem pro lado ruim e lado bom, mas o apelido chama mais atenção.

Tem um exemplo. Caça-Rato, mesmo, eu não gosto. Agora para ele foi bom. O nome dele é Flávio. Caso fosse só Flávio ele dificilmente seria lembrado. Já Caça-Rato todo mundo sabe quem é. Apesar de ser feio, mas foi o que o diferenciou, o ajudou a ser conhecido no Brasil todo", reflete Gomes.

Em um mundo cada vez mais tomado por nomes mais "profissionais", como Renato Augusto e Douglas Costa, e menos povoado por alcunhas memoráveis, como Chulapa, Dinamite e Vampeta.

sábado, 28 de setembro de 2024

A guerrinha entre nomes compostos e os apelidos

O atacante goiano Túlio tomou "emprestado" o "Maravilha" do carioca Dario

Como não tive acesso aos antigos jornais da década de 90 procurei algo na rede sobre o tema dos apelidos dos jogadores de futebol no período.

E encontrei um excelente artigo assinado pelo repórter Fernando Beagá para a já tradicional revista “Placar” com o título: “Memória: os melhores apelidos dos anos 90”.

E a introdução: - Relembre alguns jogadores do tempo em que, sem tanta influência dos empresários e dos assessores de imprensa, o futebol brasileiro era mais divertido.

O texto bem humorado foi publicado em 21 de março de 2017 e atualizado em 21 d outubro de 2021. (JVJ)

O comentário original

Hoje é assim: o garoto aparece e o primeiro contato com a imprensa já vem com o pedido para chamá-lo pelo nome de batismo e o sobrenome em detrimento do tradicional apelido de duas sílabas.

Coisa de empresário, por afetação “gourmet” ou desconhecimento da cultura do futebol brasileiro.

Essa cultura fez Tchê Tchê sobreviver a Danilo Neves e Dentinho morder Bruno Bonfim. Nos anos 90 os apelidos davam de goleada nos nomes compostos.

Os campeões mundiais de 1994 refletem a época: Cafu, Branco, Mazinho, Dunga, Zinho, Bebeto, Viola… Até Müller é apelido – o ex-atacante se chama Luís Antônio –, e Zetti é um pedacinho de Armelino Donizete.

E, pela primeira vez, Ronaldão viu seu aumentativo estampado numa camisa, para diferenciá-lo do menino Ronaldo, que Galvão Bueno insistia em chamar de Ronaldinho, mas depois virou Fenômeno.

Fosse hoje, gastar-se-iam linhas e linhas de comentários em redes sociais para debater apelidos como Juca Baleia, goleiro do Sampaio Corrêa, ou Pirata, atacante do Náutico pela assimetria dos olhos.

Sem os dentes da frente quando chegou garoto ao Vitória, o baiano Vampeta (mistura de vampiro com capeta) soube rir de si mesmo e se tornar um dos mais folclóricos personagens do futebol brasileiro.

A sempre criativa crônica esportiva deu sua contribuição ao folclore do futebol. O Botafogo tinha o rápido Valdeir The Flash, campeão carioca em 1990. Super Ézio era o herói do ataque do Fluminense e Valdir Bigode o do Vasco.

O centroavante Paulinho McLaren comemorou um gol homenageando Ayrton Senna na véspera da vitória em Interlagos, em março de 1991.

Outro rei da autopromoção, Túlio Maravilha pegou emprestado o “sobrenome” de Dadá.

Nomes de guerra: - Um timaço que renega a certidão de nascimento: Dida; Giba, Tonhão, Caçapa e Piá; Pingo, Boiadeiro, Cuca e Macula; Tiba e Dodô.

Dario (agachado no centro) incorporou ao personagem real o "Maravilha", o "Rei Dadá" e o "Peito de Aço" quando fez sucesso nas Minas Gerais depois de aparecer timidamente no Campo Grande do Rio


ABC contribui com seus apelidos nos anos 80

Boa parte deste elenco alvinegro permanece para o campeonato nacional de 1984

JOSÉ VANILSON JULIÃO

Cinco anos depois, agora na década de 80, pela terceira vez, a agência em parceria com o mesmo jornal, dão o ar da graça de abordagem parecida com as anteriores sobre os apelidos dos jogadores no campeonato nacional.

Para não perder a tradição a “Sport Press” produz a reportagem agora mais curta (uma coluna) quase, senão nos mesmos moldes das anteriores, e o “Diário de Natal” (sexta-feira, 17/2/1984) sapeca, com o detalhe de não ter foto ilustrativa como as outras, o estimulante título: “Apelidos loucos no mais longo dos certames nacionais.”

E para não perder o embalo e o costume algumas alcunhas são repetidas – retiradas do baú da redação -, mas ainda apresenta poucas novidades, como o atacante Tangerina, um tal de Lamparina (será repetido?), e tendo como surpresa o meia potiguar José Gomes de Medeiros, “Dedé de Dora” (ABC), apelido de infância que alude a genitora.

Da mesma forma lembra algumas categorias dos apelidos (comidas e bebidas, animais e curiosos) sem esticar em demasia como das outras vezes. Mas o desfile não deixa de ser comprido: Noé “Macunaíma” Soares e Curió (ABC), Birungueta (Ferroviário/CE), Catatau (Atlético/MG), Petróleo (Coritiba), Triguila (Moto), Panzarielo e Mão de Onça (Operário de Várzea Grande/MT), Sima (Auto Esporte de Teresina), Gato (Nacional de Manaus/AM) etc.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Uma nova formação para "time" somente com apelidos

"Pilinguiça" (agora na ponta-direita) é um dos personagens repetidos em reportagens

JOSÉ VANILSON JULIÃO

Como na reportagem anterior a abordagem sequencial dos apelidos começa com uma escalação de um time completo com 11 alcunhas.

A “pequena” diferença está na inclusão de outros jogadores com os estranhos, curiosos e extravagantes cognomes pelos quais são mais conhecidos.

Casos do goleiro Edson Cimento (Tuna Luso), Raquete (Juventude), Fumaça (Goitacaz), Besouro (CRB), Tinteiro (Leônico), Astronauta (São Paulo/RS), Sebinho (Figueirense), Bife (Mixto) e Pedrada (América/RN).

Há somente duas repetições: o famoso “Pilinguiça” (Lindomar Dudman na pia batismal), aquele mesmo do Flamengo de Teresina e do Piauí Esporte Clube, e Patrulheiro (Paysandu).

Em seguida, dentro das classificações (líquidos e comestíveis, animais e aves, objetos diversos...), uma quase interminável lista com algumas repetições e outras novidades em relação à reportagem mais antiga...

Exemplos: Gatãozinho, Tutu e Coca (São Bento), Pinga (Figueirense), Pirulito (Vila Nova/MG), Cebolinha (Goytacaz), Lambari (Criciúma), Sarandi (Londrina), Pitanga (XV de Novembro/Piracicaba), Lúcio Sabiá (Ferroviário/CE), Castor (Colorado), Jacaré (Campinense), Puma (Tuna Luso), Mosca (Operário/MT), Patinha (CRB)...

Ainda: Bacurau (Sampaio Corrêa), Rato Branco (CRB), Borrachinha (Botafogo), Cipó (Confiança), Jangada (Ceará), Radar (Brasil), Alfinete (XV/Jaú), Zé Preta (Vitória/BA), Nego Chico (Potiguar/Mossoró), Jorge Demolidor (Confiança), Barrote (Rio Negro), Mica (Sergipe), Xepa (Fast), Corró (Rio Branco), Misso (Itabaiana), Delém (Francana), Tulica (Vila Nova/GO), Barrinha (Atlético/GO), Tatato (Maranhão), Rotta e Lotti (Atlético/PR), etc.