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domingo, 11 de março de 2018

A verdade sobre o fenômeno Miguel Mossoró


Tadeu Arruda Câmara

O PTC (Partido Trabalhista Cristão) estava em ferrenha disputa quando o empresário Augusto Maranhão, homem de boa cepa que, além de gostar do que fazia (transporte coletivo) e de adorar política, entrou na briga.
Sendo ele amigo de Miguel Joaquim da Silva, sargento reformado do Exército Brasileiro, conhecido por Miguel Mossoró, que, além de gostar de política e de ser uma figura bem-humorada, saiu vencedor.
Com sonhos extravagantes, parecia até Dom Quixote de La Mancha, personagem de seu xará Miguel de Cervantes, em busca de sua amada Dulcinéia, chamada Prefeitura de Natal.
Terminadas as convenções aparecem os candidatos a prefeito: Carlos Eduardo (PSB), Luiz Almir (PSDB), Miguel Mossoró (PTC), Fátima Bezerra (PT), Ney Lopes (PFL), Dário (PSTU) e Leandro (PHS).
É dado o sinal de partida para o grande pleito. Os meios de comunicação caem em campo entrevistando os candidatos, sempre com a velha e conhecida pergunta: “Você tem plano de trabalho para administrar Natal?” Uns respondiam saneamento básico, outros, transportes coletivos, saúde, segurança, etc.
Uma emissora de televisão entrevista Miguel Mossoró fazendo a crucial pergunta: “Miguel Mossoró, o senhor já tem seu Plano de trabalho para administrar Natal? Ele responde: tenho sim, senhor. O repórter pede, então, que ele mostre para os telespectadores o Plano. Foi aí que a coisa pegou. Miguel se contorce todo, coça a cabeça, gagueja e sai com essa: “Não posso, o Plano está dentro de cofre bem seguro, guardadinho para ninguém copiar”.
Inicia-se aí, a figura cômica e controversa do candidato Miguel Mossoró, ou simplesmente Mossoró.
Contou-me Augusto Maranhão que, servindo o exército na ilha de Fernando de Noronha, escutava sempre os ilhéus dizerem que, de vez em quando, viam as chaminés das indústrias de Natal expelirem fumaça.
Claro que era brincadeira. Brincadeira que foi assunto num almoço no restaurante Xique-Xique, em plena campanha, onde estavam presentes o candidato Mossoró, um jornalista e alguns convidados. Mossoró, escutando a história dos ilhéus e, criticando a demora da ponte Forte dos Reis Magos/Redinha, sentencia: “sendo prefeito de Natal, vou construir uma ponte de Natal a Fernando de Noronha.
Não deu outra. O jornalista entrevista Miguel Mossoró e publica extensa matéria num dos jornais de maior circulação do Estado. Miguel cria notoriedade. A imprensa, em geral, tenta passar Mossoró por um lunático, fazendo-o ficar mais conhecido.
Augusto Maranhão derrete-se em risos, chama Mossoró e diz que encontrou quem emprestasse o dinheiro para construir a monumental ponte. O dinheiro viria dos países árabes. Eram os ‘petrodólares’. Miguel aceita e anuncia, em seu programa eleitoral no rádio e televisão, que os recursos estavam chegando.
Augusto cria o personagem do xeique, fantasiando o próprio irmão (servidor aposentado do TRT/6ª Região) a caráter, com turbante e túnica, levando-o para o programa eleitoral como sendo o representante dos árabes. Foi sucesso total! Augusto leva Mossoró para a praia, criando mais um programa eleitoral. Desta vez, combatendo o turismo sexual, quando chama uma transeunte e manda fazer o pedido de socorro a Mossoró, já que um gringo a perseguia. Miguel Mossoró grita, dizendo que daria uma ‘mãozada’, surgindo daí, a sua marca característica.
Não podemos deixar de relatar o importante papel que o ‘Jornal de Hoje’, maior em circulação no Estado, teve ao dar ao candidato Mossoró, o mesmo espaço dos demais, levando-o a sério através, principalmente, dos jornalistas Ivo Freire e Jurandir Nóbrega. Certo dia, cheguei até o superintendente, senhor Marcos Aurélio, dizendo que não haveria segundo turno; que a máquina do governo Vilma de Faria estava azeitada, pronta para liquidar a eleição no primeiro turno. Ele respondeu que o jornal estava a serviço de todos.
Criei ânimo e fui até a residência de Miguel Mossoró. Chegando lá, encontro toda a família, seis filhos, a esposa e um genro. Peço para fazer uma reunião, no que sou atendido. Mossoró era meu velho amigo e irmão camarada.
Dando início à reunião, disse que a campanha estava muito boa, que tudo até aquele instante funcionou muito bem, mas era como fogo que não queimava. Existia muita repercussão em torno da figura dele, mas era necessário mudar a bússola eleitoral, fazendo de toda aquela brincadeira um programa sério, pois até agora ele, conforme as pesquisas não saíam dos 0,6 pontos percentuais.
Citei como exemplo Luís Rebouças, conhecido por OVNI, que ficou famoso até no “New York Times”, e não obteve nenhuma votação para vereador. Falei que estava ali sem interesse algum, nada queria, e sim, ajudar o amigo que em outras épocas havia me ajudado.
Encontro-me com Augusto Maranhão e, de comum acordo, elaboramos nova estratégia: o próximo programa eleitoral seguiria outra linha. Miguel Mossoró diria que estava chegando o fim de mais uma campanha política em Natal, que garantia não fazer ninguém chorar (isto para mostrar que ele tirou a acidez da eleição), que era um homem sério, que as brincadeiras foram a maneira mais prática de criticar os maus políticos. Todos concordam; principalmente Márcia, a filha que Mossoró mais escuta.
Voltando para o Jornal de Hoje, pedi ao Jornalista Ivo Freire que colocasse na ‘Coluna Entrelinhas’ minha opção: em vez de votar no candidato da governadora Vilma de Faria, Carlos Eduardo, na candidata do presidente Lula, Fátima Bezerra ou no candidato Nei Lopes, com propostas de vender galeto barato, coisa ultrapassada do tempo do galego do Alecrim, eu preferia sonhar pescando na futura ponte de Fernando de Noronha.
O assessor da governadora, Cláudio Porpino, havia criado a ‘Onda Quarenta’, fazendo grande carreata. Eu imediatamente parodiei, criando a ‘Marola Trinta e Seis’, número de Mossoró, e marquei uma carreata para um dia de sábado. Usando uma caminhonete de minha propriedade, fiz o Miguel Móvel, adaptei uma sirene de ambulância, um som improvisado com a música do “bezerro mamador” (história de um bezerro que passou do tempo de apartar), criticando o prefeito.
Colocamos o bloco na rua. Foi sucesso total, Mossoró, com a família na carroceria, gesticulava mãozadas para os gringos e eu fazia a locução. No meio da carreata, aparece Augusto Maranhão dizendo que não acreditava no que via. Eram muitos carros. Seguíamos em direção à praia, onde seria a construção da ponte de Fernando de Noronha. Chegando lá, os discursos foram os mais variados. A multidão delirava... Os jornais, rádio e televisão deram o maior destaque.
Depois que mudamos o azimute da campanha, Miguel Mossoró começou a subir nas pesquisas, saindo de 0,6%, nos últimos quarenta dias, para 18% na reta final. A governadora Vilma de Faria, juntamente com Micarla de Souza, entrou em desespero; ambas “batiam” (via TV Ponta Negra) em Mossoró a todo instante, com frases pesadas, como: “ele é maluco” e “quem o acompanha também é desajustado”. Eu orientava Mossoró para não responder, que tudo aquilo já era desespero.
Para completar o cenário e rebater as nefastas palavras da governadora, fomos para o ‘Beco da Lama’, para nos reunir com jornalistas, escritores e poetas. Estacionamos o Miguel Móvel e haja discurso.
Foi aí, que tive a idéia de convidar o Presidente da OAB, Joanilson de Paula Rego, dizendo que não estávamos forçando sua adesão, mas que ele fosse dizer alguma coisa, inclusive para a classe de intelectuais sobre a campanha. Doutor Joanilson, atendendo nosso pedido, subiu no Miguel Móvel (já nos nossos braços) e discursou bonito, dizendo que Miguel Mossoró era o gemido do povo. No outro dia, os jornais estamparam: Doutor joanilson de Paula Rego adere à campanha de Miguel Mossoró.
Finalmente, preparei tudo para o dia da eleição. Um carro com teto solar, pelo qual Miguel Mossoró se apresentaria e acenaria para os eleitores nas principais ruas e avenidas de Natal. Só que, logo cedo, aparece um advogado, salvo engano, chamado Saldanha dizendo que, se ele fizesse isso, seria preso, pois era contra as leis eleitorais. Ainda relutei, mas Miguel disse que era melhor seguir os conselhos dele. Depois, descobrimos que ele veio a mandado de um adversário.
Finalmente tivemos o primeiro turno com os seguintes resultados: CARLOS EDUARDO (PSB) 137.664 (37,3%), LUIZ ALMIR (PSDB) 112.403 (30,46%), MIGUEL MOSSORO (PTC) 67.065 (18,17%), FATIMA BEZERRA (PT) 27.331 (7,41%), NEY LOPES (PFL) 21.115 (5,72%), DÁRIO (PSTU) 2.702 (0,73%) e LEANDRO (PHS) 760 (0,21%).