O "Carneirinho" na esquina do número 54 da Avenida Tavares de Lira evoca saudade/Foto: Roberto Vital |
O "Clube do Bolinha" é alvo da coluna "Actas Diurnas" do escritor potiguar Luís da Câmara Cascudo no “Diário de Natal” (quarta-feira, 9/4/1952).
“Carneirinho de
Ouro”
Câmara Cascudo: sempre solícito |
- Jorge Calafange e o poeta Antídio Azevedo levam-me ao Carneirinho de Ouro. Subo, na Tavares de Lira, uma escadinha asfixiante e curva e entro num salão amplo, arejado, acolhedor, lavado pela viração que o janelório canaliza. Bilhares de snooker, mesas de dominó, "garçons" zelosos e risonhos dão as boas vindas. A cerveja gelada enevoa os copos. Os frios são deliciosos. As janelas trazem o ar da tarde, numa luminosidade tamisada e doce que anuncia a paz melancólica da noite próxima.
Fico assistindo
os duelos de snooker e as vozes dos jogadores de dominó. É um ambiente
tranquilo, bem educado, sereno, de cordialidade, de bom humor feliz.
O senhor José
Augusto de Freitas vem sentar-se e contar-me a história do "CARNEIRINHO DE
OURO". É uma história rápida e simples, mas digna para os fastos
associativos da cidade. Uma associação que possui quinhentos sócios e não
dívidas. Nem barulhos. Nem divisões. Nem querelas.
Foi fundado em 8
de agosto de 1936. Mas o nascimento é de 1932, entre os amigos do senhor José
Augusto de Freitas, que tinha uma pequenina tabacaria na entrada do prédio 54
da Tavares de Lira. Reuniam-se para conversa e todas as tardes um deles pagava
o café. Nasceu a ideia, Havia um presidente semanal. João de Almeida Barbalho
deu o nome CARNEIRINHO DE OURO, lembrando sociedade idêntica existente no
Recife.
Instalada o
CARNEIRINHO DE OURO todas as suas iniciativas são destinadas, em ampla
percentagem, ao auxílio do próximo. Tem ajudado muita viúva, muito doente,
muito desesperado. Os sócios pagam dois cruzeiros por mês. Snooker, gamão,
xadrez, dominó, damas, esperam os devotos. Há plano regular de benefício,
auxílio funeral, seguro de acidente para os sócios. A primeira apólice paga foi
pela morte de Omar Romero de Medeiros. Tem depósitos e não tem subvenção.
Foram seus
presidentes João de Brito Dantas, Norberto Silva, Mario Barbosa, Abelardo
Calafange (duas vezes), Júlio César de Andrade, José de Oliveira Costa, Alberto
Pereira Campos e o atual, Antônio Pereira de Macedo. O senhor José Augusto
Freitas é o tesoureiro e o irmão-vigilante, mantendo o ritmo afetuoso.
Este é o
CARNEIRINHO DE OURO cuja lã, como o velocino clássico, espalha ao redor os
benefícios da caridade e as alegrias do convívio amistoso e constante.
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