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quarta-feira, 19 de junho de 2024

O zagueiro que saiu do ABC para o Madureira (VI)

O "Carneirinho" na esquina do número 54 da Avenida Tavares de Lira evoca saudade/Foto: Roberto Vital

O "Clube do Bolinha" é alvo da coluna "Actas Diurnas" do escritor potiguar Luís da Câmara
Cascudo no “Diário de Natal” (quarta-feira, 9/4/1952).

“Carneirinho de Ouro”

Câmara Cascudo: sempre solícito

- Jorge Calafange e o poeta Antídio Azevedo levam-me ao Carneirinho de Ouro. Subo, na Tavares de Lira, uma escadinha asfixiante e curva e entro num salão amplo, arejado, acolhedor, lavado pela viração que o janelório canaliza. Bilhares de snooker, mesas de dominó, "garçons" zelosos e risonhos dão as boas vindas. A cerveja gelada enevoa os copos. Os frios são deliciosos. As janelas trazem o ar da tarde, numa luminosidade tamisada e doce que anuncia a paz melancólica da noite próxima.

Fico assistindo os duelos de snooker e as vozes dos jogadores de dominó. É um ambiente tranquilo, bem educado, sereno, de cordialidade, de bom humor feliz.

O senhor José Augusto de Freitas vem sentar-se e contar-me a história do "CARNEIRINHO DE OURO". É uma história rápida e simples, mas digna para os fastos associativos da cidade. Uma associação que possui quinhentos sócios e não dívidas. Nem barulhos. Nem divisões. Nem querelas.

Foi fundado em 8 de agosto de 1936. Mas o nascimento é de 1932, entre os amigos do senhor José Augusto de Freitas, que tinha uma pequenina tabacaria na entrada do prédio 54 da Tavares de Lira. Reuniam-se para conversa e todas as tardes um deles pagava o café. Nasceu a ideia, Havia um presidente semanal. João de Almeida Barbalho deu o nome CARNEIRINHO DE OURO, lembrando sociedade idêntica existente no Recife.

Instalada o CARNEIRINHO DE OURO todas as suas iniciativas são destinadas, em ampla percentagem, ao auxílio do próximo. Tem ajudado muita viúva, muito doente, muito desesperado. Os sócios pagam dois cruzeiros por mês. Snooker, gamão, xadrez, dominó, damas, esperam os devotos. Há plano regular de benefício, auxílio funeral, seguro de acidente para os sócios. A primeira apólice paga foi pela morte de Omar Romero de Medeiros. Tem depósitos e não tem subvenção.

Foram seus presidentes João de Brito Dantas, Norberto Silva, Mario Barbosa, Abelardo Calafange (duas vezes), Júlio César de Andrade, José de Oliveira Costa, Alberto Pereira Campos e o atual, Antônio Pereira de Macedo. O senhor José Augusto Freitas é o tesoureiro e o irmão-vigilante, mantendo o ritmo afetuoso.

Este é o CARNEIRINHO DE OURO cuja lã, como o velocino clássico, espalha ao redor os benefícios da caridade e as alegrias do convívio amistoso e constante.

 


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