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terça-feira, 15 de outubro de 2024

Polêmica com quantidade de jogador estrangeiro é antiga (II)

SELEÇÃO: Barbosa, Augusto, Danilo Alvim, Juvenal, Bauer, Ademir Queixada, Zizinho, Jair, Chico, Friaça e Bigode


“O PLATINISMO JÁ NÃO AMEAÇA MAIS O FOOTBALL BRASILEIRO”

Com o título acima o cronista Mário Leite Rodrigues Filho – na coluna “CRÍTICAS E SUGESTÕES” – no “Jornal dos Sports” (domingo, 22/7/1945), se referiu pessoalmente e pela única vez com detalhes ao domínio do futebol argentino. E para a compreensão do período eis a reprodução do comentário da primeira página do caderno "Segunda Seção" do impresso especializado em esporte pertencente ao autor do histórico texto.

- Compreendia-se que, há alguns anos, houvesse quem se assusta-se as importações dos jogadores. Aliás, as medidas restritivas, tomadas pelo Conselho Nacional de Desportos, foi uma consequência dessas apreensões, sendo justa, pelo menos justificáveis. Grandes clubes cariocas chegaram ao exagero de colocar em campo cinco jogadores estrangeiros. Com facilidade se formava aqui um escrete argentino. Os clubes cariocas, depois do fracasso da “Copa Roca”, tomaram-se de fantasia pelo futebol argentino. Quando algum deles se via a braços com um problema de equipe não procurava resolvê-lo com uma busca no mercado brasileiro. O entusiasmo pelo futebol argentino retardou, é verdade, a renovação a renovação de valores do futebol brasileiro. Jogadores que só esperam uma oportunidade para aparecer ficavam na cerca, enquanto os craques mandavam vir craques duvidosos de Buenos Aires.

AS IMPORTAÇÕES E RENOVAÇÕES DE VALORES

Há um exemplo típico de quanto esse entusiasmo pelo futebol argentino prejudicava a renovação de valores. Quando ia enfrentar o Independiente o Flamengo ainda não tinha renovado o contrato e discutia com o jogador Gonzalez e queria fazê-lo no dia do encontro internacional. O Flamengo não contava, absolutamente, com a recusa do jogador em disputar a partida sem contrato. E teve de lançar mão de um garoto de 18 anos vindo de Niterói pelo braço de um torcedor: Zizinho. O êxito de Zizinho encerrou a carreira de Gonzalez no Flamengo. Nem o Flamengo, porém, nem outro grande clube qualquer, tomou o aparecimento de Zizinho como um bom sinal. A temporada do Independiente verificou-se em 1939 (ano da Copa Roca). A lembrança do fracasso ainda estava bem viva. E mesmo se não levasse em conta a competição a de 40 serviria para dar exemplo aos que duvidavam do futebol brasileiro. Ainda não tivera explicação satisfatória o fracasso e o futebol brasileiro se expunham a novos revezes.

UMA ÉPOCA QUE JÁ PASSOU

A suspensão das atividades internacionais, embora não justificadas, tinham o objetivo de evitar outras derrotas. A CBD poderia promover em 1941, aqui, a disputa da “Copa Roca”. Era uma oportunidade para reabilitação do futebol brasileiro. A CBD, porém, adiou “sine die”, a competição das “Copas”. Em São Januário, depois da “Copa Roca” de Buenos Aires, o escrete brasileiro perdeu para a seleção uruguaia a “Copa Rio Branco”, que conservava desde 32. Julgou-se inoportuna o momento para novas experiencias amargas, que só poderiam abater ainda mais o futebol brasileiro. Somente dois anos depois é que o futebol brasileiro foi a disputa da “Copa América” em Montevidéu. A exibição do escrete brasileiro foi amplamente satisfatória. Era um escrete que tinha saído do Brasil sem grandes ambições. Ali estava não só uma explicação não só do sucesso desse escrete como do fracasso daquele outro, que entraram em campo certo de uma vitória retumbante sobre os argentinos.

O SENTIDO DA LIMITAÇÃO DE IMPORTAÇÕES

O que faltou aos brasileiros em 39 foi o respeito ao adversário. E nunca, em época alguma, um escrete brasileiro fora tão mal organizado. O campeonato carioca terminara a oito de janeiro, a quinze de janeiro os brasileiros deveriam enfrentar os argentinos. Ninguém se alarmou com a falta de tempo material para o treinamento da seleção. Todos estavam convencidos de que os argentinos nada poderiam fazer, pela grande diferença de classe entre o futebol platino e o brasileiro. Foi deste otimismo exagerado que se caiu no extremo oposto, de só se acreditar no futebol argentino. Tornou-se preciso que lentamente se processasse uma renovação de valores, que o futebol brasileiro se reencontra-se a si mesmo. As limitações impostas a importação de jogadores reconheciam o mal, apontavam o caminho a seguir, mas é discutível que, sem eles, os clubes brasileiros fossem além do que já tinham ido.

RESTRIÇÕES JÁ DESNECESSÁRIAS

A presença de tantos jogadores argentinos fez um bem enorme ao futebol brasileiro, porque humanizou os jogadores platinos, abrasileirando-os. E depois não era mais possível, com o tempo, impedir que os novos valores brasileiros superassem os craques importados, tomando-lhe os lugares. Hoje em dia raramente um clube brasileiro manda buscar jogadores em Buenos Aires ou Montevidéu. E se ainda, de longe em longe, um clube brasileiro recorre ao mercado platino, não é porque aqui faltem elementos, é porque o mercado brasileiro está mais caro que o mercado platino. Era o contrário do que sucedia há alguns anos: podendo comprar aqui jogadores por um preço muito menor, os clubes brasileiros preferiam pagar mais em Buenos Aires e Montevidéu. Uma prova de que como os tempos mudaram está em que a próxima terminação do prazo para a inclusão, nos times brasileiros, de mais de um jogador estrangeiro, não alarmou os clubes. Agora não há necessidade de restrições e limitações. Os clubes brasileiros voltaram a acreditar mais no futebol brasileiro do que no futebol platino.

CLUBE DE REGATAS FLAMENGO: Jurandir, Domingos da Guia, Perácio, Newton Canegal, Jaime, Modesto Bria, Sílvio Pirillo, Zizinho, Biguá, Vevé e Jacir

FONTES/IMAGENS

Flamengo Alternativo

Jornal dos Sports

Lance

Terceiro Tempo

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