Consulta

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Arte plástica, literatura e futebol dentro de campo

O pintor potiguar Newton Navarro Bilro

A Memória do Morte F. C*

(Procópio Neto)

 

- Tratando-se de desenhos relacionados com o “association” em faceta nova da existência como artista, Newton Navarro Bilro solicitou-me o registro do lançamento da plaqueta "FUTEBOL" e apresentação de 12 desenhos a bico de pena de jogadores e lances da modalidade.

Confesso-lhe ter me posto em sérias dificuldades. Não sou conhecedor, nem afeito as artes, senão para deliciar-me com as que os outros executam.

Mas não posso deixar de registrar a elegância do estilo e o aprimoramento dos traços - qualidades marcantes dos desenhos que Navarro oferece, qual Vargas Villa, "A memória do Glorioso Morte F. C."

Jornalista e escritor Sanderson Negreiros

Não sendo crítico de arte, mas de futebol (que dizem também ser arte), prefiro transcrever o preambulo de Sanderson Negreiros sobre essa plaqueta, que diz tudo o que tive vontade, mas não soube externar.

 

"Ouve-se pelo rádio o nome de lugarejos longínquos, mas que resistem a qualquer impacto pela sua fábula esportiva.

O locutor anuncia Coqueiros da Vargem de Dentro: vogais e consoantes lembrando uma rua, a possibilidade de um coreto e a igreja ilustramente esquecida pela devoção.


Mas, de repente, Coqueiros da Vargem de Dentro passa a existir em nossa geografia cotidiana.

É lá que funciona o preclaro time do Cruzeiro Esporte Clube, conjunto de pernas-de-pau que têm uma vantagem: são ídolos da sua pequena possessão de vida e indica para os quatro ventos a existência da vila anônima e sumida.

Aí está a força civilizadora do futebol.

Mesmo assim, Loura, zagueiro do Esperança Esporte Clube, de Sapé, ao jogar em Natal pela primeira vez, foi patético ao ver as luzes do campo acesas:

- Acho que nóis perde por causo que a gente fica incandiado!

Nesse mesmo jogo Loura, míope, diante do luzeiro, chutou a bola violentamente no estômago do juiz. Ele abriu os braços e caiu. Vieram os padioleiros.

Mal entraram em campo – campo ruim de mais – tropeçaram num buraco. Outra queda. Vaia muita.

Os jogadores levaram o juiz e os padioleiros saíram para o hospital para enfaixar as pernas.

Gente ilustre já disse que só sentia feliz quando estava assistindo futebol em tarde de domingo.

Nada melhor: e nesse óbvio pululante estamos todos, do bispo ao sacristão, do desembargador ao oficial de Justiça, do proletário aos donos da vida.

Merece toda uma análise social e psicológica do comportamento. E nos dá ideia de que ainda somos – ao menos nisso – felizes.

Ou mais: um tio meu, sertanejo com orgulho e brabeza, nos idos de 40, ao ver seu time perder em Pau dos Ferros, contratou na revanche um escrete de grandes personagens, que nada entendiam de futebol (ou nunca viram bola de couro), mas que eram, do goleiro ao ponta-esquerda, cangaceiros ilustres, acostumados ao clavinote e punhal.

Resultado: o time de meu tio venceu de 2 x 0. Mas isso era em outros tempos. De clavinote e punhal."

 

*Tribuna do Norte (sexta-feira – 13 de dezembro de 1968)

Nenhum comentário:

Postar um comentário