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domingo, 5 de outubro de 2025

O baiano, a mascote e a "Estrela Solitária"

Biriba entra campo com o time

BOM BAIANO*

No pequeno dicionário da língua portuguesa, do mestre Aurélio Buarque de Holanda, vamos encontrar o significado da palavra MASCOTE – Pessoa, animal ou coisa a que se atribui o dom de dar sorte ou de trazer felicidade.

O povo na sua sabedoria atribui ao termo a designação de: o menor, o pequeno, o baixinho, e como a língua quem faz é o povo, vamos encontrar dentro do futebol o termo mascote para indicar os garotos que entram em campo com as equipes de futebol.

Em Natal houve época que o América e o ABC traziam verdadeiros times de mascotes nos grandes jogos: é tanto que foi necessário o capitão Cícero Almeida, pela FNF, regulamentar apenas a presença de 1 a 2 garotos como mascotes das equipes em dias de jogos.

Os grandes e pequenos clubes brasileiros sempre usaram mascotes; alguns escolheram animais: como foi o caso do Internacional de Porto Alegre, com a cabrita Chica, o Bonsucesso, nos idos de 49, tinha como mascote um tejuaçu, já o Ipiranga da Bahia, no tempo da minha infância, entrava em campo conduzindo uma gaiola com 11 canários, contudo o mascote mais famoso do futebol brasileiro foi o vira-lata Biriba do Botafogo, equipe campeã de 1948.

Presidente Carlito Rocha e Biriba

Carlito Rocha, o presidente do Botafogo sempre foi um supersticioso metido a médico, a nutrólogo, a dietético e a outras coisas.

Confiava tantos nos santos principalmente Santa Terezinha e Nossa Senhora das Vitórias, que mandara fazer um alfinete de fralda, de ouro enorme, de quase um palmo, onde enfiava as imagens dos santos a quem se pegava nas horas amargas.

Bastava o outro time dar para atacar para que Carlito Rocha segurasse o alfinete de fraldas nas pontas dos dedos das duas mãos, e começasse a beijar as imagens, uma a uma, na ida e na volta, como se estivesse tocando uma gaita.

No vestiário, na hora do café, antes da entrada do time em campo, alguém tinha que derramar açúcar na gola do paletó, sempre o mesmo, velho, surrado, de Carlito Rocha.

O suboficial da Aeronáutica Adeodato Reis
foi da divulgadora "Paroquial" (Parnamirim),
narrador da Rádio Rural nos anos 60 e
depois comentarista da Rádio Cabugi 70/80

E havia a gemada e a rapadura, e havia Pai-de-santo trabalhando pelo Botafogo, porque Carlito Rocha não queria deixar uma brecha por onde escapasse a vitória do Botafogo.

O Biriba foi um vira-lata trazido por Arati, médio do Botafogo. Na estreia o time perdera de 4 x 0 para o São Cristóvão, a partir da chegada do Biriba as coisas mudaram e o time da Estrela Solitária começou a deslanchar açoitando todo mundo no Rio de Janeiro.

Biriba entrava em campo com o time e atacava os jogadores do outro time. Mas ai quem desse um pontapé no Biriba, teria que se haver com Carlito Rocha e a torcida do Botafogo.

Era um vira-lata preto e branco, dormia na concentração e tinha tratamento de cachorro de rico sem ser "pedigrie", aparecia em todas as fotografias do clube ao lado do time.

Com Biriba o Botafogo conquistou o título carioca, do qual fazia 13 anos que se encontrava divorciado. Na história do futebol brasileiro Biriba foi a mais famosa mascote.

 

*Assinatura da coluna do comentarista Adeodato José dos Reis (Tribuna do Norte - domingo, 17/abril/1977)

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