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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

"Acta Diurna" em homenagem ao Adamastor Pinto

Imagem representativa de São Tomás de Aquino, pensador do Cristianismo

Coluna do renomado escritor potiguar no "Diário de Natal" (quarta-feira, 28/4/1948) preenche lacunas sobre pioneiro do futebol que respondeu processo por suposto envolvimento na “Intentona Comunista”

Mestre Panta

Luís da Câmara Cascudo

Terça-feira de Carnaval, 10 de fevereiro de 1948.

Há um ano morria Adamastor Pinto. Fomos amigos a vida inteira, sem solução de continuidade, sem interrupção, sem esfriamento. Quando ele estava se pondo rapaz, eu já o era, mas a geração era a mesma e o tempo, emoção, sonho, enrolou-nos na mesma bandeira, com cores diversas, mas de intenção igual no desinteresse da glória e no desejo forte e alto de ser útil para a justiça humana.

Adamastor escreveu um romance cujo título não guardei. Mas nele havia um personagem de nome Pantaleão, Panta por apelido. Fiquei, daí em diante, chamando ao autor "Mestre Panta".

O major José Mariano Pinto, Zé Pinto, gerente clássico d'A REPÚBLICA, foi uma das criaturas mais espirituosas do seu tempo, um precursor na documentaria do Folk Lore, fixando costumes e das fisionomias da terra.

Os filhos, José, Lauro, Octávio, Adamastor, Ludovico (eram inúmeros como as estrelas do céu) tiveram vida entre livros, entre jornais, convivendo os ambientes literários, as festas que o Pai realizava na casa acolhedora da avenida Deodoro, festas que eram verdadeiros Jogos Florais.

Todos ficavam com o veneno na veia, gostando do que muita gente não gosta, doidos pela frase feliz e com uma notável desconfiança pelo homem prático, sisudo e vencedor no plano econômico, responsável moral por esse Mundo fumegante em que vivemos, meio asfixiados.

Adamastor Pinto morre aos 40 anos sem livro. A vida o devorou depressa. O atrito pelo Pão, a defesa ante a confusão horrenda, esgotou aquelas baterias intelectuais que davam para iluminar uma cidade.

Ninguém, de futuro, saberá quem era e o que valia Adamastor Pinto. Era não apenas a inteligência inventiva e formosa, mas a originalidade indiscutível, a beleza do ritmo, a compreensão humana, inteira e completa, a piedade suprema.

Impregnava-o o leite da ternura humana, para todos e para tudo. Esse sentimento levou-o a doutrina de reação contra o Mundo imóvel, mantenedor das divisões, criador de uma tabela de valores em que o merecimento está unicamente na relação financeira individual por esse desejo, Adamastor lutou e sucumbiu.

Eu estava lutando também contra o mesmo Monstro, lutando do outro lado. Quando nos encontrávamos, saudávamos um ao outro e continuávamos a batalha.

Agora tudo cessou.

Entre Karl Marx e Santo Tomás, sentados os três numa nuvem, Adamastor estará sempre, por toda a eternidade, confiando que no domínio da infalível para todos os que tiverem fome e sede de Justiça...

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