Imagem representativa de São Tomás de Aquino, pensador do Cristianismo |
Coluna do renomado escritor potiguar no "Diário de Natal" (quarta-feira, 28/4/1948) preenche lacunas sobre pioneiro do futebol que respondeu processo por suposto envolvimento na “Intentona Comunista”
Mestre Panta
Luís da Câmara
Cascudo
Terça-feira de
Carnaval, 10 de fevereiro de 1948.
Há um ano morria
Adamastor Pinto. Fomos amigos a vida inteira, sem solução de continuidade, sem
interrupção, sem esfriamento. Quando ele estava se pondo rapaz, eu já o era,
mas a geração era a mesma e o tempo, emoção, sonho, enrolou-nos na mesma
bandeira, com cores diversas, mas de intenção igual no desinteresse da glória e
no desejo forte e alto de ser útil para a justiça humana.
Adamastor
escreveu um romance cujo título não guardei. Mas nele havia um personagem de
nome Pantaleão, Panta por apelido. Fiquei, daí em diante, chamando ao autor
"Mestre Panta".
O major José
Mariano Pinto, Zé Pinto, gerente clássico d'A REPÚBLICA, foi uma das criaturas
mais espirituosas do seu tempo, um precursor na documentaria do Folk Lore,
fixando costumes e das fisionomias da terra.
Os filhos, José,
Lauro, Octávio, Adamastor, Ludovico (eram inúmeros como as estrelas do céu)
tiveram vida entre livros, entre jornais, convivendo os ambientes literários,
as festas que o Pai realizava na casa acolhedora da avenida Deodoro, festas que
eram verdadeiros Jogos Florais.
Todos ficavam
com o veneno na veia, gostando do que muita gente não gosta, doidos pela frase
feliz e com uma notável desconfiança pelo homem prático, sisudo e vencedor no
plano econômico, responsável moral por esse Mundo fumegante em que vivemos,
meio asfixiados.
Adamastor Pinto
morre aos 40 anos sem livro. A vida o devorou depressa. O atrito pelo Pão, a
defesa ante a confusão horrenda, esgotou aquelas baterias intelectuais que davam
para iluminar uma cidade.
Ninguém, de
futuro, saberá quem era e o que valia Adamastor Pinto. Era não apenas a
inteligência inventiva e formosa, mas a originalidade indiscutível, a beleza do
ritmo, a compreensão humana, inteira e completa, a piedade suprema.
Impregnava-o o
leite da ternura humana, para todos e para tudo. Esse sentimento levou-o a
doutrina de reação contra o Mundo imóvel, mantenedor das divisões, criador de
uma tabela de valores em que o merecimento está unicamente na relação
financeira individual por esse desejo, Adamastor lutou e sucumbiu.
Eu estava
lutando também contra o mesmo Monstro, lutando do outro lado. Quando nos encontrávamos,
saudávamos um ao outro e continuávamos a batalha.
Agora tudo
cessou.
Entre Karl Marx
e Santo Tomás, sentados os três numa nuvem, Adamastor estará sempre, por toda a
eternidade, confiando que no domínio da infalível para todos os que tiverem
fome e sede de Justiça...
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