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domingo, 29 de setembro de 2024

"Moderna" versão potiguar sobre alcunhas dos jogadores

Rivaldo de Oliveira Paula, o "Saquinho" (penúltimo agachado), um dos personagens

Apelidos no futebol*

Kolberg Luna Freire

Jornalista e escritor

Escritor, cronista e jornalista K. L. Freire

Nos tempos de hoje, a escalação de equipes de futebol mais parece com a chamada de uma turma de colégio antes da aula de matemática. Jogador de futebol agora tem nome e sobrenome. A seleção brasileira, que anteontem goleou a Bolívia, é um exemplo disso. Alex Telles, Everton Ribeiro, Phillipe Coutinho, Renan Lodi, Roberto Firmino e Thiago Silva são alguns dos pomposos nomes que estiveram em campo. No banco, Bruno Guimarães, Gabriel Jesus e Rodrigo Caio.

Antes, era uma raridade chamar o jogador pelo seu nome e sobrenome. Alguns exemplos mais famosos são os casos dos dois “Santos”: Djalma e Nilton; Luiz Pereira, Dirceu Lopes, Ademir da Guia, Vilson Taddei ou Tadeu Ricci. Raríssimo era ser chamado pelo nome completo, como era o caso de Paulo César Carpegiani.    

Não se vê mais jogadores de futebol com apelidos como era comum no passado. Algumas dessas alcunhas eram trazidas de casa e permaneciam em campo, como os casos de Zico, Zito, Pelé, Didi, Vavá, Chico, Dequinha, Julinho, Toninho e outros. Também, imperou por muito tempo os diminutivos e aumentativos a definir o tamanho do jogador. Assim como diversos Zezinhos, Pedrinhos e Joãozinhos povoaram os campos de todo o país, também era comum vermos os vulgos Marcão, Paulão ou Luizão.  

Evaldo de Oliveira Paula, o "Pancinha"
(irmão de "Saquinho), de camisa listrada,
"Saquinho" (de claro), e o massagista
"Macarrão", no bairro das Rocas

Em meio aos apelidos, a família “D” do alfabeto talvez seja a mais pródiga, pois todas as variações tiveram um representante no futebol, vejamos: Dadá, Dedé, Didi, Dodô, Dudu.

Outro apelido comum e que ainda resiste bravamente nos tempos atuais são os relacionados à geografia. Quantos fulanos acresciam/acrescem ao seu nome a expressão relacionada ao seu Estado ou cidade natal! Apodi, Itaqui, Tiago Orobó, Maricá, Birigui, Edu Dracena, Junior Baiano, Juninho Pernambucano, Wellington Paulista, Ronaldinho Gaúcho, Alexandre Mineiro, Marcelinho Paraíba, Thiago Potiguar, fora os inúmeros “Cearás” que desfilaram ou desfilam nos gramados brasileiros.

A mais famosa linha de todos os tempos do Clube Náutico Capibaripe/PE foi o quarteto eternizado por Nado, Bita, Nino e Lala. A Portuguesa de Desportos/SP, nos anos 70, teve um ataque com Tatá, Dicá e Xaxá.  Sem dúvida, casos curiosos e relacionados a apelidos. 

Direcionando os olhos para o nosso Estado, alguns apelidos curiosos passaram por aqui. Como esquecer de Dedé de Dora, Cascata, Pedrada, Jangada, Hélio “Show”, Jorge “Demolidor”, Hélcio “Jacaré”, Bileu, Barata, Baíca, Saquinho, Pancinha, Biro Biro, Lúcio “Curió”, Miro “Cara de Jaca”??? Uma viagem deve ser ir buscar a origem de cada apelido desses.  

O Alecrim chegou a ter na mesma equipe um zagueiro viril chamado “Ticão” e um atacante conhecido por “Tiquinho”.   

Ainda lembrando do RN, na época em que a TV Universitária (Canal 5) transmitia os jogos do Estadual em forma de vídeo tape, o narrador era José Ary, que gostava de, se não apelidar, mas de abreviar o nome dos jogadores. Era uma diversão assistir os jogos ouvindo a narração trazer os nomes de “Baltaza” (Baltazar), “Sandova” (Sandoval), “Noriva” (Norival) ou “Mara” (Marinho Apolônio), este que também era chamado de “o Pantera”.  Já quando ia falar sobre “Dedé de Dora”, o respeito do narrador chegava ao ápice e, sabendo que o “de Dora” fazia alusão a mãe do atleta, Ary fazia questão de chamar o jogador de “Dedé de Dona Dora”.  Já em relação ao saudoso Arié, o narrador sempre completava com o bordão “o que não morre em pé”.

Também não se pode esquecer a saudosa memória de Hélio Câmara de Castro, o maior narrador esportivo de todos os tempos do rádio potiguar e que também tinha seus rompantes a “batizar” os jogadores. Baltazar virou o “Conde Drácula”, Noé Soares era o “Macunaíma”, o zagueiro Odélio tornou-se o “Pastor”, Sandoval era o “Touro Miúra”, Moura o “Príncipe Etíope” e Carioca o “Boca Negra”. Hélio justificava dizendo que a carga de adrenalina num jogo de futebol é grande, e ele criava esses personagens para aliviar a tensão. 

Talvez a profissionalização do futebol tenha concorrido para que os jogadores prefiram ser conhecidos pelos seus próprios nomes de nascença, porém, isso fez perder um pouco o lado folclórico e engraçado do futebol.

 

*Original publicado no site "Grande Ponto" (11/10/2020). O autor escreveu os livros “O tempo do futebol e um poema”, sobre o Estádio Castelo Branco/João Machado, e a biografia “Ribamar – O Guardião da Memória do futebol potiguar” (2023)

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