Sobre fisiologismo ou oportunismo na política
nacional
Tadeu Arruda Câmara
Economista
Você sabe o que é
Fisiologismo? Calma, prezado leitor, não pretendo esnobar seus conhecimentos
nem tão pouco provocar parte da população que faz da honestidade um princípio
de vida.
Dirijo-me, aí sim,
àquela multidão entorpecida pela mídia, sempre recebendo dinheiro com planos
eleitoreiros, enfileirando-se nas zonas eleitorais, levando a famosa “cola”
(nomes dos candidatos anotados) à cabine eleitoral, elegendo nossos governantes
e parlamentares.
Esse tipo de
eleitor, passados alguns meses, quando perguntado quais foram seus candidatos,
responde: “Nem me lembro mais, foi um amigo que pediu”.
Não sabe ele que
agindo dessa maneira, sem querer, torna-se cúmplice de bandidos e malfeitores
que contaminam a nação brasileira.
Fisiologismo é o que
está acontecendo agora, depois das posses dos eleitos, muitos deles indicando
cargos para pessoas desqualificadas nas empresas do governo. A disputa maior é
naquelas onde fluem mais recursos.
Essa relação
incestuosa entre parlamentares, o executivo, muitas das vezes o judiciário,
beneficiando pessoas e, às vezes grupos, com o poder político, tendo como moeda
de troca o número de votantes, chama-se fisiologismo.
Nosso país está
voltando ao tempo das capitanias hereditárias, só que com outra roupagem: o
governo, agora, está loteando cargos com os partidos políticos.
Como se não
bastassem as classes dos banqueiros e das construtoras, os maiores
financiadores de campanhas políticas, fazedores , até mesmo, de bancadas dentro
do Congresso Nacional, surge a bancada dos evangélicos que, aproveitando-se da
boa-fé do nosso povo, explora o sangue de Cristo nos conchavos políticos,
esquecendo os ensinamentos do Messias quando inquirido: “É-nos lícito dar
tributo a César, ou não? Mas Jesus, percebendo a astúcia deles, disse-lhes:
mostrai-me um denário. De quem é a imagem e a inscrição que ele tem?
Responderam: de César . Disse-lhes então: dai, pois, a César o que é de César,
e a Deus o que é de Deus”.
No momento, a briga
é grande entre os dois maiores partidos. O PT, Partido dos Trabalhadores, que
quando oposição combatia veementemente os fisiologistas, e o PMDB, partido que
esqueceu os ensinamentos de Ulisses Guimarães.
Eles engalfinham-se
na busca de espaço, palmo a palmo, não escapando nem mesmo nossa Previdência,
maior verdugo dos nossos aposentados.
O desfibramento é grande.
É tão grande, que criaram a lei chamada Ficha Limpa, com o intuito de diminuir
os escândalos dos fisiologistas, não deixando o candidato bandido ser combatido
nas urnas, e sim, no Judiciário.
Só que o Judiciário
também tem suas manhas. Conheço um caso gravíssimo na primeira zona eleitoral
em Natal que faz três anos e até agora nada de julgar.
Essa lei é tão
esdrúxula que deixa margem para que um inocente seja cassado e um culpado
inocentado dentro do insondável mundo jurídico.
Você já viu algum ‘mensaleiro’
ou sanguessuga preso? Foi o Arruda na operação Caixa de Pandora, mas, como boi
de piranha, para mostrar que nunca neste país houve governo mais ético como
este.
Fiquei perplexo
quando Gilberto Carvalho, assumindo a secretaria geral, disse: “O presidente
Lula poderia ter se livrado de mim em momentos críticos pelos quais passei.
Jamais vou esquecer quando voltei do segundo depoimento na CPI e ele tinha
atrasado uma viagem me esperando sentado na minha sala para dizer:
‘Gilbertinho, vamos tomar uma cachacinha para você esquecer essas coisas’”.
Fosse num país sério
os dois estariam na cadeia. Na China, iria pro fuzilamento.
PS: comentário publicado na página de Opinião
do diário vespertino O JORNAL DE HOJE (novembro de 2011) e postado com
autorização do autor.