Tadeu
Arruda Câmara
O PTC (Partido Trabalhista Cristão) estava em ferrenha disputa
quando o empresário Augusto Maranhão, homem de boa cepa que, além de gostar do
que fazia (transporte coletivo) e de adorar política, entrou na briga.
Sendo ele amigo de Miguel Joaquim da Silva, sargento reformado
do Exército Brasileiro, conhecido por Miguel Mossoró, que, além de gostar de
política e de ser uma figura bem-humorada, saiu vencedor.
Com sonhos extravagantes, parecia até Dom Quixote de La Mancha,
personagem de seu xará Miguel de Cervantes, em busca de sua amada Dulcinéia,
chamada Prefeitura de Natal.
Terminadas as convenções aparecem os candidatos a prefeito:
Carlos Eduardo (PSB), Luiz Almir (PSDB), Miguel Mossoró (PTC), Fátima Bezerra
(PT), Ney Lopes (PFL), Dário (PSTU) e Leandro (PHS).
É dado o sinal de partida para o grande pleito. Os meios de
comunicação caem em campo entrevistando os candidatos, sempre com a velha e
conhecida pergunta: “Você tem plano de trabalho para administrar Natal?” Uns
respondiam saneamento básico, outros, transportes coletivos, saúde, segurança,
etc.
Uma emissora de televisão entrevista Miguel Mossoró fazendo a
crucial pergunta: “Miguel Mossoró, o senhor já tem seu Plano de trabalho para
administrar Natal? Ele responde: tenho sim, senhor. O repórter pede, então, que
ele mostre para os telespectadores o Plano. Foi aí que a coisa pegou. Miguel se
contorce todo, coça a cabeça, gagueja e sai com essa: “Não posso, o Plano está
dentro de cofre bem seguro, guardadinho para ninguém copiar”.
Inicia-se aí, a figura cômica e controversa do candidato Miguel
Mossoró, ou simplesmente Mossoró.
Contou-me Augusto Maranhão que, servindo o exército na ilha de
Fernando de Noronha, escutava sempre os ilhéus dizerem que, de vez em quando,
viam as chaminés das indústrias de Natal expelirem fumaça.
Claro que era brincadeira. Brincadeira que foi assunto num almoço
no restaurante Xique-Xique, em plena campanha, onde estavam presentes o
candidato Mossoró, um jornalista e alguns convidados. Mossoró, escutando a
história dos ilhéus e, criticando a demora da ponte Forte dos Reis
Magos/Redinha, sentencia: “sendo prefeito de Natal, vou construir uma ponte de
Natal a Fernando de Noronha.
Não deu outra. O jornalista entrevista Miguel Mossoró e publica
extensa matéria num dos jornais de maior circulação do Estado. Miguel cria
notoriedade. A imprensa, em geral, tenta passar Mossoró por um lunático, fazendo-o
ficar mais conhecido.
Augusto Maranhão derrete-se em risos, chama Mossoró e diz que
encontrou quem emprestasse o dinheiro para construir a monumental ponte. O
dinheiro viria dos países árabes. Eram os ‘petrodólares’. Miguel aceita e
anuncia, em seu programa eleitoral no rádio e televisão, que os recursos
estavam chegando.
Augusto cria o personagem do xeique, fantasiando o próprio irmão
(servidor aposentado do TRT/6ª Região) a caráter, com turbante e túnica,
levando-o para o programa eleitoral como sendo o representante dos árabes. Foi
sucesso total! Augusto leva Mossoró para a praia, criando mais um programa
eleitoral. Desta vez, combatendo o turismo sexual, quando chama uma transeunte
e manda fazer o pedido de socorro a Mossoró, já que um gringo a perseguia.
Miguel Mossoró grita, dizendo que daria uma ‘mãozada’, surgindo daí, a sua
marca característica.
Não podemos deixar de relatar o importante papel que o ‘Jornal
de Hoje’, maior em circulação no Estado, teve ao dar ao candidato Mossoró, o
mesmo espaço dos demais, levando-o a sério através, principalmente, dos
jornalistas Ivo Freire e Jurandir Nóbrega. Certo dia, cheguei até o
superintendente, senhor Marcos Aurélio, dizendo que não haveria segundo turno;
que a máquina do governo Vilma de Faria estava azeitada, pronta para liquidar a
eleição no primeiro turno. Ele respondeu que o jornal estava a serviço de
todos.
Criei ânimo e fui até a residência de Miguel Mossoró. Chegando
lá, encontro toda a família, seis filhos, a esposa e um genro. Peço para fazer
uma reunião, no que sou atendido. Mossoró era meu velho amigo e irmão camarada.
Dando início à reunião, disse que a campanha estava muito boa,
que tudo até aquele instante funcionou muito bem, mas era como fogo que não
queimava. Existia muita repercussão em torno da figura dele, mas era necessário
mudar a bússola eleitoral, fazendo de toda aquela brincadeira um programa
sério, pois até agora ele, conforme as pesquisas não saíam dos 0,6 pontos
percentuais.
Citei como exemplo Luís Rebouças, conhecido por OVNI, que ficou
famoso até no “New York Times”, e não obteve nenhuma votação para vereador.
Falei que estava ali sem interesse algum, nada queria, e sim, ajudar o amigo
que em outras épocas havia me ajudado.
Encontro-me com Augusto Maranhão e, de comum acordo, elaboramos
nova estratégia: o próximo programa eleitoral seguiria outra linha. Miguel
Mossoró diria que estava chegando o fim de mais uma campanha política em Natal,
que garantia não fazer ninguém chorar (isto para mostrar que ele tirou a acidez
da eleição), que era um homem sério, que as brincadeiras foram a maneira mais
prática de criticar os maus políticos. Todos concordam; principalmente Márcia,
a filha que Mossoró mais escuta.
Voltando para o Jornal de Hoje, pedi ao Jornalista Ivo Freire
que colocasse na ‘Coluna Entrelinhas’ minha opção: em vez de votar no candidato
da governadora Vilma de Faria, Carlos Eduardo, na candidata do presidente Lula,
Fátima Bezerra ou no candidato Nei Lopes, com propostas de vender galeto
barato, coisa ultrapassada do tempo do galego do Alecrim, eu preferia sonhar
pescando na futura ponte de Fernando de Noronha.
O assessor da governadora, Cláudio Porpino, havia criado a ‘Onda
Quarenta’, fazendo grande carreata. Eu imediatamente parodiei, criando a
‘Marola Trinta e Seis’, número de Mossoró, e marquei uma carreata para um dia
de sábado. Usando uma caminhonete de minha propriedade, fiz o Miguel Móvel,
adaptei uma sirene de ambulância, um som improvisado com a música do “bezerro
mamador” (história de um bezerro que passou do tempo de apartar), criticando o
prefeito.
Colocamos o bloco na rua. Foi sucesso total, Mossoró, com a
família na carroceria, gesticulava mãozadas para os gringos e eu fazia a
locução. No meio da carreata, aparece Augusto Maranhão dizendo que não
acreditava no que via. Eram muitos carros. Seguíamos em direção à praia, onde
seria a construção da ponte de Fernando de Noronha. Chegando lá, os discursos
foram os mais variados. A multidão delirava... Os jornais, rádio e televisão
deram o maior destaque.
Depois que mudamos o azimute da campanha, Miguel Mossoró começou
a subir nas pesquisas, saindo de 0,6%, nos últimos quarenta dias, para 18% na
reta final. A governadora Vilma de Faria, juntamente com Micarla de Souza,
entrou em desespero; ambas “batiam” (via TV Ponta Negra) em Mossoró a todo
instante, com frases pesadas, como: “ele é maluco” e “quem o acompanha também é
desajustado”. Eu orientava Mossoró para não responder, que tudo aquilo já era
desespero.
Para completar o cenário e rebater as nefastas palavras da
governadora, fomos para o ‘Beco da Lama’, para nos reunir com jornalistas,
escritores e poetas. Estacionamos o Miguel Móvel e haja discurso.
Foi aí, que tive a idéia de convidar o Presidente da OAB, Joanilson
de Paula Rego, dizendo que não estávamos forçando sua adesão, mas que ele fosse
dizer alguma coisa, inclusive para a classe de intelectuais sobre a campanha.
Doutor Joanilson, atendendo nosso pedido, subiu no Miguel Móvel (já nos nossos
braços) e discursou bonito, dizendo que Miguel Mossoró era o gemido do povo. No
outro dia, os jornais estamparam: Doutor joanilson de Paula Rego adere à
campanha de Miguel Mossoró.
Finalmente, preparei tudo para o dia da eleição. Um carro com
teto solar, pelo qual Miguel Mossoró se apresentaria e acenaria para os
eleitores nas principais ruas e avenidas de Natal. Só que, logo cedo, aparece
um advogado, salvo engano, chamado Saldanha dizendo que, se ele fizesse isso, seria
preso, pois era contra as leis eleitorais. Ainda relutei, mas Miguel disse que
era melhor seguir os conselhos dele. Depois, descobrimos que ele veio a mandado
de um adversário.
Finalmente tivemos o primeiro turno com os seguintes resultados: CARLOS EDUARDO
(PSB) 137.664 (37,3%), LUIZ ALMIR (PSDB) 112.403 (30,46%), MIGUEL MOSSORO (PTC)
67.065 (18,17%), FATIMA BEZERRA (PT) 27.331 (7,41%), NEY LOPES (PFL) 21.115 (5,72%),
DÁRIO (PSTU) 2.702 (0,73%) e LEANDRO (PHS) 760 (0,21%).