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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Memória fotográfica de Osair Vasconcelos detalha jogo de Pelé

Eu vi Pelé jogar

Osair Vasconcelos*

Quando o futebol não era, como hoje, a soma de táticas rígidas + táticas inflexíveis + táticas coachs e, sim, o resultado da visão do técnico + jogadores livres + jogadas criativas, eu vi Pelé jogar.

Foi no Castelão (nome à época), cuja construção foi iniciada por Agnelo Alves e concluída por Cortez Pereira, que o chamou de “poema de concreto”.

O jogo, pelo Campeonato Brasileiro, aconteceu na noite da quarta-feira 29 de novembro de 1972 e reuniu 52 mil torcedores, cerca de 20% da população natalense de então, pouco acima de 200 mil habitantes.

Aqui começam minhas lembranças: o estádio tinha capacidade oficial para 42 mil torcedores, e com o excedente daquele dia, quem se sentou foi porque chegou muito cedo. Eu, vindo de Macaíba num ônibus de torcedores, cheguei uma hora antes do início da partida e o máximo que consegui foi ficar de cócoras, segurando na barra de ferro da mureta de proteção da arquibancada da Frasqueira, em frente ao corner da trave que dava as costas para onde, anos depois, Geraldo Melo construiria a sua casa. A disputa por espaço era tanta que, no intervalo, quem ousou ir ao banheiro virou Lourenço, perdeu o assento. Eu, nesses 15 minutos, tive o conforto de ficar em pé.

Bom, foi pequeno o preço pago por minhas pernas dormentes ante a alegria de ver, de um lado, o ABC de Tião, Sabará, Edson, Nilson Andrade e Rildo; Maranhão, Orlando e Marcílio; Libânio, Alberi e Baltazar (Petinha) e, do outro, o Santos de Cláudio, Altivo, Vicente, Paulo e Turcão; Leo Oliveira, Afonsinho e Pelé; Jair da Costa, Brecha e Edu.

Do jogo, em que o ABC, Alberi à frente, surpreendeu o Santos com o seu futebol de time grande, lembro particularmente de duas coisas. A primeira: o discreto técnico do Santos, Pepe, mandando marcar Alberi.

E a segunda: perto do final do primeiro tempo, inconformado com o 0 X 0, inconcebível para um time daquela grandeza ante um clube pequeno do Nordeste, Pelé foi à pequena área do seu campo, pediu a bola a Cláudio, imaginou uma reta e saiu conduzindo a bola em tal velocidade que mal precisou driblar um ou dois jogadores do ABC antes de chegar a alguns metros da meia lua da grande área e desferir uma bomba daquelas que, por aqui, só Bagadão conseguia.

Gooooool!

Gol?!

Não!

A bola bateu no travessão superior e subiu, subiu, enquanto Tião a acompanhava com o olhar apreensivo, até cair atrás do gol, onde devia ser, pelo projeto original de um estádio olímpico, a área de arremesso de peso.

O silêncio que tomou conta do estádio foi o do alívio profundo.

Eu, para mim, naquele instante, me disse:

- Eu vi Pelé jogar!

RIP, Pelé.

Obrigado pelas alegrias que a sua genialidade nos deu.

 

*Jornalista e editor da “Editora Z”

 

Nota de Redação

Não me surpreende que Osair Vasconcelos tenha feito com as lembranças um artigo sobre o Rei. Sem precisar consultar os arquivos dos jornais.

Até pelo motivo de ser sabedor da apreciação dele pelo esporte das multidões, como diziam os antigos cronistas esportivos.

Além disso também tenho conhecimento desta faceta de torcedor por ele ser admirador e saudosista de um dos maiores craques saídos da cidade natal.

Não se trata do zagueiro Djalma Linhares, que saiu do América de Natal para o Corinthíans e foi campeão no Sport Club Recife.

Nem de Miguel Ferreira de Lima, o goleiro paraibano criado em Macaíba, que, depois de sair do Alecrim foi para o Vasco da Gama e em seguida ganhou o mundo: Alemanha e Estados Unidos da América.

O maior ídolo de Vasconcelos é “Vingador”. O zagueiro que veio menino de Pernambuco – dizem – e nunca mais saiu da terra de Auta de Souza, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão e outros vultos históricos da política e da literatura potiguar.

“Vingador” é considerado um dos grandes nomes do Cruzeiro, o segundo time estrelado com este nome no Brasil, só perdendo em primazia para o de Porto Alegre. Ambos, portanto, anteriores ao de Belo Horizonte, que nasceu Palestra Itália.

O zagueiro “Vingador” posteriormente começou a atuar no rubro-negro Clube Atlético Potiguar, do famoso acrônimo CAP, lá por 1948/49, e posteriormente fez nome, também, no esmeraldino Alecrim.

Geraldo Varela dos Santos (1940 – 1921), eis o nome de batismo de nosso herói “desconhecido” em comparação com Rei, que merece uma plaquete com as suas façanhas futebolísticas...

 

 

 

 

 

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