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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O misterioso jogador pernambucano do América/RN (VIII)

Árbitro Argemiro Felix de Sena

Personagem central da série é citado em crônica do veterano jornalista esportivo

“Sherlock, o homem da lei”

LENIVALDO ARAGÃO

Argemiro Félix de Sena, consagrado no futebol pernambucano como Sherlock, antes de abraçar a arbitragem, foi jogador, tendo sido tricampeão pelo Santa Cruz em 1930-31-32.

Nascido na casa 128 da Rua Imperial, ainda adolescente formou um time, o Guanabara. Na área havia outra equipe, o Concórdia, em que atuavam Carlos Benning (negrito do JORNAL DA GRANDE NATAL) e Lauro, do terceiro time – o sub-20 de hoje – do Santa Cruz.

Convidaram-no para um teste. O ponta-direita Sherlock topou a parada, mas foi designado para treinar na zaga, pois um dos titulares havia faltado. Aprovou na nova posição e foi logo assinando a proposta de sócio atleta.

Só precisou fazer dois jogos, como zagueiro, para imediatamente ser promovido ao segundo time. Pouco tempo depois estava na equipe principal. Ao mesmo tempo em que jogava futebol, atuava no basquete, era remador e participava de corridas. Tratava-se, portanto, de um atleta eclético.

Jornalista Lenivaldo Moraes Aragão

Primeiro árbitro de Pernambuco a fazer parte do quadro da Fifa, o que ocorreu em 1938, foi também pioneiro no uso do calção, na atividade, no Estado. Sua estreia no Campeonato Pernambucano, deu-se de maneira bastante curiosa.

Em 1934 foi aprovado pela Federação Pernambucana de Desportos (FPD), antecessora da atual Federação Pernambucana de Futebol (FPF), para dirigir jogos de terceiro time, posteriormente juvenil, hoje sub-20.

Numa certa manhã de domingo comandou um acirrado Náutico x Sport pelo certame da meninada. À tarde foi assistir ao encontro principal, novamente reunindo alvirrubros e rubro-negros.

O juiz da preliminar faltou e ele quebrou o galho, arbitrando o duelo dos segundos times, os aspirantes do futuro. Para completar, o homem escalado para a partida principal do Clássico dos Clássicos também farrapou.

E lá se foi Sherlock apitar seu terceiro jogo num só dia, reunindo os mesmos clubes, em divisões diferentes. Assim, ele estreou oficialmente, fazendo cabelo, barba e bigode. Na época o futebol era puramente amador, jogava-se só por prazer. O mesmo acontecia com a turma do apito.

ORIGEM DO APELIDO

Na adolescência, Argemiro Félix de Sena devorava tudo o que podia sobre o detetive Sherlock Holmes, criação do escritor escocês Conan Doyle. Um dia, na escola, houve o roubo do sanduíche de uma aluna.

Sherlock, até então tratado pelo nome, Argemiro, fez as vezes do personagem que tanto admirava. Começou uma investigação na sala de aula, foi eliminando suspeito após suspeito, até chegar ao ‘ladrão’. Descobriu que um dos alunos tinha os dedos manchados de verde.

Deu o tiro certo. A única pessoa que usava tinta daquela cor, para escrever, era a dona do sanduíche, cujo tinteiro havia sido ‘atropelado’. Dessa maneira denunciou o culpado. Sabedores da paixão literária, os colegas passaram a chamá-lo de Sherlock. O apelido ficou para o resto da vida. Às vezes também era tratado por Detetive.

A escola de arbitragem da FPF leva o seu nome. Uma homenagem das mais justas, dada a longa folha de serviços prestados por essa personagem sempre lembrada do futebol pernambucano. Além de ter sido juiz, dirigiu durante muito tempo o Departamento de Árbitros. Nascido em 1910, morreu em 1991, com 81 anos. Dirigiu 353 partidas.

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