Orlando, o "Pingo de Ouro", pernambucano
OS JOGOS
ENTRE PERNAMBUCO E O RIO GRANDE DO NORTE*
Duas vezes o
placar de nossos estádios marcaram a contagem esmagadora de cinco tentos
favorável aos pernambucanos, nos dois embate que foram realizados entre
escretes de nossa terra e do Rio Grande do Norte, em disputa do campeonato
brasileiro de futebol do corrente ano.
Inegavelmente
os nossos foram superiores, mantiveram uma fibra de autênticos vencedores, os
dez pontos a nihil (nenhum) que conquistaram foram fruto da técnica mais
aprimorada, e como um galardão a seus esforços empregados.
Os jogos
foram disputados em um ambiente de franca camaradagem, apresentando os 22
disputantes a grande amizade que une os filhos de nosso torrão natal e da terra
do jerimum, quando acima de tudo maravilhosa disciplina foi constatada, o que
deslumbrou todos os que se deslocaram de suas residências para as nossas praças
de esporte, naquelas tardes domingueiras de futebol.
Encantada,
ficou toda a grande massa humana que naqueles instantes este assistindo aos
jogos, pela inquebrantável linha de cavalheirismo que mantiveram nossos
adversários, ante tão fragorosos revezes que amargaram.
A serenidade
de animo dos potiguares, procurando tão somente empregar métodos leais e
técnica permitida na disputa da esfera frisam muito bem a todos nós o elevado
conceito que gozam os representantes do Rio Grande do Norte entre o nosso
público esportivo.
Vamos dar o
seu ao seu dono; cinco a zero duas vezes é uma lavagem confirmada, e é preciso
ter um esquadrão de futebol, muita educação esportiva para aguentá-lo, sem
demonstrar, além do natural desgosto, um bom bocado de indisciplina, ou por outra:
fazer sujeira, como se costuma dizer por aí...
No entanto,
os nossos adversários foram leais. De tudo pode se falar contra o quadro do RN;
de falhas, técnica, padrão, etc., porém jamais negará alguém que tenha um pouco
de bom senso, que é um conjunto disciplinado, e sabe sobriamente receber uma
derrota.
De ZÉ SILVA
(ou ROSSINI) ao “falado” TICO, todos os que envergaram a camiseta tricolor do
selecionado de Natal, representante da ARA, estiveram dignos do mais franco
elogio da assistência. Souberam perder, e isto é uma coisa tão díficil para
muita gente!
Quantas e
tantas vezes temos vistos em simples disputas regionais a indisciplina falar
mais alto, e os sururus dos diabos se dão, por causa de um triunfo inesperado
de um team (na maioria das vezes fraco) sobre outro mais poderoso (?) Não só
aqui, no Norte onde existe mais atraso a respeito do association brasileiro,
como também nas plagas sulinas (aliás com mais frequência). Lembram-se os nossos
leitores do último encontro entre os afamados profissionais do futebol (?)
vascaínos e tricolores da metrópole?
Estão,
portanto, de parabéns os esportistas potiguares; perderam na contagem, pois
finalmente estiveram bem mais fracos, porém foram fortes de espírito e souberam
enfrentar com apreciável galhardia uma grande derrota em dose repetida, sem
macular com atos reprováveis, só dignos da mentalidade dos que desconhecem
completamente a verdadeira finalidade dos esportes, o bom nome do futebol de
sua terra
*Transcrito
da “Vida Esportiva” (“A Ordem”, edição 2.708 – sexta-feira,
24/11/1943)
NOTA DO
REDATOR: Zé Silva e Rossini Azevedo, goleiros, do ABC e América,
respectivamente, e Tico (Francisco Canindé do Nascimento), que atuou pelos dois
clubes e virou treinador do alvirrubro e do antigo Santa Cruz a partir do
segundo semestre de 1952, quando substituiu, no comando do elenco americano, o
atacante Renato Magalhães, após uma excursão ao Recife e ao interior
pernambucano (Caruaru).
Vicente Farache Neto
Na ocasião do
artigo o treinador, dirigente e ex-quase tudo no alvinegro, o
comerciante, bacharel em Direito e juiz de paz Vicente Farache Neto (1902 –
1967), havia sido alçado a principal redator esportivo do jornal católico.
A campanha
potiguar no Brasileiro de Seleções, na realidade, foi a seguinte: 5 x 2 PB
(3/10) e 3 x 3 PB (10/10) – com prorrogação (2 a 1); e Pernambuco 8 x 1 (17/10)
e 6 x 2 (24/10). (Fonte: Federação Internacional de Estatísticas de Futebol).
Um dos gols
pernambucano, no primeiro jogo, foi do mossoroense Júlio Jesum de Carvalho, um
dos responsáveis pela ida de Dequinha para o América do Recife. Orlando Azevedo
Viana, “Pingo de Ouro”, que fez sucesso no Fluminense, anota três e mais um na
segunda partida.
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