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domingo, 23 de julho de 2023

Arqueiro do deca-campeonato abecedista se torna dono de revista (VII)

Orlando, o "Pingo de Ouro", pernambucano

OS JOGOS ENTRE PERNAMBUCO E O RIO GRANDE DO NORTE*

Duas vezes o placar de nossos estádios marcaram a contagem esmagadora de cinco tentos favorável aos pernambucanos, nos dois embate que foram realizados entre escretes de nossa terra e do Rio Grande do Norte, em disputa do campeonato brasileiro de futebol do corrente ano.

Inegavelmente os nossos foram superiores, mantiveram uma fibra de autênticos vencedores, os dez pontos a nihil (nenhum) que conquistaram foram fruto da técnica mais aprimorada, e como um galardão a seus esforços empregados.

Os jogos foram disputados em um ambiente de franca camaradagem, apresentando os 22 disputantes a grande amizade que une os filhos de nosso torrão natal e da terra do jerimum, quando acima de tudo maravilhosa disciplina foi constatada, o que deslumbrou todos os que se deslocaram de suas residências para as nossas praças de esporte, naquelas tardes domingueiras de futebol.

Encantada, ficou toda a grande massa humana que naqueles instantes este assistindo aos jogos, pela inquebrantável linha de cavalheirismo que mantiveram nossos adversários, ante tão fragorosos revezes que amargaram.

A serenidade de animo dos potiguares, procurando tão somente empregar métodos leais e técnica permitida na disputa da esfera frisam muito bem a todos nós o elevado conceito que gozam os representantes do Rio Grande do Norte entre o nosso público esportivo.

Vamos dar o seu ao seu dono; cinco a zero duas vezes é uma lavagem confirmada, e é preciso ter um esquadrão de futebol, muita educação esportiva para aguentá-lo, sem demonstrar, além do natural desgosto, um bom bocado de indisciplina, ou por outra: fazer sujeira, como se costuma dizer por aí...

No entanto, os nossos adversários foram leais. De tudo pode se falar contra o quadro do RN; de falhas, técnica, padrão, etc., porém jamais negará alguém que tenha um pouco de bom senso, que é um conjunto disciplinado, e sabe sobriamente receber uma derrota.

De ZÉ SILVA (ou ROSSINI) ao “falado” TICO, todos os que envergaram a camiseta tricolor do selecionado de Natal, representante da ARA, estiveram dignos do mais franco elogio da assistência. Souberam perder, e isto é uma coisa tão díficil para muita gente!

Quantas e tantas vezes temos vistos em simples disputas regionais a indisciplina falar mais alto, e os sururus dos diabos se dão, por causa de um triunfo inesperado de um team (na maioria das vezes fraco) sobre outro mais poderoso (?) Não só aqui, no Norte onde existe mais atraso a respeito do association brasileiro, como também nas plagas sulinas (aliás com mais frequência). Lembram-se os nossos leitores do último encontro entre os afamados profissionais do futebol (?) vascaínos e tricolores da metrópole?

Estão, portanto, de parabéns os esportistas potiguares; perderam na contagem, pois finalmente estiveram bem mais fracos, porém foram fortes de espírito e souberam enfrentar com apreciável galhardia uma grande derrota em dose repetida, sem macular com atos reprováveis, só dignos da mentalidade dos que desconhecem completamente a verdadeira finalidade dos esportes, o bom nome do futebol de sua terra

*Transcrito da “Vida Esportiva” (“A Ordem”, edição 2.708 – sexta-feira, 24/11/1943)

NOTA DO REDATOR: Zé Silva e Rossini Azevedo, goleiros, do ABC e América, respectivamente, e Tico (Francisco Canindé do Nascimento), que atuou pelos dois clubes e virou treinador do alvirrubro e do antigo Santa Cruz a partir do segundo semestre de 1952, quando substituiu, no comando do elenco americano, o atacante Renato Magalhães, após uma excursão ao Recife e ao interior pernambucano (Caruaru).

Vicente Farache Neto

Na ocasião do artigo o treinador, dirigente e ex-quase tudo no alvinegro, o comerciante, bacharel em Direito e juiz de paz Vicente Farache Neto (1902 – 1967), havia sido alçado a principal redator esportivo do jornal católico.

A campanha potiguar no Brasileiro de Seleções, na realidade, foi a seguinte: 5 x 2 PB (3/10) e 3 x 3 PB (10/10) – com prorrogação (2 a 1); e Pernambuco 8 x 1 (17/10) e 6 x 2 (24/10). (Fonte: Federação Internacional de Estatísticas de Futebol).

Um dos gols pernambucano, no primeiro jogo, foi do mossoroense Júlio Jesum de Carvalho, um dos responsáveis pela ida de Dequinha para o América do Recife. Orlando Azevedo Viana, “Pingo de Ouro”, que fez sucesso no Fluminense, anota três e mais um na segunda partida.

 

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