A carta aberta que provoca descoberta inédita (“Diário de Natal”, terça-feira, 27/8/1959)
“INGRATIDÃO”
Escreve José Rodolfo de
Lima, ex-crack do A.B.C. de 1922 a 1934
“À valorosa e incentiva torcida do Alvinegro
e ao povo esportivo da minha Terra:
É revoltante, triste e
doloroso, o desprezo dado pela atual diretoria do ABC aos seus velhos craques,
aqueles com que amor, desprendimento e sacrifício de corpo e alma, se empenhavam
nas lutas pebolísticas do passado (quando não se jogava por dinheiro nem era
mascarado), mantendo as tradições do velho e querido ABC e erguendo bem o alto
o seu nome, que, como muito orgulho vemo-lo hoje, ocupando uma posição
destacada no mundo esportivo de nossa terra, figurando no livro de ouro
esportiva do R. G. do Norte.
A estes velhos craques a
diretoria atual do society abecedista, em sinal de reconhecimento e gratidão,
deu-lhes como prêmio único o desprezo e o esquecimento pelas inúmeras vitórias
que, com sacrifício, alma, sangue e com todo o vigor das suas energias moças,
souberam conquistar no estado e além fronteiras, elevando bem alto o nome do
clube e mantendo assim para a posteridade as suas tradições.
E a estes velhos e
denodados, que hoje, o clube em sinal de gratidão e reconhecimento, lhe fecham
as portas, privando-lhes de um direito adquirido, direito este que é conferido
como prêmio de reconhecimento e gratidão aos velhos craques do mundo inteiro
(menos ao dos ABC).
A minha revolta e a minha
decepção seriam muito maior ainda, se sobrevivessem os meus velhos amigos e
companheiros do meu tempo, que comigo, defenderam, ombro a ombro, peito a
peito, por tantos anos, a bandeira alvinegra do nosso glorioso ABC como
verdadeiro amor e abnegação: NEZINHO, XIXICO, DORCELINO, MIGAS, ADALBERTO, PÉ
DE OURO, que, graças a Deus, estão no outro mundo, mais felizes do que eu, pois
não estão sorvendo como eu e meus companheiros que sobrevivem a taça amarga da
decepção, do desprezo, da injustiça e da ingratidão.
Os outros clubes
esportivos, notadamente o América Futebol Clube, que hoje e um dos expoentes do
society natalense, possui o seu quadro de remidos e beneméritos, premiando
aqueles cuja vida esportiva foi dedicada ao engrandecimento e ás glórias de sua
bandeira.
Enquanto isso, nós outros,
que tivemos a nossa atuação espontânea e eficiente no destino do Alvinegro,
fomos premiados com a ingratidão e o esquecimentos, e atirados à vala comum
como indesejáveis (eis o nosso prêmio).
Não pensem os diretores
do ABC que nos humilham com o desprezo, pelo contrário, nos enaltecem!!!
Todavia, para meu gáudio
e conforto moral, acabo de receber um ofício do senhor Antônio Fernandes
Bióca, da diretoria do “13” de Campina Grande, em cujo quadro principal atuei
durante cinco anos apenas, solicitando-me o envio de três fotografias afim de
me ser concedida a caderneta de sócio benemérito, em proposta que mereceu o
apoio unanime da assembleia geral do Galo da Borborema, cujo documento tenho em
meu poder, com muito carinho e orgulho.
Não quero fazer parte do
society abecedista, mesmo porque, contento-me junto aos meus velhos companheiros,
conservar no meu coração a faixa alvinegra como uma relíquia sagrada do meu amor
ao meu velho e querido clube, da minha dedicação, do meu esforço e do meu sacrifício
para o seu progresso e grandeza.
Aqui fica o nosso grito
de revolta, para o conhecimento e julgamento dos homens dignos de nossa Terra.
Natal, 24 de julho de
1959
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