O "Pipico" convive com nomes compostos/Paullo Almeida-Folha de Pernambuco
Em seguida ao
artigo do comentarista da “Placar”, que reflete a situação dos apelidos dos
jogadores nos anos 90, a pesquisa encontra, também na rede, a mesma
singularidade para os anos 2000.
Com uma
excelente reportagem – publicada dois anos depois daquela da revista paulista –
na “FOLHA DE PERNAMBUCO” (3/5/2019), assinada pelo jornalista Fernando Barros: “Apelidos
perdem espaço para nomes compostos no futebol”.
E introdução: “Uma
realidade que caminha na profissionalização com que o futebol é encarado hoje,
mas que por outro lado tira um tanto do folclore e da graça do esporte.”
A reportagem
original
... Diferente de
boa parte do mundo o comum por essas bandas era que os jogadores não fossem
chamados pelo sobrenome ou até mesmo pelo primeiro nome.
O lado mais
lúdico da modalidade foi expresso em apelidos tão esdrúxulos quanto memoráveis,
a exemplo de Pelé, Garrincha, Zico, Tostão.
Ou até alguns
mais íntimos, que refletia o tratamento carinhoso dos brasileiros, como Didi,
Vavá, Dadá, Kaká.
Por aqui mesmo,
em Pernambuco, ainda surgem alcunhas um tanto bem humoradas, como Caça-Rato,
Brasão, Carlinhos Bala, Kuki, Grafite, Pipico...
No entanto esse
cenário parece ter sofrido uma mudança nos últimos anos. Cada vez mais os
jogadores têm adotado o nome de nascença em suas camisas ou vêm utilizando o
nome composto.
Uma realidade
que caminha na profissionalização com que o futebol é encarado hoje, mas que
por outro lado tira um tanto do folclore e da graça do esporte.
Antes
inimaginável nos últimos anos hoje é comum ver jogadores sendo
"orientados" a abandonar o apelido com o qual iniciaram suas
carreiras.
"Temos um
cliente do Figueirense que é lateral-esquerdo, cujo nome é Matheus Destro.
Destro é o sobrenome dele. E aí fica aquela coisa: 'joga na lateral-esquerda,
mas o nome é destro'.
Cheguei a
conversar com ele, se ele queria ser chamado assim mesmo, porque a gente sabe
como é, às vezes o torcedor pode fazer uma piada, mas ele disse que não ia
mudar, porque já fazia tempo que era chamado assim e aí tem situações que a
gente tem que respeitar.
É decisão do
jogador, mas é algo que a gente não faz muito de imposição. Isso é muito
natural, são casos que acontecem", afirma Arthur Virgílio, jornalista e
fundador da AV Assessoria de Imprensa, empresa que trabalha com a divulgação de
profissionais do esporte.
"No Ceará,
Felipe (meia) tem o apelido de Baixola. O próprio Ceará, em ações de marketing,
usava o jogador com o nome de Felipe Baixola, mas a gente passou a utilizar
mais o Felipe Silva. E ele mesmo falou que gostava de ser chamado de Felipe
Silva", acrescenta, sobre o atleta, conhecido pela baixa estatura (1,71m).
No entanto,
segundo o próprio Arthur Virgílio, não vai ser um apelido estranho ou curioso
que vai afastar o jogador de uma carreira de sucesso. "Eu não sei se pode
pesar na valorização ou desvalorização do atleta.
Quando o clube
contrata um jogador ele olha o macro, o desempenho do jogador dentro de campo.
Não acredito que algum clube deixe de contratar um jogador em virtude da
nomenclatura, do nome artístico", avalia.
A mesma opinião
é compartilhada por Ytalo Pontes, empresário de jogadores. "É uma situação
inusitada. Eu sou daqueles que pensa que o mais valioso é a qualidade que o
jogador tem, mas existem nomes com umas particularidades interessantes.
Eu mesmo já tive
que interferir numa situação dessas, com um jogador da Paraíba. O nome dele era
até engraçado, é conhecido como Birungueta (meia do Nacional de Patos/PB).
E aí quando eu o
mandei para a Europa as pessoas lá não sabiam o que era isso. Se era nome, se era
apelido... e ficou meio como uma chacota. Aí acabou mudando (nome de batismo é
João Emanuel Ferreira Souza), voltou atrás de novo, ficou Birungueta e terminou
assim", conta Pontes.
De acordo com
Pontes, a adoção de nomenclaturas mais "comuns" por parte dos atletas
se deve em boa parte ao fato de que há muitos mais jogadores na ativa hoje em
dia. "Outro dia estava falando desses nomes compostos aí, Bruno Silva,
João Paulo...
Acontece porque
se a gente comparar com antigamente, o Brasil devia ter 2 mil jogadores. Hoje
temos 200 mil. Acho que essa derivação veio mais da quantidade, para poder
especificar, diferenciar.
Antigamente,
Sócrates, Rivelino, só tinham esses com esse nome. Hoje, temos vários
Brunos", diz o empresário, que vê a utilização dos apelidos no futebol
como uma faca de dois gumes.
"Esses
casos específicos têm a parte boa, que é quando o jogador tem um bom momento, e
ele tem um nome engraçado, é mais fácil de cair na graça, mas também tem coisas
que às vezes atrapalha. A mesma torcida que aplaude e vibra é a mesma que vaia
esse tipo de jogador".
Na visão de
Rodrigo Gomes, também empresário de jogadores, é algo natural pela modernização
do esporte. "Eu acho que isso acontece mesmo pela profissionalização do
futebol. O futebol, nos últimos anos, mudou muito, principalmente nessa
questão.
Eu,
particularmente, gosto de apelido, porque diferencia o jogador. Digo a todo
mundo que, se o cara se chama Rodrigo, por exemplo, quando pegar na bola dez
vezes vai ser sempre Rodrigo. Já se ele usa um apelido tipo 'Galego', quando
pegar a segunda vez na bola, já é diferente, chama mais atenção", aponta.
"Agora
também depende do apelido né. O que eu vejo no futebol, muitos treinadores
hoje, até diretores às vezes, têm preconceito com diminutivo, eu já percebi
isso. Tem pro lado ruim e lado bom, mas o apelido chama mais atenção.
Tem um exemplo.
Caça-Rato, mesmo, eu não gosto. Agora para ele foi bom. O nome dele é Flávio.
Caso fosse só Flávio ele dificilmente seria lembrado. Já Caça-Rato todo mundo
sabe quem é. Apesar de ser feio, mas foi o que o diferenciou, o ajudou a ser
conhecido no Brasil todo", reflete Gomes.
Em um mundo cada
vez mais tomado por nomes mais "profissionais", como Renato Augusto e
Douglas Costa, e menos povoado por alcunhas memoráveis, como Chulapa, Dinamite
e Vampeta.
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