Futebolista no encontro de Mário de Andrade com Câmara Cascudo (III)

Escudo do CEN

José Vanilson Julião

O extenso depoimento de três páginas do desembargador João Maria Furtado, o antigo player De Maria, para a revista do cinquentenário americano, é histórico pelo desfile dos nomes e apelidos dos jogadores amadores de outrora, os pioneiros, entre a fundação (1915), entardecer dos anos 20 e alvorecer da década de 30.

Estes personagens são materializados nas quatro fotos dos times posados distribuídas pelas páginas. Dos atletas fundadores e primeiros dirigentes, os que foram agregados aos elencos posteriormente e os contratados numa época de amadorismo quase “marrom”, antes do profissionalismo, que efetivamente demorou para valer no RN.

Como secretário em um período em que a sede ficava na Rua Ulisses Caldas, nas imediações da agência dos Correios da Cidade Alta (Centro), João Maria Furtado cuidou do arquivo do clube que fora fundado no Beco da Lama, que resumia a um único livro de atas.

Época em que algumas sessões eram realizadas na casa do goleiro do primeiro quadro, o mineiro Teodomiro de Sá. Enfim, é um desfilar de causos e situações, como o apelido de João Barômetro (que não gostava) para João Foster, do segundo quadro.

Tempos do negro João Ricardo (vendia as medalhas antes mesmo de conquistá-las), que também jogou no Alecrim Futebol Clube e tomava dois bules de café e comia quase todos os pães dos destinados aos 22 rapazes;

do selecionado da Liga no Recife chefiado por Alfredo Lira e secretariado pelo Francisco Lopes de Freitas, campeão de bilhar ao lado de José Wanderley (apelido de “Mandriú” meteu-se com o teatro no Rio de Janeiro), o abecedista Manoel Avelino e Elissózio Guimarães.

– No torneio entre os três estados (Pernambuco, PB e RN) no jogo contra os paraibanos fomos descaradamente furtados. O juiz José Fernandes anula, sob falso pretexto de impedimento, quatro das seis bolas que enviamos a rede, quando o escore final era 3 x 2 (para o adversário), diz Furtado.

Completa: “Depois ficou esclarecido que esse juiz era cunhado de Orris Barbosa (fundador do jornal O Norte e tio do humorista José Soares, o Jô)”. Do elenco potiguar faziam parte, entre outros, os zagueiro Francisco Melo (Canela de Ferro), Zé Pequeno (ABC);

o goleiro alvinegro, o carioca e engenheiro Carqueja e Fuentes – em detrimento do americano Cazuza ou José da Cega –, os atacantes José dos Santos e José Rodolfo de Lima (ainda vivo quando do depoimento de Furtado), um dos 13 fundadores do alvinegro Galo da Borborema, de Campina Grande (conforme revelação inédita deste JORNAL DA GRANDE NATAL);

O Centro Esportivo Natalense, do acrônimo CEN (liderava o campeonato quando da interrupção pela gripe espanhola e campeão em 1921), cede o zagueiro J. Carneiro e os atacantes Gentil e Alemão (o eletricista que montou os primeiros refletores do Estádio Juvenal Lamartine nos anos 40).