A fachada do JL sem aparecer a arquibancada de madeira, mas com o morrinho ocupado
José Vanilson Julião
C. R. M. Gomes
São 37 inserções do termo “frasqueira” em 1.230 edições de “O Poti” no período 12 de dezembro de 1954 a 12
de julho de 1959.
Com o apelido incorporado ao linguajar
esportivo de todos os cronistas esportivos: de João Neto e José Procópio Filgueira Neto a Everaldo Lopes
Cardoso.
Se a imprensa fornece as certidões de
nascimento e batismo pro forma o pai da criança são os provocadores torcedores do América.
O mais famoso deles foi o ex-juvenil ou aspirante americano, Francisco Lamas, considerado um dos primeiros narradores da antiga Rádio
Educadora de Natal, do conhecido acrônimo REN.
O padrinho espiritual ou de carne e osso, Chico Lamas, que andou também
apitando jogos, apesar do corpo enorme, é um contumaz provocador.
Como atesta um torcedor alvinegro em
comentário
sobre texto (12/11/2011) do blog do advogado americano Carlos Roberto de
Miranda Gomes, filho do presidente do América, desembargador José Gomes
da Costa, no triênio 1928/30.
O texto do escritor e poeta Ciro
Tavares é histórico e merece ser transcrito no que tem
mais de substancial, principalmente nos trechos em que “fala” sobre Lamas, a “frasqueira” e o estadinho conhecido como “JL” ou “Jotaele” para
os narradores do rádio.
PATRÍCIOS E PLEBEUS
Ciro José Tavares
“...Os abecedistas mais
favorecidos e marcados pelas raízes canguleiras ficavam na ala oeste da
arquibancada de madeira. Modestíssima Tribuna de Honra e a parafernália radiofônica de Aluísio Menezes e João Neto nos separavam dos
americanos, com seus pavilhões e indumentárias cor de sangue, à direita. Quando o vento
vencia a duna coberta de verdes sentíamos o cheiro dos xarias misturado aos gritos.
Na
parte contrária à nossa, as gerais
concentravam o coração alvinegro, a legião dos humildes, vinda do
Canto do Mangue, Areal, Rocas e outros bairros, a pé, pendurados nos estribos
dos bondes, morcegando caminhonetes, carroças ou na carona de amigos como Antônio Farache, capaz de
duplicar a lotação do seu fordeco 1929...
Acostados
à mureta que demarcava o
limite do gramado, esperavam pacientemente “esfriando o sol”, mal protegidos por chapéus de palhas, bonés encardidos, folhas de
jornais, guarda-chuvas derrotados pelo tempo. Multidão sem nome, sofrida,
apaixonada e que, por ironia do destino, acabou sendo exaltada, ao receber
glorioso epíteto pela voz
espalhafatosa e arrogante do fanatismo americano.
A cena é inesquecível. Para alcançar seu lugar na ala leste
da arquibancada, Chico Lamas fazia o trajeto da provocação e Geraldo, o
bilheteiro, não conseguia impedi-lo.
Era grande, forte, caminhar bamboleante resultante das cervejas ingeridas. Nas
imediações da Tribuna de Honra,
olhando o outro lado, acenava e gritava: “Fala frasqueira da geral”. As respostas imediatas
eram dedos médios estirados e palavrões quase inaudíveis. O certo é que a frase repetida
muitas vezes acabou, orgulhosamente, guardada nos nossos espíritos.
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