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domingo, 24 de setembro de 2023

O nascimento "oficial" da "frasqueira" do ABC (II)

A fachada do JL sem aparecer a arquibancada de madeira, mas com o morrinho ocupado

Jos
é Vanilson Julião

C. R. M. Gomes

São 37 inserções do termo frasqueira em 1.230 edições de O Poti no período 12 de dezembro de 1954 a 12 de julho de 1959.

Com o apelido incorporado ao linguajar esportivo de todos os cronistas esportivos: de João Neto e José Procópio Filgueira Neto a Everaldo Lopes Cardoso.

Se a imprensa fornece as certidões de nascimento e batismo pro forma o pai da criança são os provocadores torcedores do América.

O mais famoso deles foi o ex-juvenil ou aspirante americano, Francisco Lamas, considerado um dos primeiros narradores da antiga Rádio Educadora de Natal, do conhecido acrônimo REN.

O padrinho espiritual ou de carne e osso, Chico Lamas, que andou também apitando jogos, apesar do corpo enorme, é um contumaz provocador.

Como atesta um torcedor alvinegro em comentário sobre texto (12/11/2011) do blog do advogado americano Carlos Roberto de Miranda Gomes, filho do presidente do América, desembargador José Gomes da Costa, no triênio 1928/30.

O texto do escritor e poeta Ciro Tavares é histórico e merece ser transcrito no que tem mais de substancial, principalmente nos trechos em que fala” sobre Lamas, a frasqueira e o estadinho conhecido como JL” ou Jotaele para os narradores do rádio.

 


PATR
ÍCIOS E PLEBEUS

Ciro José Tavares

...Os abecedistas mais favorecidos e marcados pelas raízes canguleiras ficavam na ala oeste da arquibancada de madeira. Modestíssima Tribuna de Honra e a parafernália radiofônica de Aluísio Menezes e João Neto nos separavam dos americanos, com seus pavilhões e indumentárias cor de sangue, à direita. Quando o vento vencia a duna coberta de verdes sentíamos o cheiro dos xarias misturado aos gritos.

Na parte contrária à nossa, as gerais concentravam o coração alvinegro, a legião dos humildes, vinda do Canto do Mangue, Areal, Rocas e outros bairros, a pé, pendurados nos estribos dos bondes, morcegando caminhonetes, carroças ou na carona de amigos como Antônio Farache, capaz de duplicar a lotação do seu fordeco 1929...

Acostados à mureta que demarcava o limite do gramado, esperavam pacientemente esfriando o sol, mal protegidos por chapéus de palhas, bonés encardidos, folhas de jornais, guarda-chuvas derrotados pelo tempo. Multidão sem nome, sofrida, apaixonada e que, por ironia do destino, acabou sendo exaltada, ao receber glorioso epíteto pela voz espalhafatosa e arrogante do fanatismo americano.

A cena é inesquecível. Para alcançar seu lugar na ala leste da arquibancada, Chico Lamas fazia o trajeto da provocação e Geraldo, o bilheteiro, não conseguia impedi-lo. Era grande, forte, caminhar bamboleante resultante das cervejas ingeridas. Nas imediações da Tribuna de Honra, olhando o outro lado, acenava e gritava: Fala frasqueira da geral. As respostas imediatas eram dedos médios estirados e palavrões quase inaudíveis. O certo é que a frase repetida muitas vezes acabou, orgulhosamente, guardada nos nossos espíritos.

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