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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Ramiro Gomes Pedrosa x Floriano Peixoto Corrêa na "academia"

A centenária, histórica e suntuosa sede do Fluminense no bairro das Laranjeiras

José Vanilson Julião

Os episódios envolvendo o antigo futebolista aristocrata potiguar no Rio de Janeiro e agora dirigente do Fluminense, Ramiro Gomes Pedrosa, e o “player” Floriano Peixoto Corrêa, em meados dos anos 20 – relados em livro-depoimento do atleta – virou um dos alvos de tese acadêmica de história. (*)

A obra “Grandezas e Misérias do Futebol do Futebol” (1933) coincide e é lançada em meio as discussões da mudança do sistema de relação entre os clubes e os jogadores. Ou seja, durante a transição do modelo amadorismo “marrom” para o profissionalismo vigente na Europa e praticado pelos vizinhos da América do Sul: Argentina e Uruguai.

“Dedico à memória de meus companheiros de football que morreram na indigência depois de terem contribuído para a glorificação do soccer nacional – humildes operários que à custa de sacrifícios enormes inclusive o da própria vida, legaram aos clubs os estádios de cimento armado que que estes ostentam hoje...”, eis a epigrafe do livro.

Convidado pelo diretor Arhur de Morais e Castro, o “Lais”, e aprovado em teste no tricolor estreia em março de 1924. E de imediato começam as relações incestuosas com os diretores das Laranjeiras, como o já mencionado fato de subir a serra de Itatiaia para a fazenda de Ramiro Gomes Pedrosa, alvo de situações, digamos, engraçadas, a seguir.

Numa das passagens do livro Floriano Peixoto diz: - ...Meu surrado guarda-roupa se resumia a um terno de casimira marrom cedido por empréstimo pelo milionário Ignácio Nogueira, torcedor ferrenho, o qual, encantado com minhas atuações achou de bom alvitre prestar-me este obséquio...

Ramiro Pedrosa, o do palacete em Petrópolis, era considerado um “mão aberta”. E chegava a ser “explorado” pelo jogador. – As vezes estava na cidade, telefonava para ele pedido desculpas, não ia chegar a tempo para treinar. Ramiro perguntava onde estava e dizia que em Petrópolis, sendo orientando a pegar um táxi...

Corrêa demorava-se um pouco na cidade, calculando o tempo do percurso Petrópolis – Rio. Quando saltava o porteiro do Fluminense, na sede das Laranjeira, já estava na calçada com uma cédula de 500 mil réis. Não era preciso tanto. Floriano metia 300 no bolso e devolvia 200. “O troco, seu Ramiro...”

A narrativa está no livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, do jornalista pernambucano radicado na metrópole, Mário Leite Rodrigues Filho, também responsável por contar as peripécias de Raul Barreto de Albuquerque Maranhão (o primo de Ramiro), mas dentro do campo.

*Tiago Augusto de Deus Nogueira Silva – As Lutas e as Mazelas nos Bastidores do Futebol: Os últimos anos do falso amadorismo (1926-1931) – Universidade de São João Del Rei (2019)

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