A centenária, histórica e suntuosa sede do Fluminense no bairro das Laranjeiras
José
Vanilson Julião
Os
episódios envolvendo o antigo futebolista aristocrata potiguar no Rio de Janeiro
e agora dirigente do Fluminense, Ramiro Gomes Pedrosa, e o “player” Floriano
Peixoto Corrêa, em meados dos anos 20 – relados em livro-depoimento do atleta –
virou um dos alvos de tese acadêmica de história. (*)
A
obra “Grandezas e Misérias do Futebol do Futebol” (1933) coincide e é lançada
em meio as discussões da mudança do sistema de relação entre os clubes e os
jogadores. Ou seja, durante a transição do modelo amadorismo “marrom” para o
profissionalismo vigente na Europa e praticado pelos vizinhos da América do
Sul: Argentina e Uruguai.
“Dedico
à memória de meus companheiros de football que morreram na indigência depois de
terem contribuído para a glorificação do soccer nacional – humildes operários
que à custa de sacrifícios enormes inclusive o da própria vida, legaram aos clubs
os estádios de cimento armado que que estes ostentam hoje...”, eis a epigrafe
do livro.
Convidado
pelo diretor Arhur de Morais e Castro, o “Lais”, e aprovado em teste no
tricolor estreia em março de 1924. E de imediato começam as relações incestuosas
com os diretores das Laranjeiras, como o já mencionado fato de subir a serra de
Itatiaia para a fazenda de Ramiro Gomes Pedrosa, alvo de situações, digamos,
engraçadas, a seguir.
Numa
das passagens do livro Floriano Peixoto diz: - ...Meu surrado guarda-roupa se
resumia a um terno de casimira marrom cedido por empréstimo pelo milionário
Ignácio Nogueira, torcedor ferrenho, o qual, encantado com minhas atuações
achou de bom alvitre prestar-me este obséquio...
Ramiro
Pedrosa, o do palacete em Petrópolis, era considerado um “mão aberta”. E
chegava a ser “explorado” pelo jogador. – As vezes estava na cidade, telefonava
para ele pedido desculpas, não ia chegar a tempo para treinar. Ramiro
perguntava onde estava e dizia que em Petrópolis, sendo orientando a pegar um
táxi...
Corrêa
demorava-se um pouco na cidade, calculando o tempo do percurso Petrópolis – Rio.
Quando saltava o porteiro do Fluminense, na sede das Laranjeira, já estava na
calçada com uma cédula de 500 mil réis. Não era preciso tanto. Floriano metia
300 no bolso e devolvia 200. “O troco, seu Ramiro...”
A
narrativa está no livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, do jornalista pernambucano
radicado na metrópole, Mário Leite Rodrigues Filho, também responsável por contar
as peripécias de Raul Barreto de Albuquerque Maranhão (o primo de Ramiro), mas
dentro do campo.
*Tiago Augusto de Deus Nogueira Silva – As Lutas e as Mazelas nos Bastidores do Futebol: Os últimos anos do falso amadorismo (1926-1931) – Universidade de São João Del Rei (2019)
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