O Diário de Noticias que muita gente citou, de norte ao sul, como
o jornal no qual Ricardo Boechat começa a carreira, e ninguém lembrou –
exceto este blog -, foi fundado pelo potiguar Orlando, irmão do jurista
potiguar Heraclio Vilar Ribeiro Dantas.
A extinta mídia impressa carioca surge em 12/6/30 e circula até a década de 1970, sendo o quarto ou quinto com esse
nome no Rio, além de outro em Salvador (pertencente ao condomínio Associado) e um em Porto Alegre, controlado por grupo local.
O primeiro, fundado por Clímaco dos Reis, circula em
2/8/1870, com tiragem de 6 mil exemplares e quatro páginas. Propunha “índole
inofensiva” em relação às disputas políticas da corte.
O concorrente, pertencente a S. S. Paes Viana, é
lançado em 21/3/1868. Republicano e civilista. Nele escreve Rui Barbosa
(redator-chefe em 7/3/1889), dia em que circula com duas edições 1362, e desapareceu
em 20/11, quatro dias após a proclamação da República.
Há registros de um DN 20 anos após a queda do Império,
na campanha de Rui Barbosa em oposição a Hermes da Fonseca, este eleito
presidente em 1/3/1910.
O jornal de Orlando Dantas apóia Getúlio Dorneles
Vargas, ex-ministro da Fazenda do presidente Washington Luís, na Revolução Liberal
(30) e adiante se alinha com o movimento pela assembléia constituinte que
desembocaria na insurreição paulista de 1932.
No Estado Novo (37 – 45) rejeita os favores do
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do ditador gaúcho. Freqüentam a
redação Otávio Mangabeira, Adauto Lúcio Cardoso e Eduardo Gomes.
Colaboradores: Mário de Andrade, Augusto Frederico
Schmidt, Álvaro Moreira, Alceu Amoroso Lima, Luís da Câmara Cascudo, Afonso
Arinos de Melo Franco, Josué de Castro, Sérgio Buarque de Holanda e Graciliano
Ramos...
Nos anos 1950 o Diário confrontar-se com O Globo em debate sobre histórias em quadrinhos.
A empresa de Roberto Marinho editava o Gibi
e o Globo Juvenil com tiras importadas
dos Estados Unidos. Dantas contesta o valor educativo dessas histórias.
A morte de Orlando (1953) não afeta logo a linha do
jornal, que faz oposição ao governo do médico mineiro Juscelino Kubitschek de
Oliveira e à construção de Brasília. Era o diário de maior circulação do Rio.
A viúva, Ondina Portela, escreve coluna sobre música
com o pseudônimo “D'Or” e apelidaram-na de “marechala”. As decisões importantes
passam pelo filho João.
Em 1957 João Dantas comprou o acervo de O Mundo, jornal dirigido por Geraldo
Rocha e ligado a Juan Domingo Perón, presidente da Argentina deposto em 1955 e
no exílio em Madri (Espanha).
Máquinas, uma revista em cores, Mundo Ilustrado, e um prédio de sete andares, na Rua do Riachuelo,
114 (a sede anterior era na Rua da Constituição, 11).
No ano seguinte o risco assumido foi ideológico e
político: promoveu estudo sobre “a Revolução Brasileira”. O documento,
publicado em 15 de junho, teve grande repercussão. Propunha reforma agrária,
nacionalização de indústrias de base e das empresas de rádio e televisão e um
programa de educação em massa.
Essa proposta foi apresentada ao candidato Jânio da
Silva Quadros, com quem se encontrou em Bled, na Iugoslávia (hoje Eslovênia).
Visitam a China, Japão, Índia, Paquistão, Irã, Egito, Israel e Líbano.
À France Press, em Pequim, como porta-voz de Jânio,
Dantas defende o reconhecimento do regime de Mao Tsé Tung e o restabelecimento
de relações com a Rússia.
O apoio tardio ao golpe de 1964 dá espaço ao
discurso de Carlos Lacerda, a essa altura na oposição e caminhando para se
recompor com Juscelino Kubitschek e João Goulart na construção de uma
pretendida “frente ampla”.
O jornal, afogado por dívidas com a previdência
social e bancos oficiais, é vendido por 500 mil dólares ao grupo TAA, do
empresário pernambucano Fernando Rodrigues, representado pelo deputado Ricardo
Fiúza, indicado pelo Ministro da Fazenda, Delfim Netto.
Esteve sob intervenção do governo (1970/73) com
alguma descontinuidade de circulação. O último número, 14.747, circula em
10/11/76, desfigurado, com a manchete com release: “Ferroviário recebe novembro
com aumento do Plano”.