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Elenco do Siderúrgica, campeão mineiro de 1964, com o treinador Yustrich (último em pé de cinza) |
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Gerchmann comenta sobre autor J. L. Costa e o livro sobre a carreira do polêmico técnico |
Entre 12 e 14 de junho deste ano o blog publicou uma série de oito reportagens sobre o lançamento da biografia do treinador de futebol Dorival Knipel, o "Yustrich", apelido retirado do nome de um goleiro argentino dos anos 30.
A
sequência dos artigos foi motivada pela sugestão e recomendação em rede social
do jornalista aposentado José Maria de Aquino para se ler a excelente obra em
tom de reportagem, escrita pelo jornalista gaúcho José Luiz Costa.
Ate
reproduzo no primeiro texto sequencial parte do prefácio de José Maria de
Aquino, mas incompleto. Como localizei todo o prefácio original no portal
"SLER" (13 de junho de 2025), destinado a escritores e leitores,
transcrito pelo jornalista Léo Gerchmann.
Agora reproduzo na totalidade como parte complementar importante do artigo "Livraço de José Luís Costa sobre Yustrich - Excelente repórter, Zé não economiza em detalhes para contar a história do “Homão”.
O prefácio do mestre que passou
pela revista PLACAR é, também, histórico. (JVJ)
JOSÉ MARIA DE AQUINO
Jornalista
“Este
livro começou a ser ‘escrito’ há mais de meio século, na memória de um garoto
de apenas cinco anos que, assustado, fazendo companhia a seu pai, ouvia nas
rádios do Rio de Janeiro notícias e comentários sobre um técnico violento,
grandalhão, que não levava desaforo para casa, batia nos jogadores,
agarrando-os pelo pescoço, botando-os de castigo. Um técnico que enfrentava a
imprensa e não aceitava ordens de seus diretores.
José
Luís Costa, o garoto assustado, cresceu, tornou-se jornalista, trabalhou em
órgãos de imprensa do Rio Grande do Sul, onde nasceu e vive, sempre longe da
seção de esportes, mas nunca esqueceu aquele técnico, valente, violento,
daquele HOMÃO.
Em
2021, desempregado pela pandemia, decidiu escrever um livro contando as
histórias dos “bad boys do futebol” – cartolas, jornalistas, jogadores,
torcedores que viviam se metendo em confusões. Fascinado com as informações
sobre Yustrich, aquele valente, um deles, abandonou os demais. (…) Concentrou
seu trabalho no Homão. Somando mais de 5 mil laudas de pesquisas em jornais,
revistas, sites e mais de 140 entrevistas com ex-jogadores, dirigentes,
jornalistas, amigos e inimigos, que lhe renderam um livro completo, sobre um
personagem complexo, nascido em Corumbá, em 1916, batizado Dorival Knippel,
mais conhecido como Yustrich – um goleiro razoável, um técnico de alto nível,
nos seus 50 anos de profissão, dirigindo grandes e pequenos times. (…) Colhendo
sucessos e fracassos. Colocou o Porto na elite do futebol português, ganhou
estátua no museu do clube. Considerado um dos três melhores em sua história.
José
Luís descobriu que o Homão era mesmo tudo que, assustado, ouviu dizer dele
quando guri, mas que era, também, um ser humano sensível, carinhoso, capaz de
bater e de abraçar; de punir e perdoar; de enfrentar cartolas poderosos,
jogadores famosos, e de chorar como uma criança.
Disciplinador
e paizão, que emprestava dinheiro e não cobrava. Que mandava queimar camas e
colchões velhos, exigindo o melhor para os jogadores. (…) Capaz de prender o
time na concentração após uma derrota e de levar um atleta que não dormia
porque sentia fome a uma churrascaria tarde da noite. Capaz de proibir jogador
de sair do treino para assistir ao nascimento dos filhos gêmeos, e no dia
seguinte pedir perdão, levando flores para a mãe na maternidade.
Um
‘louco’ capaz de barrar no Flamengo o zagueiro Brito, tricampeão mundial no
México, em 1970, por achar ‘que queria jogar só com a fama’. De brigar com o
artilheiro Doval, ídolo da torcida rubro-negra. E ter visão e coragem para
lançar um garoto como Wladimir, no Corinthians, e fazer brilhar Geovani, na
Desportiva, do Espírito Santo. De, em um ano, ensinar Dario Maravilha, no
Atlético-MG, a chutar, cabecear, ser gente e chegar à Seleção.
Criticou
João Saldanha, dizendo que não tinha competência para ser técnico da Seleção
Brasileira. E, há quem diga, que não herdou o cargo em 1970 por seu gênio
forte. Não se dava bem com a imprensa e, nos momentos de aperto financeiro, se
tornou comentarista de rádio e televisão.
Mulherengo,
tinha dois amores em Belo Horizonte e chegou a ter um terceiro no Rio, ao mesmo
tempo. Mas a grande paixão era a filha Ana Lúcia. Proibia bebida para jogadores
e, de vez em quando, tomava todas nas noitadas. Gostava de mesa farta. Exigia
dos jogadores, mas não cuidava do próprio corpo.
Ganhou
muito dinheiro. Gastou, não cobrou o que emprestava, ajudava pobres e crianças,
perdeu tudo. Desregrado, tornou-se diabético. Lutou, sem saber – porque queriam
poupá-lo -, contra um câncer na próstata e foi derrotado por ele. Morreu sem
conhecer a palavra limite. Amparado por uma de suas mulheres e amigos, que
custearam seu funeral.
Um
livro muito bem cuidado, uma história para ser conhecida.”
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