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O clube da "Estrela Solitária" é o único carioca a se exibir no Estádio Coronel José Bezerra |
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Elencos do time local e dos visitantes em conjunto |
"O último jogo do 'Furação da Copa' pelo Botafogo foi na
terra da scheelita"
Kolberg Luna Freire
Jornalista
No segundo semestre do ano de 1981, Jairzinho voltou ao Botafogo/RJ, com
37 anos, após temporada na Bolívia, onde foi campeão e artilheiro pelo Jorge
Willsterman. Sua reestreia ocorreu num insosso 0 x 0 com o América, pelo
Campeonato Estadual.
O garoto que começara como gandula em General Severiano ainda em 1958,
que fora tricampeão juvenil em 1961/62/63 e nesse ano ingressara no elenco
profissional e lá permaneceu até 1974, quando foi vendido para o futebol
francês, retornava a sua casa para encerrar a carreira como jogador
profissional.
Já não tinha mais a mesma velocidade que caracterizaram suas arrancadas
e os dribles rápidos, mas a maturidade do veterano que conhece os atalhos do
campo, sem precisar correr mais do que a bola.
Eliminado do icônico Campeonato Carioca de 1981, decidido por Flamengo x
Vasco em uma série de três jogos logo após a morte do treinador Cláudio
Coutinho e que precedeu a conquista do título mundial pelo time rubro-negro, o
Botafogo/RJ fez excursão pelo Rio Grande do Norte disputando três jogos.
No elenco, jovens jogadores que sempre eram lembrados nas convocações de
Telê Santana para a seleção como o goleiro Paulo Sérgio, o lateral-direito
Perivaldo e o meio-campo Rocha, além do craque Mendonça que, em 1993,
abrilhantou o campeonato potiguar jogando pelo América. Porém, o nome mais
expressivo era o de Jairzinho, “o Furacão da Copa”.
A série de jogos do “Glorioso” no RN começou com o Baraúnas, em Mossoró,
partida que terminou empatada, sem gols, no dia 1/12/1981 (terça-feira).
O segundo jogo foi no dia 3 (quinta-feira), quando enfrentou o
América que havia acabado de conquistar o tricampeonato Estadual. Essa partida
representou o encerramento da temporada de jogos em Natal, servindo também para
o Botafogo pôr a faixa de campeão no América e premiar os melhores da
temporada. O gaúcho Norival (AME), foi o melhor jogador do Estadual/1981 e
Sandoval (AME), o artilheiro com 14 gols. A partida terminou com a vitória
alvirrubra por 1 x 0, gol do centroavante Miltão.
Com a desistência do Ceará/CE em realizar o amistoso antes acertado, o
hoje deputado estadual Luiz Antônio “Tomba” Farias, que à época era o diretor de futebol
do Potyguar, assumiu a promoção e levou o amistoso para a terra da scheelita,
sendo o “Fogão” a primeira e até hoje única equipe do RJ/SP a jogar na cidade,
fazendo um jogo para ficar na história.
Assim, no dia 6, um
domingo, destinado ao futebol, enquanto o Brasil inteiro aguardava a Rede
Globo de Televisão transmitir a terceira e última partida da final do
Campeonato Carioca, vencida pelo Flamengo por 2 x 1, no famoso jogo em que o
ladrilheiro Roberto Passos Ferreira invadiu o gramado para esfriar uma possível
reação cruzmaltina, a cidade de Currais Novos parou para receber o Botafogo de
Futebol e Regatas jogar amistosamente contra o Potyguar.
Como o Estádio Coronel José Bezerra ainda não tinha refletores, a
partida foi iniciada às 15 horas para aproveitar a iluminação natural. Jogo de casa
cheia, com grande torcida do alvinegro na região, tendo a organização do evento
colocado cadeiras na lateral do campo e cobrado um valor mais alto para os que
podiam pagar e estar mais próximos dos jogadores.
“Foi um jogo importante para a gente e jogamos com mais cuidado, mesmo
sendo festa. E para mim em especial que estava diante do time que eu torço e do
meu maior ídolo, que é Jairzinho”, lembra o goleiro Souza, revelando-se
botafoguense.
E em Currais Novos ocorreu a única vitória do Botafogo na breve excursão
pelo Rio Grande do Norte. O Botafogo começou ganhando logo aos 33 segundos de
jogo, com Mendonça aproveitando um cruzamento da esquerda e empurrando para o
gol. A equipe da casa empatou aos 5 minutos, após grande jogada de Luciano
driblando Perivaldo e o goleiro Paulo Sérgio, sobrando a bola para Dedé de Dora
mandar para o gol, incendiando a torcida local. Porém, o “bigodudo” Jerson fez
2 x 1, aos 12 minutos, dando números finais ainda no primeiro tempo, embora o
jogo tenha sido muito movimentado.
Luciano, que naquele dia jogou de ponta-esquerda, foi escolhido o melhor
em campo, recebendo um cheque e um moto-rádio.
“Eu fui escolhido pela imprensa como o melhor jogador da partida. Fiquei
muito satisfeito com os presentes que ganhei. O pessoal daqui diz que eu dei
uma canseira em Perivaldo”, diz sorrindo o jogador Luciano, que junto com
Souza, Paulo, Jorge Calaça e Dedé de Dora eram os jogadores oriundos da Região
Seridó.
Porém, todos que estavam no estádio confirmam que uma falta cobrada pelo
lateral-esquerdo Dato, tipo escanteio de mangas curtas, entrou, tendo Paulo Sérgio,
à época convocado para a seleção brasileira, tirado a bola depois de ter
passado da linha de gol. O árbitro Antonio Lira, por não ver a bola entrar,
invalidou o gol.
Ao longo de sua história o Potyguar recebeu outros clubes do futebol
brasileiro em seus domínios, mas essa partida em especial tem todo um valor,
seja porque foi o primeiro dos chamados grandes e tradicionais clubes
brasileiros a jogar na cidade, seja porque terminou se transformando no jogo de
despedida de Jairzinho, “o Furacão da Copa”, como jogador de futebol envergando
a mística camisa alvinegra da estrela solitária. Pelo Botafogo foram 413 partidas e 186 gols.
Há quem diga que a história não joga, só está nos livros. Não está
certo. A história tem um peso na definição dos momentos. E coube a cidade de
Currais Novos, terra dos minérios, receber aquela que foi a derradeira partida
de uma pedra preciosa cunhada em General Severiano e que se tornou uma
verdadeira joia do futebol brasileiro e mundial.
Quase três meses depois, já sem clube, Jairzinho fez a sua última
partida pela seleção brasileira. Em 3/3/1982, contra a Tchecoslováquia,
recebeu a justa homenagem pelo que fez pelo futebol brasileiro e despediu-se
jogando 11 minutos, recebendo uma miniatura da taça Jules Rimet e saiu de campo
aplaudido de pé, no Morumbi. Não disputava uma partida pela seleção desde 1976,
no amistoso contra o Flamengo em homenagem ao atacante Geraldo, falecido poucos
dias antes.
Na foto que ilustra a postagem, as duas equipes unidas posam antes do
início da partida. Em pé: Paulo, Luiz Antonio “Tomba” Farias (diretor de
futebol), Souza, Lima, Ednaldo, Ademir Lobo, Sonildo, Gaúcho, Dato, Gilmar,
Jorge Calaça, Perivaldo, Humberto Gama (presidente da Liga Curraisnovense de Futebol)
e Iremar Alves (radialista). Agachados: Mendonça, Dedé de Dora, Gilson Lopes,
Jerson, Naldo, Rocha, Paulo Sérgio, Luciano, Edson, Almir, Jairzinho e Diá
(massagista).
FICHA TÉCNICA
Potyguar-CN 1 x 2 Botafogo/RJ
Data: 6/12/1981
Estádio Coronel José Bezerra
Público: 2 mil pessoas
Renda: Cr$ 2.000.000,00 (aproximadamente 170
salários mínimos da época).
Juiz: Antonio Lira
Gols: Mendonça (33 seg), Dedé de Dora (5 min) e
Jerson (12 min)
POTYGUAR: Souza; Paulo, Ednaldo, Sonildo e Dato;
Calaça (Gilvan), Naldo (Ramos) e Dedé de Dora; Almir (Curió), Gilson Lopes e
Luciano. Técnico: Ilson Perez (Petinha)
BOTAFOGO: Paulo Sérgio; Perivaldo, Gaúcho, Lima e
Gilmar; Rocha, Mendonça e Ademir Lobo; Edson, Jairzinho e Jerson. Técnico:
Paulinho de Almeida
Créditos de informações e imagens para criação do texto: Entrevistas com
Bob Gama e os jogadores do Potyguar: Souza e Luciano; Jornal dos Sports; Diário
de Natal; www.mundobotafogo.blogspot.com;
A foto foi gentilmente cedida por Bob Gama e Adélcio Jr.
Nota da redação: artigo original do site
"Grande Ponto" (23/7/2020) reproduzido no "Mundo Botafogo"
numa cortesia do editor Ruy Moura. A participação do falecido ponta-esquerda
esquerda no elenco do tricolor seridoense é confirmada pelo memorialista José
Ribamar Cavalcante e pelo repórter esportivo Marco Aurélio André (87 FM). Ele
somente não aparece na foto histórica, é claro, por ter entrado no decorrer do jogo.
FONTES/IMAGENS
Escrete de Ouro
Grande Ponto
História do Futebol
Mundo Botafogo