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domingo, 31 de dezembro de 2023

Termo "cangaceiro" era raridade no século XIX

Retrato falado de Lucas da Feira

Jota Valdeci

Especial

Pelo falecimento do diretor de fotografia Carlos Tourinho em Natal e participação no filme "Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro" (1972), com cenas no interior potiguar, surge a curiosidade de saber sobre o termo pelo qual ficou denominado o banditismo típico do Nordeste.

É sabido que um dos primeiros bandidos da região aparece no século XVIII (1700) com o famoso “Cabeleira”.

E por volta de 1828 com o negro Lucas Evangelista, o “Lucas da Feira” (Feira de Santana, 1807 – 1849) na Bahia.

Também algumas fontes terciárias dizem que o termo "cangaceiro" já existia na década seguinte.

Porém não é encontrada na pesquisa qualquer fonte primária que ateste a indicação da palavra do regionalismo nordestino na época.

Entre pelo menos três versões da origem a mais plausível e de que venha de canga, o equipamento de madeira usado em torno do pescoço do boi.

“O jugo ou canga ou consiste num instrumento de atrelagem, imprescindível no trabalho agrícola tradicional, utilizado para unir uma junta de bois a um carro ou a um arado.”

Pois assim os bandidos ou fora-da-lei traziam as armas de fogo, geralmente de cano longo, no ombro.

Como não existe, acredito, data precisa sobre o aparecimento do "cangaceiro", prefiro ficar com a fonte primária consultada e fidedigna.

O mais antigo jornal em circulação na América Latina (desde 1825). O "Diário de Pernambuco" indica o termo "cangaceiro" individualmente.

Aparece apenas uma vez na década 1850 (terça-feira, 15/11/1853). Quando o vapor “Imperatriz” aporta no Recife com “gazetas” do “Norte”: Pará, Maranhão e Ceará.

No “Cearense” (25/10) incidentes no município de Pereiro. Envolvendo um delegado em cumplicidade com João Cordeiro, um “cangaceiro” a quem vendera dívida de terceiro...

Ainda uma única vez em 1868: - Joaquim Sapateiro, distinto faquista e “cangaceiro” (aspas do articulista) assassinou com canivetada no umbigo um pobre homem...

Nas duas décadas seguintes nenhuma menção ao regionalismo. O que somente vem ocorrer, novamente com raridade (duas vezes), nos anos 1890 (novembro/1896).

E dois anos depois usado pelo jornal “A Província” como termo pejorativo contra um “coronel” no município de Salgueiro.

Somente na primeira década do século XX (1900) o “cangaceiro” toma corpo no “Diário”, sendo impresso, preto no branco, 95 vezes!

Daí em diante é outra história...

 

FONTES

A Província

Diário de Pernambuco

Museus Pontes de Lima/Porto

Cascudo, Luís da Câmara Cascudo – "Flor dos Romances Trágicos" (1982)

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