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segunda-feira, 14 de julho de 2025

O esquecido goleiro do Alecrim com apelido curioso (II)

O sergipano Cocorote: CRB

ARTIGO

Warner Oliveira (10/10/2010) *

“Álbum de Futebol: Cocorote”

 

Aos 36 anos de idade Cocorote ainda tinha inscrição pelo Ferroviário para disputar o campeonato alagoano. Apesar de veterano achava que poderia oferecer muito ao clube. Dizem que quanto mais velho o goleiro se destaca mais. A experiência vivida em baixo dos três paus da baliza dá ao arqueiro tudo aquilo que ele gostaria de ter quando jovem.

Jogando num time modesto Cocorote ficou um pouco esquecido pela imprensa que somente observava as grandes defesas dos goleiros das principais equipes da cidade. Mesmo assim ele ia seguindo na vida e fazendo suas defesas até quando Deus quis.

Cocorote teve uma vida de um verdadeiro cigano. Nasceu em Sergipe, mas começou no juvenil do América de Recife. Ainda como amador foi jogar no Siqueira Campos da II Divisão de Aracajú. Seu primeiro contrato de profissional foi com o Confiança e logo se tornou bi campeão sergipano.

Depois passou pelo Ipiranga (Salvador), voltou ao Confiança e jogou ainda pelo Contiguiba, Olímpico (Sergipe). CRB, ASA (Alagoas), Alecrim (Natal) e Ferroviário (Maceió). Foram muitos clubes, muitas emoções e também algumas decepções.

A maior delas foi a saída do CRB. Ele estava bem, mas as fofocas infernizaram sua vida no clube. Ele lutou contra tudo e contra todos. Tentaram lhe desmoralizar, mas tudo saiu bem, e ficou apenas a grande mágoa.

Um goleiro nunca sabe o que encontrar pela frente. Por isso, muitas vezes, as glórias, as alegrias nem sempre são compensadoras. A amargura e o desconsolo, muitas vezes, fazem o arqueiro se tornar um vilão.

Num clássico CSA e CRB no Mutange Cocorote vinha sendo a maior figura do jogo. Tomou um frango e se tornou um jogador detestado pela torcida. Um chute de Giraldo e Cocorote não podia falhar. Ninguém estava por perto. Só ele a bola.

Agachou-se para agarra-la, e em vez de garras implacáveis, a bola encontrou mãos de seda, frágeis, nervosas. A bola escorregou por entre as pernas e tomou, lentamente, o caminho das redes. Foi realmente um frango daquele tamanho.

Cocorote não se abateu, não se envergonhou. O frango faz parte da vida de todos os goleiros, e ele não poderia ser uma exceção. Também viveu grandes momentos. Entre eles formou na seleção alagoana e enfrentou o Santos na inauguração do Estádio do Trapichão.

Cocorote foi funcionário da Rede Ferroviária e levava a vida para oferecer a sua família o conforto que ela merece. Não ia aos estádios para assistir jogos de futebol. Somente ia ao campo quando é para jogar e defender o Ferroviário.

 

*No jornalismo desde 1979. Começa como “rádio escuta” e secretariando programas na Rádio Gazeta de Alagoas, ainda na Rua do Comércio.

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