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quinta-feira, 8 de abril de 2021

O primeiro cronista esportivo natalense

Salomão Filgueira participa da fundação do centenário Jornal do Commercio do Recife

José Vanilson Julião

Francisco P. de Queiroz
L
eio no blog do mossoroense Carlos Santos que o centenário diário Jornal do Commercio, fundado pelo advogado, jornalista, diplomata, empresário e político paraibano Francisco Pessoa de Queiroz (Umbuzeiro, 7/11/1890 – Recife, 7/9/1980), deixa de circular na versão impressa por 15 dias devido à pandemia. E agora mantém a edição eletrônica. Em dezembro do ano passado o JC já havia demitido pelo menos uma dezena de profissionais.

O que tem a ver o Rio Grande do Norte com a tradicional mídia de papel da capital pernambucana? Simples: o surgimento da publicação patrocinada por F. Pessoa de Queiroz teve a importante participação do jornalista papa-jerimum Salomão Augusto de Vasconcellos Filgueiras, tido como o primeiro cronista esportivo da capital potiguar, sendo o responsável pelas primeiras notas e reportagens sobre futebol entre 1910/15.

O personagem hoje é praticamente desconhecido na terrinha e poucos dados dele são encontrados na internet. Mas a pesquisa alcança informações importantes e interessantes. Salomão Filgueiras freqüenta o banco escolar do tradicional ginásio Atheneu, fundado antes do famoso Colégio Pedro II na capital da República. Em novembro/dezembro (1903) recebe distinção pelo estudo do Latim.

Seis anos depois ele, parente do desembargador João Dionísio Filgueiras (mossoroense e nome de rua no bairro de Petrópolis) é bacharelando da Faculdade de Direito do Recife. Na Photografia Oliveira, na Rua da Imperatriz, inaugura-se, sem solenidade, o quadro dos 23 laureados. Para a colação de grau é escolhido o catedrático Joaquim Guedes Correia Gondim Filho.

Está em boa companhia: Mário Rego, Santos Ferraz, Gastão Silveira, José Lopes, João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna, João Gondim, Augusto Galvão, Gilberto de Lima Azevedo Souza Ferreira Amado, Arlindo Gurgel, Theodoro Palmeira, Severino Procópio, Mário Ramalho, Severino Pimentel, Thomaz Vasconcellos, Júlio Lyra, João Agripino Maia, Chateaubriand Barretto (paraibano de Catolé do Rocha e falecido desembargador), Ignácio Uchoa, Luiz Oiticica, Eurico Ayres, João Camello e Álvaro de Barros.

Na relação futuros políticos – presidente de província ou governador de estado – casos dos paraibanos Suassuna (pai do escritor Ariano), e Agripino (primo do governador Tarcísio e tio dos governadores José e Lavoisier), profissionais da imprensa e até um escritor, o sergipano Amado.

O iniciante coletor federal, que trocou o comodismo da sinecura, para seguir carreira na imprensa, habilidade forjada na juventude no jornal fundado pelo líder republicano e primeiro governador pós a proclamação Pedro Velho de Albuquerque Maranhão (Macaíba, 1856 – Recife, 1907).

Ele escreve para o jornal a inauguração da estação ferroviária do distrito de Baixa Verde (município de Taipu). O trem partira ás 7h30 de Natal com o governador Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão (Macaíba, 2/10/1872 – Angra dos Reis/RJ, 1/2/1944) e os engenheiros Costa Júnior e Décio Fonseca (nome de rua na Ribeira). No final da tarde retorna o comboio com convidados.

Era um repórter nato, Pau pra toda obra. Prova é que continua noticiando o futebol. Como em 14/9/1911. Sobre o provável surgimento de outras agremiações, o que já havia noticiado no ano anterior, entre maio/junho, com o alvirrubro Natal Football Club e o Potyguar Football Club (de camisa cinza), responsáveis por aquele que pode ser considerado o primeiro arremedo de clássico local.

Inclusive participa da criação da agremiação da camisa com listras horizontais (monograma NFC no bolso superior), na quarta-feira (18/5/1910), na residência do futuro deputado federal Alberto Roselli (personagem principal de próximo artigo), que se torna o “capitão”. São escolhidos o secretário e também atletas Salomão Filgueira e o tesoureiro Nizário Gurgel Pinheiro.

Em já 1917 se encontrava no Recife, casa com uma irmã de F. Queiroz, Alba, e no ano seguinte nasce à filha Maria Luíza (24/5). Nove anos após participa da fundação do diário matutino “Jornal do Commercio”, o embrião do grupo midiático hoje controlador de emissoras de rádio e televisão. Por isso militou na imprensa pernambucana com o pseudônimo “Jota Parnamirim’.

Nos anos 20 é cicerone do escritor paulista Mário de Andrade (1893 – 1945) na capital pernambucana e representante potiguar no Congresso Regionalista (braço nordestino do Movimento Modernista deflagrado na capital paulista em 1922), na segunda semana de fevereiro (1926) em Recife, capitaneado pelo escritor sociólogo Gilberto de Mello Freire (1900 – 1987).

Rompe a Revolução Liberal (1930). Não está no jornal, porém, o gerente e controlador do caixa é o antigo rádio-telegrafista pernambucano Alexandre Kruse, um ex-militar da Marinha, tido como o treinador que deu ao Alecrim o bi-campeonato (24/25) atribuído pelos esmeraldinos e não reconhecido oficialmente pela Federação.

Partira para o então Distrito Federal. Ingressa no Departamento Nacional de Informações. Em 1936 requer título eleitoral. 1945: assiste o casamento do filho, o industrial Luiz Mario, registrado na coluna “Mundana” (A NOITE, sábado, 8/12), cujo titular, não identificado, é confrade no DNI, antecessor do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo (1937/45) durante a Era Vargas. Três anos depois, após duas décadas, visita a terra natal.

O jornal diário vespertino católico A ORDEM (quarta-feira, 10/3/1948) aponta em nota. DESPORTOS (página três). SOCIAIS – Chegaram neste domingo, acompanhado da esposa – o aniversário dela é citado na “crônica social” (DIÁRIO DE NATAL, quarta-feira, 12/1) – e da sobrinha Aurian. Hóspede do advogado Paulo Pinheiro de Viveiros, retorna no domingo.

A fundação do JC (3/4/l919) ocorre ao lado de Odilon Nestor (redator-chefe) e dos cunhados industriais e usineiros de cana-de-açúcar José, João e Francisco. O JC Apóia à candidatura a presidência de Epitácio Pessoa sob o comando do sobrinho e senador F. Queiroz, a partir de l921 até a década de 60. Em crise na década de 80 o empresário sergipano João Carlos Paes Mendonça (grupo de supermercados Bompreço) adquiriu o JC.

 

FONTES

Livros

Boletim do Tribunal Superior Eleitoral (26/3/1936)

História da Imprensa de Pernambuco – Luiz Nascimento (Editora Universitária – 1967)

Jornais

A Noite

A Ordem

A Província

A República

Correio da Manhã

Diário de Natal

Blogs

Crônicas Taipuenses (João Batista dos Santos)

Instituto Ludovicus

Mediocridade Plural (Laélio Ferreira de Melo)


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