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quarta-feira, 21 de abril de 2021

O major da FAB no comando americano

 

Salgueiro é o último em pé no Calouros do Ar campão cearense de 1955

Paulo Salgueiro foi campeão cearense pelo Calouros do Ar. Tricolor desiste da Série C local

José Vanilson Julião

Depois de ser campeão cearense o major da Força Aérea Brasileira (FAB) no segundo semestre de 1958 se encontra no Rio Grande do Norte transferido para Parnamirim. A estadia coincide com a saída de Álvaro Barbosa, campeão potiguar no ano anterior com o alvirrubro, que alcançara o bi iniciado com o Orlando Braga (1956).

O gaúcho de Pelotas Álvaro Barbosa havia perdido de 0 x 3 para o ABC (domingo, 12/10/1958). Na segunda-feira Paulo Salgueiro aceita convite do presidente Heriberto Bezerra e no domingo, 19, assume com vitória sobre o Alecrim (4 x 1). Ele treina o elenco pela última vez contra o Riachuelo (4 x 4 – quarta-feira, 26) após ser transferido para o Rio de Janeiro.

Quando assume o sargento da Aeronáutica, Moacir Ribeiro da Silva, que permanece no cargo até dezembro do ano seguinte, ocasião em sai também na mesma situação do comandante anterior, assumindo o zagueiro Herwin de Souza Hackradt. Salgueiro comanda o elenco por seis jogos, cinco oficiais e um amistoso, com saldo de uma vitória, três empates – um deles contra o Treze (Campina Grande) – e duas derrotas.

O diário vespertino O Poti (terça-feira, 14/10/58) noticia a confirmação do convite, feito na semana anterior. O posto de diretor técnico, desde a gestão de Rui Barreto, era do desportista Joaquim Guilherme, transferido para o departamento social, como pedira por falta de tempo para exercer a função anterior. Salgueiro assume ás vésperas do começo do quadrangular final do returno do Estadual, que conta, ainda, com ABC, Alecrim e Riachuelo.

Reportagem inédita publicada o ano passado pelo jornal mensal CORREIO POTIGUAR – controlado pelo radialista e repórter fotográfico Graciano Luz – Paulo Salgueiro indica participação dele na diretoria do América carioca como superintendente (anos 70).

ANTECEDENTES

A primeira notícia que se tem do focado é pelo diário carioca Correio da Manhã (sexta-feira, 11/8/44) com a relação dos 100 aspirantes a oficial aviador diplomados na manhã seguinte. A solenidade no Rio conta com grupo de uruguaios que fizeram o mesmo curso preparatório.

Em 1952 o capitão presta serviço no campo dos Afonsos. Passa a major, tenente-coronel (anos 60) e chega à reserva como brigadeiro do ar (posto máximo) em 2005. Coincidentemente no ano em que presta serviço no Rio é fundado o Calouros (1/1).

Era América, outra coincidência, com o homônimo potiguar. Muda o nome para homenagear o conjunto musical da Base e os aspirantes que chegavam à cidade. No ano seguinte está na divisão principal, vindo, por uma dessas anomalias do futebol, da terceira divisão.

O comando da corporação apoia o clube. A torcida formada pelo efetivo. Os jogadores quase todos militares. O uniforme lembra o do Fluminense: A diferença é a cor vinho em lugar do vermelho. O “Tremendão da Aerolândia” mandava os jogos no “Brigadeiro-Médico José da Silva Porto”, estádio da Base, e possuía secretaria, lavanderia, vestiários e capacidade para três mil expectadores. Hoje é de uso exclusivo de militares.

O primeiro jogo profissional ocorre em 10/5/53 (Gentilândia 1 X 1). Em 1954 participa festa dos 40 anos do Ceará, organizada pelo diretor alvinegro, Ivonisio Mosca de Carvalho. O Glorioso treinado por Gentil Cardoso joga duas vezes. No sábado, 12/6, no Presidente Vargas, Calouros 1 x 0. O mossoroense Orlando Ciarlini (parente da ex-prefeita, ex-governadora e ex-senadora Rosalba Ciarlini Rosado), marca 40/2.

O goleiro ganha uma garrafa de uísque e depois prefere seguir a profissão de armador. Aposentado dedica parte do tempo ao Iate Clube (Praia do Mucuripe), que dirigiu por muitos anos até virar sócio benemérito. Inclusive a sede social leva o nome de “Comodoro Francisco Martins de Lima”.

Calouros: Chico, Pedrinho, Azevedo, Jandir, Helder (Zanata), Índio, Luciano, Zezinho, Beto (Orlando Ciarlini), Nelsinho e Zuzinha. Botafogo: Pianoswisky, Gerson, Floriano, Arati, Bob, Juvenal, Garrincha, Dino, Carlyle, Paulinho e Vinícius. Juiz: José Tosta. Dia seguinte Botafogo 2 x 0 Ceará.

1955: O Ferroviário ganhou o primeiro turno invicto. O Calouros vence o returno. Na decisão vence a primeira, perde a segunda e em 11/3/56 repete o placar da partida inaugural (Zezinho e Zuzinha). Elenco: Jairo, Pedrinho, Coité, Luciano, Jandir, Jesus, Edilson Araújo, Zezinho, Beto, Hélder e Zuzinha. No início da temporada vence o Torneio Preparatório e o Torneio Início.

O segredo da equipe (entre 18 e 24 anos) era a homogeneidade. Foram utilizados 13 jogadores, mantendo quase sempre a mesma formação: Jairo (goleiro), 23 anos; Pedrinho (zagueiro), 22 anos; Coité (zagueiro), 21 anos; Luciano (médio), 22 anos; Jandir (médio), 23 anos; Jesus (médio), 24 anos; Edílson (ponta-direita), 18 anos; Zezinho (meia), 22 anos; Beto (atacante), 23 anos; Helder (meia), 21 anos; Zuza (ponta-esquerda), 28 anos; Azevedo (zagueiro), 25 anos e Vandir (avante), 20 anos.

Apenas dois não eram cearenses: o gaúcho Jesus e o potiguar Jairo. Em 1956 o principal feito: goleada (6 x 1) sobre o Remo. Foi terceiro colocado no Cearense: 1953, 1956, 1960 e 1968. Em 1960 o atacante mossoroense Juarez Canuto foi artilheiro cearense: 14. Em 1968 Célio: nove.

1998: rebaixado para a Segunda Divisão, ficando na antepenúltima posição do grupo, sem nenhum ponto, após 44 anos. Na Segundona não obteve êxito de voltar, tendo chegado perto em 1999 e 2003, quando foi terceiro colocado. Em 2004 na Segunda Divisão foi rebaixado.

2005: desligamento da Base Aérea acelerou a débâcle.  Um ano antes havia caído para a Terceira Divisão. Em 2009 após eliminação se licencia e fica suspenso por suspeita de manipulação de resultado na derrota o Tauá (8 x 0). Em 2010 não participou de nenhuma competição. Retomou as atividades em 2011.

Disputou o Torneio Norte-Nordeste (68) e a 2ª Divisão brasileira (71/72) sem passar da primeira fase. Nesses dois anos teve a presença de Gildo, maior artilheiro do Ceará. Tem dois torcedores “de coração”. Eliseu Alves Feitosa, 72, massagista e roupeiro (1965 a 2009). E guarda até hoje a camisa do time. E o militar reformado Wambar Menescal: guarda fotos, camisas, documentos raros e o troféu do Cearense. Até a partitura do hino e as letras do primeiro e segundo hino.

 

CAMPANHA (1955)

1 X 1 Ceará

0 X 0 Ferroviário

1 X 2 América

1 X 1 Nacional

2 x 2 Fortaleza

1 X 0 Usina Ceará

4 X 0 Gentilândia

4 X 2 Ceará

3 X 0 Fortaleza

2 X 2 Ferroviário

3 X 2 América

0 X 1 Usina Ceará

2 X 0 Ferroviário

0 X 3 Ferroviário

2 X 0 Ferroviário

 

FONTES

Diário de Natal

Tribuna do Norte

Blog do Zé Duarte

Memória do Futebol Cearense

 

 

 

 

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