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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

O xará potiguar do River Plate da Argentina (II)

Com este elenco, com algumas modificações, entre os anos 30/40, o RVAC foi a famosa "La Maquina"

Armandinho e o River Plate

Luiz G. M. Bezerra*

O memorialista Luiz GM Bezerra

No passado distante inúmeros clubes desportivos amadores de futebol nasceram em Natal, porém, muitos, tiveram vida efêmera.

Tudo girava em torno de uma bola de couro costurada, com câmara de ar/pito, que eram trazidas de Londres (Inglaterra), a príncipio (setembro/1903), em malas dos filhos de Fabrício Gomes Pedrosa – Fernando, Fabrício, Raul e Ramiro, que ali estudavam, e depois por outros jovens potiguares que também estudavam no exterior. Furou a bola, acabou o clube.

Eram rapazes de Natal, cheios de ardor, que se uniam imbuídos por um ideal comum e fundavam o clube de futebol de sua cidade, de seu barro, de sua rua, do seu colégio, por seu partido político, por patriotismo, enfim, pela afeição ao seu ídolo do cinema, como foi o caso do Valentino Futebol clube (na década de 30), lembrando Rodolfo Valentino, aquele grande astro do cinema americano, símbolo do machismo da época.

Foram estes os jovens estudantes, comerciantes, bancários e funcionários públicos, dentre outros pioneiros que fundaram em Natal os primeiros clubes de futebol: os familiares de Fabrício Pedrosa Filho que convocavam pela imprensa "distintos moços de nossa sociedade" para um bate-bola do Sport Club Natalense/1903; Alberto Roseli, Jayme Guimarães Wanderley, Júlio Meira e Sá, Silvino Dantas (O Natal, o I), Álvaro China, Oswaldo Leite e Paulo de Castro (o Potiguar), Cincinato Chaves e Áureo Paiva (o PRC - Partido Republicano Conservador), Ponciano Barbosa, José Tavares da Silva e Café Filho (o Morte Esporte Clube, do velho Atheneu), Waldemar de Almeida e Heráclio Fernandes, o Tolaco (o Team Negro), Lauro Freire (o Curupaythy), Gil Soares de Araújo, Adamastor Pinto, Djalma e Milton Marinho (o Valentino), Paulo Barros de Góis, Lourival Barros e Arquibaldo Oliveira (o Natal, II).

Outros clubes alternativos, bem mais modestos, sem estatutos, sem uma organização maior e tinham como finalidade promover jogos amistosos de confraternização na capital e interior do Estado, e o principal, no final da excursão, a delegação, após o futebol, participar do baile, à noite, na residência do prefeito municipal, que era uma norma geral.

Tivemos ainda clubes modestíssimos que, quando sua bola estourava, recorriam à antiga matança de Natal, imediações da Força e Luz, no Baldo, para aquisição de uma bexiga de boi, precaríssima.

Dentro deste panorama histórico, porém, bem mais modernizado, foi o surgimento em Natal, no primeiro semestre/40, do River Plate Futebol Clube, associação de futebol de jovens estudantes, comandados por Alberto Moura, "o dono do time" e fundador em sua residência, que, inflamados de paixão e desportividade, resolveram fundar aquela simpática agremiação, lembrando o grande campeão de futebol da argentina, que possuía uma equipe quase imbatível e constituída de atletas realmente famosos - Moreno, Peucelle, Sastre, Perdenera, Garcia, Alarcón, Labruna, Salomon, Valussi, Leguizamon, dentre outros dos seus fantásticos jogadores de futebol.

O novel clube tinha que possuir alguma semelhança nas vestimentas, os atletas procuravam "lembrar" aqueles jogadores do país irmão, e o que era ainda mais notável, "tentavam" imitar em campo o estilo de cada atleta argentino - a ginga em cada jogada, a malícia, a finta, como era o caso do grande remador do glorioso Centro Náutico Potengi, o filósofo e "excelente" ponteiros dos nossos clubes alternativos, principalmente do River Plate, o saudoso Armandinho de Góis, figura estimada por todos, que nos dizia com frequência:

- "Naquele jogo contra o Carneirinho de Ouro, no campo do Aero Clube/RN, em Tirol, recebi a pelota lá de trás, enviada por Waldemar Araújo pela ponta-direita, matei no bico da chuteira com categoria, deixei a bola deslizar pelo gramado, em em "driblings" curtos, passei pelo primeiro adversário, pelo segundo, e disparei até a linha de fundo, e aí surgiu o "Y", com classe admirável, dei um centro de meia virada, suave e na conta, o suficiente para o Alberto Moura marcar o gol, que seria o da vitória. Depois daquele lance sensacional, fui à loucura, eufórico, retornei ao centro do gramado, sob aplauso daquela "meia dúzia de doidos" que ali estavam, momento em que relembrei o genial ponta-direita do River Plate, Peucelle, o meu grande ídolo."

 

*O POTIGUAR (Número 24 – Junho/Julho-2001)

 

NOTA DO REDATOR: o exemplar original encontra-se no Laboratório de Imagens (LABIM) da UFRN.


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