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sábado, 22 de junho de 2024

O zagueiro que saiu do ABC para o Madureira (XI)

José Porfírio da Paz

JOSÉ VANILSON JULIÃO

O ABC Futebol Clube entra em 1943 (domingo 10/1) com um “festival” esportivo com jogos envolvendo atletas do elenco.

No primeiro os residentes nos bairros “alto” (Cidade Alta) 3 x 0 “baixo” (Ribeira). O principal com “cracks” civis 3 x 0 “players” militares.

Marcaram no principal Demóstenes César da Silva (ex-americano do Botafogo e liga pirata colombiana), “Asdirante” (desculpem a falha tipográfica) e Leiros.

Ainda no domingo (30) promove mais um evento esportivo interno com um jogo entre a “prata da casa” x “valores de fora”.

Será cobrado o preço único de Cr$ 1,00 para as atrações no Estádio Juvenal Lamartine. Na preliminar repete-se os times dos bairros.

O pessoal potiguar: Edgar, Gageiro, Nezinho, Zé Lins, Ernani, Acácio, Valdemar, Taperoá, Demóstenes e Tico. Os forasteiros: Salim, Aécio, Siri, Reinaldo, Souza, Joãozinho, Enéas, Ruas, Badof, Moacir e Harri.

Dois dias depois o presidente da Federação (José Porfírio da Paz), o promovido de tenente a capitão durante a transferência de São Paulo para Natal em maio do ano anterior, baixa o ato que descarta totalmente o campeonato estadual de 1942.

 

FONTES/IMAGEM

A Ordem

Diário de Natal

Blog Pilotos de Guarujá

Instituto Memória Musical Brasileira

Medium

SPFCPedia

Terceiro Tempo

sexta-feira, 21 de junho de 2024

O zagueiro que saiu do ABC para o Madureira (X)

De farda o tenente José Porfírio da Paz

O presidente da Federação, José Porfírio da Paz, um dos fundadores do São Paulo, põe ordem na casa

JOSÉ VANILSON JULIÃO

Ás vésperas de tomar a primeira e mais importante decisão administrativa da gestão o presidente da Federação de Futebol, o capitão José Porfírio da Paz, comemora aniversário (24/1) com amigos no "Bar Nacional".

Enquanto na capital paulista a Rádio Difusora transmite um programa especial dedicado ao sócio-fundador e compositor da letra do hino do São Paulo Futebol Clube. Noticia "A Ordem" (dia 26), após outra visita do aniversariante, nas "Sociais".

O campeonato estadual é interrompido (2/8/1942) a partir de uma série de decisões administrativas (atos númerados de 10 a 15 e 17) do presidente anterior, Gentil Ferreira de Souza.

Diante da posição coletiva do Potiguar (do então distrito de Parnamirim), América, Santa Cruz e Alecrim, é determinado o não prosseguimento dos jogos com o sub-secretário da CBF, Manoel Furtado de Oliveira, deixando a filiada a vontade.

Até pelo fato de que os realizados na temporada anterior haviam sido anulados e ou cancelados. O Ato 23 (12/2) é publicado na íntegra na edição 2.192 do jornal "A Ordem" quatro dias depois.

Enquanto o diário católico emite nota sobre o aniversário da esposa Ana o próximo passo é a divulgação da tabela do torneio início (domingo, 18) com os árbitros: Hermes Marques de Amorim, João Acioli da Silva e João Teixeira de Carvalho.

Na ocasião as inaugurações das melhorias no Estádio Juvenal Lamartine com as presenças do bispo dom Marcolino Dantas, Aldo Fernandes (interventor federal interino), prefeito Mário Eugenio Lira e Edilson Cid Varela (diretor do Departamento Estatual de Imprensa e Propaganda).

Já com dois meses e dias do campeonato estadual em andamento o jornal ligado a Igreja Católica noticia a transferência de Porfírio da Paz para São Paulo (sábado, 31 de julho).

Mas ainda tem tempo do casal Porfírio/Ana da Paz, ser homenageado na Escola de Comércio (quarta-feira, 4/8). Com falas de Agueda Toscano (professora), do diretor de "A ordem" Otto de Brito Guerra e do desembargador João Maria Furtado.

Tudo organizado pela senhora Letícia Garcia, professor Ulisses de Gois (diretor do jornal e da escola comercial), José Herônico, Rui Paiva e Humberto Nesi, dirigentes americanos.

Registradas as presenças do desembargador João Dionísio Filgueira (interventor interino), general Cordeiro de Farias, Antonio Soares (presidente do Tribunal de Apelação) e do prefeito José Augusto Varela.

Visita pela terceira vez a redação do jornal católico e finalmente parte para a capital paulista no domingo, 16 de agosto.

 

FONTES

A Ordem

Marcos Avelino Trindade

quinta-feira, 20 de junho de 2024

O zagueiro que saiu do ABC para o Madureira (IX)

Porfírio da Paz, em idade avançada

Enquanto a bola não rola o presidente eleito da Federação faz política e consegue beneficiamentos

JOSÉ VANILSON JULIÃO

O resto do ano o capitão José Porfírio da Paz (Araxá, 24/1/1903 – São Paulo, 27/11/1983) continua participando de atividades inerentes como militar, em solenidades religiosas e até é eleito para um cargo mais honorífico na direção do alvinegro Centro Náutico Potengi (CNP), o rival do remo do rubro-negro Sport Club Natal (SCN).

No futebol ao que parece, com a condução dele para presidente da instituição esportiva, os bons ventos sopram para as bandas da FND. Pois entra 1943 com uma subvenção auxiliar (cinco mil cruzeiros) do governo estadual destinados a melhorias no Estádio Juvenal Lamartine.

Na realidade a posse – não sei por qual cargas de água foi noticiada antes pela imprensa até com a presença de personalidades do esporte – acontece na quarta-feira (13 de janeiro) na sede da Cruz Vermelha, na Avenida Rio Branco, no bairro da Cidade Alta (Centro), prédio localizado vizinho ao cinema Rex (sentido Ribeira).

Rafael Fernandes

A solenidade foi conduzida pelo presidente do Conselho Regional de Desportos (CRD), José Gurgel do Amaral Valente, quando discursam o dirigente do ABC, Vicente Farache Neto, e o conduzido. São efetivados Paulo Barros de Góis (secretário) e Epitácio Fernandes de Oliveira (tesoureiro) e como diretor técnico Aparício Martins Cavalheiro.

Dia seguinte Porfírio e companheiros de diretoria visitam o interventor federal no Estado (1937/43), o médico Rafael Fernandes Gurjão (Pau dos Ferros/RN, 1891 – Rio de Janeiro, 1952) – assessorado pelo secretário-geral Aldo Fernandes Raposo de Melo.

Na mesma notícia sobre a cordialidade o jornal católico informa que o prefeito Mário Eugenio Lira (Macaíba, 1892 – Natal, 1965) promete melhorias no gramado, na arquibancada e calçar a paralelepípedo a área do portão de entrada.

O zagueiro que saiu do ABC para o Madureira (VIII)

O mineiro Porfírio da Paz: torcedor tricolor

Oficial do Exército autor do hino do São Paulo é eleito presidente da Federação de Futebol

JOSÉ VANILSON JULIÃO

A temporada de 1942 havia sido tumultuada, com o campeonato estadual sendo interrompido em agosto por divergências administrativas e de organização entre os clubes – e não por causa direta ou indireta da II Guerra Mundial como muitos atribuem erroneamente – e a atividade do futebol para o ano seguinte ainda é uma incógnita.

A chegada no primeiro semestre de 1943 na capital potiguar dos irmãos militares do Exército, o ainda atacante Hermínio (o que foi para “Tricolor Suburbano” carioca) e o terceiro sargento Hamilton Alves do Amaral, coincide com outra estadia temporária em Natal de outro peça importante no tabuleiro do xadrez, mas para a área administrativa.

No ano anterior o diário vespertino católico “A Ordem” (segunda-feira, 10/8/1942) veicula pequena nota sobre visita redacional pelo oficial do Exército, um mineiro com serviços prestados na capital paulista, autor da música do São Paulo Futebol Clube, o “Tricolor Bandeirante”, com as cores da Bandeira do Estado (vermelho, preto e branco).

Assim diz: - Este jornal foi honrado, sábado, com a visita do capitão Porfírio da Paz. Elemento de relevo nos meios católicos de São Paulo. Primo-irmão do arcebispo daquela metrópole, dom José Gaspar Fonseca e Silva. Este ilustre militar era um dos promotores das páscoas coletivas dos esportistas bandeirantes, em cujo seio goza de grande estima.

Lotado no Hospital de Guarnição Militar, Porfírio da Paz participa de atividades esportivas e religiosas em Natal e em 5 de setembro é um dos eleitos para uma das duas comissões (Executiva e Consultiva) da Liga de Defesa Passiva, promoção de “O Diário”, ao lado de personalidades como o jornalista Djalma Maranhão e Edilson Cid Varela.

Até está numa caravana que vai apoiar o selecionado potiguar (delegação presidida pelo professor Sílvio Tavares, secretariada pelo senhor Washington Ferreira e com o diretor-técnico Humberto Nesi) contra os paraibanos, em João Pessoa (11/10), pelo Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.

Ainda em outubro (segunda-feira, 19) é eleito (por maioria de votos) presidente da FND com posse ás 20 horas da quarta-feira (28) na sede do Sindicato dos Empregados no Comércio. Como vice o capitão Artur Carlos Tricta, secretário Paulo Barros de Góis, tesoureiro Epitácio Fernandes e diretor de esportes aspirante Aluízio.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

O zagueiro que saiu do ABC para o Madureira (VII)


Do saguão do "Carneirinho de Ouro", da época do aniversário do atleta abecedista, só mudou mesmo a galeria dos presidentes na sede do primeiro andar na esquina da Doutor Barata/Tavares de Lira

JOSÉ VANILSON JULIÃO

Após ser homenageado pelos diretores e receber “custosa lembrança” o “craque da intermediária abecedista”, o terceiro sargento do Exército Hamilton Alves do Amaral (irmão de Hermínio) chega ao “Carneirinho de Ouro” levado pelos “consócios”, provavelmente alguns dos convocados para o selecionado potiguar:

O goleiro Zé Silva (José Eleutério R. Silva), os zagueiros João Bezerra de Lira (Joãozinho), João Batista de Souza (“Gageiro”), o médio Hermínio Alves do Amaral, o depois médico mossoroense José Leão Arset de Moura e os atacantes João Martins, Albano Pereira, Francisco Canindé da Silva (“Tico”) e Manoel de Carvalho.

O salão se diferencia dos tempos antigos apenas pela galeria de fotos do ex-presidentes, entre eles o primeiro, o juiz na comarca de Baixa Verde (atual município de João Câmara), João de Brito Dantas, citado no artigo do escritor Luís da Câmara Cascudo.

As versões de Cascudinho foram corroboradas pelos falecidos jornalista José Mussoline Fernandes e memorialista Luiz Gonçalves Meira Bezerra, o “GM”, citados pelo cronista Eduardo Alexandre Garcia, o “Dunga”, em artigo para um site cultural (25/5/2018).

Ao completar 76 anos (2012) o Carneirinho de Ouro não tem muito o que comemorar .

“Estive lá para fazer o registro de uma possível confraternização e deparei apenas com meia dúzia de frequentadores”, diz o repórter-fotográfico Canindé Soares.

Entre eles o folclorista Gutemberg Costa e Pedro Alcântara Machado (“Pedrão”) responsável pelo restaurante/bar, e sempre lembrado por um dos frequentadores dos anos 70/80, o jornalista e designer gráfico Moacir Oliveira (da época boemia da redação da "Tribuna do Norte").

Com uma taxa de contribuição mensal de apenas R$ 5,00 e Ivandir Araújo de Lima (“Caixão”) na presidência vive um dos piores momentos e apenas dez sócios.

“Lamentável a falta de preocupação e descaso com as instituições antigas”, disse Costa, aniversariante do dia e foi ao clube comemorar.

Em junho de 2023 já havia sido finalizado pelo cineasta potiguar Paulo Dumaresq o filme de curta-metragem “CARNEIRINHO DE OURO - ODE À BOÊMIA NATALENSE”.

O zagueiro que saiu do ABC para o Madureira (VI)

O "Carneirinho" na esquina do número 54 da Avenida Tavares de Lira evoca saudade/Foto: Roberto Vital

O "Clube do Bolinha" é alvo da coluna "Actas Diurnas" do escritor potiguar Luís da Câmara
Cascudo no “Diário de Natal” (quarta-feira, 9/4/1952).

“Carneirinho de Ouro”

Câmara Cascudo: sempre solícito

- Jorge Calafange e o poeta Antídio Azevedo levam-me ao Carneirinho de Ouro. Subo, na Tavares de Lira, uma escadinha asfixiante e curva e entro num salão amplo, arejado, acolhedor, lavado pela viração que o janelório canaliza. Bilhares de snooker, mesas de dominó, "garçons" zelosos e risonhos dão as boas vindas. A cerveja gelada enevoa os copos. Os frios são deliciosos. As janelas trazem o ar da tarde, numa luminosidade tamisada e doce que anuncia a paz melancólica da noite próxima.

Fico assistindo os duelos de snooker e as vozes dos jogadores de dominó. É um ambiente tranquilo, bem educado, sereno, de cordialidade, de bom humor feliz.

O senhor José Augusto de Freitas vem sentar-se e contar-me a história do "CARNEIRINHO DE OURO". É uma história rápida e simples, mas digna para os fastos associativos da cidade. Uma associação que possui quinhentos sócios e não dívidas. Nem barulhos. Nem divisões. Nem querelas.

Foi fundado em 8 de agosto de 1936. Mas o nascimento é de 1932, entre os amigos do senhor José Augusto de Freitas, que tinha uma pequenina tabacaria na entrada do prédio 54 da Tavares de Lira. Reuniam-se para conversa e todas as tardes um deles pagava o café. Nasceu a ideia, Havia um presidente semanal. João de Almeida Barbalho deu o nome CARNEIRINHO DE OURO, lembrando sociedade idêntica existente no Recife.

Instalada o CARNEIRINHO DE OURO todas as suas iniciativas são destinadas, em ampla percentagem, ao auxílio do próximo. Tem ajudado muita viúva, muito doente, muito desesperado. Os sócios pagam dois cruzeiros por mês. Snooker, gamão, xadrez, dominó, damas, esperam os devotos. Há plano regular de benefício, auxílio funeral, seguro de acidente para os sócios. A primeira apólice paga foi pela morte de Omar Romero de Medeiros. Tem depósitos e não tem subvenção.

Foram seus presidentes João de Brito Dantas, Norberto Silva, Mario Barbosa, Abelardo Calafange (duas vezes), Júlio César de Andrade, José de Oliveira Costa, Alberto Pereira Campos e o atual, Antônio Pereira de Macedo. O senhor José Augusto Freitas é o tesoureiro e o irmão-vigilante, mantendo o ritmo afetuoso.

Este é o CARNEIRINHO DE OURO cuja lã, como o velocino clássico, espalha ao redor os benefícios da caridade e as alegrias do convívio amistoso e constante.

 


terça-feira, 18 de junho de 2024

O zagueiro que saiu do ABC para o Madureira (V)

O clube "Carneirinho de Ouro", localizado na Avenida Tavares de Lira, no bairro da Ribeira, sobrevivente da boemia/Foto: Roberto Vital

JOSÉ VANILSON JULIÃO

Após recepção na sede do ABC a ida do terceiro sargento Hamilton Alves do Amaral e companheiros para continuar com comes e bebes no “Clube Carneirinho de Ouro” (Ribeira) é compreensível: o local era reduto de antigos e novos jogadores.

Como João Acioly da Silva (“Cabo João”), o pernambucano Hermes Marques Amorim e o paulista Renato Teixeira da Mota, o “Neném”, com passagens tanto pelo alvinegro como América no final dos anos 20 começo da década seguinte.

A prova vem, mais uma vez, do diário vespertino católico “A Ordem” (sexta-feira, 15/3/1940), quando noticia o amistoso do selecionado da “Liga Suburbana” x “Carneirinho de Ouro”.

Como parte do “festival esportivo” em benefício da Rádio Educadora de Natal, do famoso acrônimo REN, que anos depois passa a “Poti”, ao ser comprada pelo jornalista paraibano Francisco de Assis Chateuabriand Bandeira de Melo, para a cadeia Associada.

O “scratch” suburbano conta, entre outros, com os seguintes jogadores: Correia, Xixirra, Taperoá, Cesário, alguns com passagens pelo ABC e América, e “Geleia” (Geraldo Pereira de Lima), futuro treinador do Alecrim nos anos 50/60.

O “team” do “Carneirinho”: Zé Maria, o zagueiro Manoel Nascimento (“Nezinho”), o atacante cearense e artilheiro abecedista vindo do Fortaleza, Francisco Rodrigues(“Xixico”), Hermes Amorim e Cabo João.

No domingo (17) deu “Carneirinho” 2 x 0 “Liga Suburbana, com gols de Geraldo, o “Geleia” (primeiro tempo) e Renato Teixeira da Mota, o “Neném”, na etapa complementar.

 

Fontes 

A Ordem

Diário de Natal

O Poti

Tribuna do Norte

Canindé Soares

Natal das Antigas

Papo Cultura

Típico Local