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quinta-feira, 25 de maio de 2023

Jogador do ABC participa da fundação do Treze (II)

A carta aberta que provoca descoberta inédita (“Diário de Natal”, terça-feira, 27/8/1959)

“INGRATIDÃO”

Escreve José Rodolfo de Lima, ex-crack do A.B.C. de 1922 a 1934

“À valorosa e incentiva torcida do Alvinegro e ao povo esportivo da minha Terra:

É revoltante, triste e doloroso, o desprezo dado pela atual diretoria do ABC aos seus velhos craques, aqueles com que amor, desprendimento e sacrifício de corpo e alma, se empenhavam nas lutas pebolísticas do passado (quando não se jogava por dinheiro nem era mascarado), mantendo as tradições do velho e querido ABC e erguendo bem o alto o seu nome, que, como muito orgulho vemo-lo hoje, ocupando uma posição destacada no mundo esportivo de nossa terra, figurando no livro de ouro esportiva do R. G. do Norte.

A estes velhos craques a diretoria atual do society abecedista, em sinal de reconhecimento e gratidão, deu-lhes como prêmio único o desprezo e o esquecimento pelas inúmeras vitórias que, com sacrifício, alma, sangue e com todo o vigor das suas energias moças, souberam conquistar no estado e além fronteiras, elevando bem alto o nome do clube e mantendo assim para a posteridade as suas tradições.

E a estes velhos e denodados, que hoje, o clube em sinal de gratidão e reconhecimento, lhe fecham as portas, privando-lhes de um direito adquirido, direito este que é conferido como prêmio de reconhecimento e gratidão aos velhos craques do mundo inteiro (menos ao dos ABC).

A minha revolta e a minha decepção seriam muito maior ainda, se sobrevivessem os meus velhos amigos e companheiros do meu tempo, que comigo, defenderam, ombro a ombro, peito a peito, por tantos anos, a bandeira alvinegra do nosso glorioso ABC como verdadeiro amor e abnegação: NEZINHO, XIXICO, DORCELINO, MIGAS, ADALBERTO, PÉ DE OURO, que, graças a Deus, estão no outro mundo, mais felizes do que eu, pois não estão sorvendo como eu e meus companheiros que sobrevivem a taça amarga da decepção, do desprezo, da injustiça e da ingratidão.

Os outros clubes esportivos, notadamente o América Futebol Clube, que hoje e um dos expoentes do society natalense, possui o seu quadro de remidos e beneméritos, premiando aqueles cuja vida esportiva foi dedicada ao engrandecimento e ás glórias de sua bandeira.

Enquanto isso, nós outros, que tivemos a nossa atuação espontânea e eficiente no destino do Alvinegro, fomos premiados com a ingratidão e o esquecimentos, e atirados à vala comum como indesejáveis (eis o nosso prêmio).

Não pensem os diretores do ABC que nos humilham com o desprezo, pelo contrário, nos enaltecem!!!

Todavia, para meu gáudio e conforto moral, acabo de receber um ofício do senhor Antônio Fernandes Bióca, da diretoria do “13” de Campina Grande, em cujo quadro principal atuei durante cinco anos apenas, solicitando-me o envio de três fotografias afim de me ser concedida a caderneta de sócio benemérito, em proposta que mereceu o apoio unanime da assembleia geral do Galo da Borborema, cujo documento tenho em meu poder, com muito carinho e orgulho.

Não quero fazer parte do society abecedista, mesmo porque, contento-me junto aos meus velhos companheiros, conservar no meu coração a faixa alvinegra como uma relíquia sagrada do meu amor ao meu velho e querido clube, da minha dedicação, do meu esforço e do meu sacrifício para o seu progresso e grandeza.

Aqui fica o nosso grito de revolta, para o conhecimento e julgamento dos homens dignos de nossa Terra.

 

Natal, 24 de julho de 1959

 

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